Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


terça-feira, 17 de junho de 2014

Chega ao DVD filme que mostra como Bezerra deu voz a vozes do morro

Resenha de DVD
Título: Onde a coruja dorme
Artista: Bezerra da Silva
Gravadora: Coleção Canal Brasil
Cotação: * * * *

A edição em DVD do filme Onde a coruja dorme (Brasil, 2012) - desdobramento do homônimo curta lançado em 2001 - dá acesso nacional a uma das produções mais interessantes do cinema brasileiro. Não se trata de documentário sobre a trajetória do cantor pernambucano Bezerra da Silva (1927 - 2005), mas de filme em que os diretores Marcia Derraik e Simplício Neto mostram como o sambista deu voz a vozes do morro cotidianamente abafadas pela opressão social. "O morro não tem voz", sentencia Bezerra logo na abertura do longa-metragem produzido pela TVZero em parceria com a Antenna e ora editado em DVD na Coleção Canal Brasil. "Eu sou o porta-voz do morro", completa Bezerra. Foi mesmo. Onde a coruja dorme enfatiza a busca do cantor nas favelas do Rio de Janeiro (RJ) e nas comunidades da Baixada Fluminense (RJ) por sambas que traduzissem o cotidiano do morro sob a ótica do oprimido. Só que o grande acerto do filme é pôr o foco sobre esses compositores pouco badalados na mídia. O roteiro costura depoimentos de Bezerra com falas de nomes como Pedro Butina, Tião Miranda e Walmir da Purificação, trabalhadores que fazem samba ao longo da dura jornada profissional. Como ressalta Bezerra, tais compositores fazem parte do povo que pega o trem às quatro ou às cinco da madrugada, com sua marmita, para encarar o batente. Ao dar voz a esses compositores, que falam no filme sobre temas como drogas e política, Onde a coruja dorme acaba revelando os códigos de (sobre)vivência do morro - espaço em que convivem, com a harmonia possível, trabalhadores, traficantes e caguetes. "Não posso cantar o amor quando eu nunca tive. Sou realista", argumenta Bezerra mais ao fim do filme, sinalizando que, no seu universo, pode haver humor, mas não espaço para o romantismo, tragado - ao menos sob a ótica de Bezerra da Silva - pela batalha social do cotidiano. A coruja dorme sem sossego.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

A edição em DVD do filme Onde a coruja dorme (Brasil, 2012) - desdobramento do homônimo curta lançado em 2001 - dá acesso nacional a uma das produções mais interessantes do cinema brasileiro. Não se trata de documentário sobre a trajetória do cantor pernambucano Bezerra da Silva (1927 - 2005), mas de filme em que os diretores Marcia Derraik e Simplício Neto mostram como o sambista deu voz a vozes do morro cotidianamente abafadas pela opressão social. "O morro não tem voz", sentencia Bezerra logo na abertura do longa-metragem produzido pela TVZero em parceria com a Antenna e ora editado em DVD na Coleção Canal Brasil. "Eu sou o porta-voz do morro", completa Bezerra. Foi mesmo. Onde a coruja dorme enfatiza a busca do cantor nas favelas do Rio de Janeiro (RJ) e nas comunidades da Baixada Fluminense (RJ) por sambas que traduzissem o cotidiano do morro sob a ótica do oprimido. Só que o grande acerto do filme é pôr o foco sobre esses compositores pouco badalados na mídia. O roteiro costura depoimentos de Bezerra com falas de nomes como Pedro Butina, Tião Miranda e Walmir da Purificação, trabalhadores que fazem samba ao longo da dura jornada profissional. Como ressalta Bezerra, tais compositores fazem parte do povo que pega o trem às quatro ou às cinco da madrugada, com sua marmita, para encarar o batente. Ao dar voz a esses compositores, que falam no filme sobre temas como drogas e política, Onde a coruja dorme acaba revelando os códigos de (sobre)vivência do morro - espaço em que convivem, com a harmonia possível, trabalhadores, traficantes e caguetes. "Não posso cantar o amor quando eu nunca tive. Sou realista", argumenta Bezerra mais ao fim do filme, sinalizando que, no seu universo, pode haver humor, mas não espaço para o romantismo, tragado - ao menos sob a ótica de Bezerra da Silva - pela batalha social do cotidiano. A coruja dorme sem sossego.