Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


sábado, 28 de junho de 2014

Dhenni evoca Ney apenas na capa ao mergulhar no rio de Luhli e Lucina

Resenha de CD
Título: Pedra de rio - A obra de Luhli e Lucina
Artista: Dhenni Santos
Gravadora: Mills Records
Cotação: * * * 

Há evidente evocação da persona artística de Ney Matogrosso nas fotos feitas pelo cantor e compositor fluminense Dhenni Santos para a capa e encarte de seu segundo álbum, Pedra de rio, inteiramente dedicado ao cancioneiro de Luhli e Lucina - dupla formada em 1972 e desativada em 1998 pelas cantoras, compositoras e violonistas Heloísa Orosco Borges da Fonseca (a carioca Luli, que alterou seu nome artístico para Luhli  nos anos 1990) e Lúcia Helena Carvalho e Silva (a mato-grossense Lucina, que já foi Lucelena na década de 1960 e que, de 1972 a 1982, era Lucinha). Felizmente, a evocação se resume ao visual fantasioso adotado pelo artista no disco editado neste mês de junho de 2014 pela Mills Records. Dhenni resiste à tentação de soar como cover de Ney, principal intérprete do repertório dessa dupla pioneira na forma independente de fazer discos e também na proposição de novos modelos de família com um casamento a três (com o fotógrafo Luiz Fernando Borges da Fonseca) que ainda hoje causaria polêmica. Afinal, Ney já fez registros impecáveis de músicas como Pedra de rio (Luhli, Lucina e Paulo César, 1975), Aqui e agora (Luhli, 1976), Bandolero (Luhli e Lucina, 1978), Napoleão (Luhli e Lucina, 1980), Coração aprisionado (Luhli e Lucina, 1979 - gravada por Ney em 1980), Eta nóis! (Luhli e Lucina, 1984), Bugre (Luhli e Lucina, 1984 - gravada por Ney no álbum homônimo de 1986) e Chance de Aladim (Luhli, 1999). Trilhando caminhos diversos dos seguidos por Ney, sobretudo em músicas recorrentes como Bugre (em cuja regravação sobressai guitarra cortante) e a faixa-título Pedra de rio, Dhenni Santos dá sua voz grave ao cancioneiro de Luhli e Lucina com personalidade. Pedra de rio propõe mergulho fundo na obra da dupla. Produzido pelo próprio Dhenni Santos, com arranjos divididos entre o violonista Daniel Drummond e o pianista Felipe Radicetti, o CD contabiliza 20 músicas em (longos) 72 minutos e 57 segundos. Embora o repertório tenha sido ordenado sem preocupações cronológicas, Pedra de rio abre com a música que projetou a dupla em 1972 no VII e último Festival Internacional da Canção (FIC) - Flor lilás (Luhli, 1972), que desabrocha com cores vivas - e fecha com a última música da dupla, Ao menos, composta em 1998, mas somente gravada em 2007 por Lucina em seu disco solo A música em mim. Entre uma e outra música, Dehnni Santos apresenta a primeira gravação em disco de composição, Viola de prata (Luhli, Lucina e Joãozinho Gomes), conhecida somente pelos frequentadores dos shows da dupla e ora perpetuada em registro que reúne Luhli e Lucina. Com produção opulenta, o álbum Pedra de rio envolve em cordas e sopros músicas como Regando o mar (Luhli e Alexandre Lemos) e já a mencionada Coração aprisionado. O instrumental valoriza cancioneiro pautado por requinte harmônico e pela diversidade rítmica, em leque estilístico que vai do caipira ao cosmopolita. O arranjo de Choro de viagem (Luhli e Lucina, 1998), por exemplo, segue o roteiro da letra que dá a volta ao mundo, acabando no Brasil e no samba evocado pala percussão de Léo Mucuri. Além de cantar Luhli e Lucina, Dhenni Santos se torna parceiro da das artistas no Samba da risada (feito com as duas compositoras e gravado com Lucina) e em Nunca (música composta com Luhli). Pena que o artista abriu demasiadamente o foco na seleção de repertório. Em vez de se concentrar na produção da dupla, oferecendo recorte mais nítido dessa obra, Dhenni Santos aborda também músicas das trajetórias individuais de Luhli (de quem Dhenni canta a ruralista Escultura, música de 2011) e Lucina (de quem o cantor grava Cometa, parceria com Zélia Duncan). Pedra de rio por vezes se excede no mergulho da obra das compositoras, autoras de cerca de 800 músicas, muitas ainda inéditas. Mas o CD faz emergir a boa sensação de que ainda há muito a descobrir no fundo desse caudaloso rio sonoro.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Há evidente evocação da persona artística de Ney Matogrosso nas fotos feitas pelo cantor e compositor fluminense Dhenni Santos para a capa e encarte de seu segundo álbum, Pedra de rio, inteiramente dedicado ao cancioneiro de Luhli e Lucina - dupla formada em 1972 e desativada em 1998 pelas cantoras, compositoras e violonistas Heloísa Orosco Borges da Fonseca (a carioca Luli, que alterou seu nome artístico para Luhli nos anos 1990) e Lúcia Helena Carvalho e Silva (a mato-grossense Lucina, que já foi Lucelena na década de 1960 e que, de 1972 a 1982, era Lucinha). Felizmente, a evocação se resume ao visual fantasioso adotado pelo artista no disco editado neste mês de junho de 2014 pela Mills Records. Dhenni resiste à tentação de soar como cover de Ney, principal intérprete do repertório dessa dupla pioneira na forma independente de fazer discos e também na proposição de novos modelos de família com um casamento a três (com o fotógrafo Luiz Fernando Borges da Fonseca) que ainda hoje causaria polêmica. Afinal, Ney já fez registros impecáveis de músicas como Pedra de rio (Luhli, Lucina e Paulo César, 1975), Aqui e agora (Luhli, 1976), Bandolero (Luhli e Lucina, 1978), Napoleão (Luhli e Lucina, 1980), Coração aprisionado (Luhli e Lucina, 1979 - gravada por Ney em 1980), Eta nóis! (Luhli e Lucina, 1984), Bugre (Luhli e Lucina, 1984 - gravada por Ney no álbum homônimo de 1986) e Chance de Aladim (Luhli, 1999). Trilhando caminhos diversos dos seguidos por Ney, sobretudo em músicas recorrentes como Bugre (em cuja regravação sobressai guitarra cortante) e a faixa-título Pedra de rio, Dhenni Santos dá sua voz grave ao cancioneiro de Luhli e Lucina com personalidade. Pedra de rio propõe mergulho fundo na obra da dupla. Produzido pelo próprio Dhenni Santos, com arranjos divididos entre o violonista Daniel Drummond e o pianista Felipe Radicetti, o CD contabiliza 20 músicas em (longos) 72 minutos e 57 segundos. Embora o repertório tenha sido ordenado sem preocupações cronológicas, Pedra de rio abre com a música que projetou a dupla em 1972 no VII e último Festival Internacional da Canção (FIC) - Flor lilás (Luhli, 1972), que desabrocha com cores vivas - e fecha com a última música da dupla, Ao menos, composta em 1998, mas somente gravada em 2007 por Lucina em seu disco solo A música em mim. Entre uma e outra música, Dehnni Santos apresenta a primeira gravação em disco de composição, Viola de prata (Luhli, Lucina e Joãozinho Gomes), conhecida somente pelos frequentadores dos shows da dupla e ora perpetuada em registro que reúne Luhli e Lucina. Com produção opulenta, o álbum Pedra de rio envolve em cordas e sopros músicas como Regando o mar (Luhli e Alexandre Lemos) e já a mencionada Coração aprisionado. O instrumental valoriza cancioneiro pautado por requinte harmônico e pela diversidade rítmica, em leque estilístico que vai do caipira ao cosmopolita. O arranjo de Choro de viagem (Luhli e Lucina, 1998), por exemplo, segue o roteiro da letra que dá a volta ao mundo, acabando no Brasil e no samba evocado pala percussão de Léo Mucuri. Além de cantar Luhli e Lucina, Dhenni Santos se torna parceiro da das artistas no Samba da risada (feito com as duas compositoras e gravado com Lucina) e em Nunca (música composta com Luhli). Pena que o artista abriu demasiadamente o foco na seleção de repertório. Em vez de se concentrar na produção da dupla, oferecendo recorte mais nítido dessa obra, Dhenni Santos aborda também músicas das trajetórias individuais de Luhli (de quem Dhenni canta a ruralista Escultura, música de 2011) e Lucina (de quem o cantor grava Cometa, parceria com Zélia Duncan). Pedra de rio por vezes se excede no mergulho da obra das compositoras, autoras de cerca de 800 músicas, muitas ainda inéditas. Mas o CD faz emergir a boa sensação de que ainda há muito a descobrir no fundo desse caudaloso rio sonoro.

Rafael disse...

O cantor Dhenni poderia informar a a relação de compsoitores deste álbum aqui nos comentários? Gostaria de ter acesso a esta informação. Gostei da capa, lembra capas bem trabalhadas do Ney.

maroca disse...

Augusto Flávio (Petrolina-Pe/Juazeiro-Ba)

Mauro, a música "Chance de Aladim" é de 1998 do disco "Olhos de Farol" e não 1999.

Mauro Ferreira disse...

Augusto, o álbum 'Olhos de farol' saiu em 1999, não em 1998. Como você pode conferir no site oficial do Ney Matogrosso. Anyway, grato pelo toque, MauroF

Denilson Santos disse...

Rafael, as músicas em sua grande maioria são de autoria de Luhli e Lucina. Mas, como o Mauro citou, foram incluídas músicas compostas após o fim da dupla, quando elas fizeram parceria com outros compositores.
Assim, há parcerias de Luhli com Alexandre Lemos, de Lucina com Zélia Duncan e de Lucina com Paulinho Mendonça, além de três músicas somente da Luhli, uma parceria das duas com Paulo César e outra com Joãozinho Gomes.
Abração,
Dhenni Santos