Mauro Ferreira no G1

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domingo, 22 de junho de 2014

Vocais dos Demônios da Garoa diluem, em disco, diferenças de sambas

Resenha de CD
Título: Um samba diferente
Artista: Demônios da Garoa
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * *

Uma das mais perfeitas traduções do samba paulista, o conjunto Demônios da Garoa festejou 70 anos de vida em 2013. Evidentemente, a formação atual já é bem distante da original. Contudo, a marca vocal do grupo continua bem delineada em seu álbum Um samba diferente, lançado pela gravadora Biscoito Fino neste mês de junho de 2014. O disco foi gravado em fevereiro, em São Paulo (SP), em produção capitaneada pelos próprios músicos e cantores do conjunto, formado atualmente por Dedé Paraíso (violão de sete cordas), Canhotinho (cavaquinho),  Izael Caldeira da Silva (timba), Ricardo Cassimiro Rosa (pandeiro) e Sérgio Rosa (afoxé). A boa combinação de vozes irmana sambas de diferentes estirpes e estilos. Tais diferenças são diluídas neste disco que flerta com o samba mais contemporâneo rotulado como pagode. E, justiça seja feita, os Demônios da Garoa consegue evidenciar a beleza melódica de Coral de anjos (Dedé do Cavaco, Prateado e Carica) - samba do repertório do grupo de pagode Sensação - com a mesma desenvoltura com que caem no suingue sedutor de Um samba diferente (Jair Gonçalves e Fernando Pires), o samba-título que embute toque de boogie-woogie. Também com (certo) balanço, Ferdinando (Roberto Barbosa) tira onda politicamente incorreta com a opção sexual do gay que batiza o samba e causa desconfianças no morro onde mora. A piada é velha e preconceituosa, mas tem o mérito de evidenciar a verve dos Demônios da Garoa, reiterada em Bêbado mineirim (Wilder Paraízo, Ricardinho e Roberto Barbosa), em Melô do camelô (Canarinho) - samba que faz ligeiras críticas sociais enquanto perfila com humor o comerciante ambulante que vende de perfume a viagra - e em Dá nele, nega (Wilder Paraizo e Carlos Randal). Menos vocacionado para as vozes do quinteto, o samba Vai coração (Alceu Maia e Sarah Benchimol) cai com trivialidade no chororô romântico. Relógio (Bembeco, Elias Gomes e Flavinho Machado) também gira sem grandes inspiração neste disco pelo qual o Trem das onze (Adoniran Barbosa, 1964) passa batido, distante do frescor da emblemática gravação original do grupo. Mais sedutor em sua primeira metade, Um samba diferente também está de olho no lance e apresenta seu Tema da Copa (Zuleica Amaral) sem fazer gol. Enfim, mesmo com o repertório irregular, o disco faz a sua diferença ao evocar com alguma verve e com eventuais acertos o personalíssimo estilo vocal dos resistentes Demônios da Garoa.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Uma das mais perfeitas traduções do samba paulista, o conjunto Demônios da Garoa festejou 70 anos de vida em 2013. Evidentemente, a formação atual já é bem distante da original. Contudo, a marca vocal do grupo continua bem delineada em seu álbum Um samba diferente, lançado pela gravadora Biscoito Fino neste mês de junho de 2014. O disco foi gravado em fevereiro, em São Paulo (SP), em produção capitaneada pelos próprios músicos e cantores do conjunto, formado atualmente por Dedé Paraíso (violão de sete cordas), Canhotinho (cavaquinho), Izael Caldeira da Silva (timba), Ricardo Cassimiro Rosa (pandeiro) e Sérgio Rosa (afoxé). A boa combinação de vozes irmana sambas de diferentes estirpes e estilos. Tais diferenças são diluídas neste disco que flerta com o samba mais contemporâneo rotulado como pagode. E, justiça seja feita, os Demônios da Garoa consegue evidenciar a beleza melódica de Coral de anjos (Dedé do Cavaco, Prateado e Carica) - samba do repertório do grupo de pagode Sensação - com a mesma desenvoltura com que caem no suingue sedutor de Um samba diferente (Jair Gonçalves e Fernando Pires), o samba-título que embute toque de boogie-woogie. Também com (certo) balanço, Ferdinando (Roberto Barbosa) tira onda politicamente incorreta com a opção sexual do gay que batiza o samba e causa desconfianças no morro onde mora. A piada é velha e preconceituosa, mas tem o mérito de evidenciar a verve dos Demônios da Garoa, reiterada em Bêbado mineirim (Wilder Paraízo, Ricardinho e Roberto Barbosa), em Melô do camelô (Canarinho) - samba que faz ligeiras críticas sociais enquanto perfila com humor o comerciante ambulante que vende de perfume a viagra - e em Dá nele, nega (Wilder Paraizo e Carlos Randal). Menos vocacionado para as vozes do quinteto, o samba Vai coração (Alceu Maia e Sarah Benchimol) cai com trivialidade no chororô romântico. Relógio (Bembeco, Elias Gomes e Flavinho Machado) também gira sem grandes inspiração neste disco pelo qual o Trem das onze (Adoniran Barbosa, 1964) passa batido, distante do frescor da emblemática gravação original do grupo. Mais sedutor em sua primeira metade, Um samba diferente também está de olho no lance e apresenta seu Tema da Copa (Zuleica Amaral) sem fazer gol. Enfim, mesmo com o repertório irregular, o disco faz a sua diferença ao evocar com alguma verve e com eventuais acertos o personalíssimo estilo vocal dos resistentes Demônios da Garoa.

Unknown disse...

Adorei o disco dos Demônios da Garoa "Um samba diferente". Justiça seja feita, a faixa 9 com a música "RELÓGIO" é fantástica com um samba dengoso, com uma letra de amor curta e linda e nas vozes maravilhosas desses cantores ímpares.
Abs, Pedro