Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Marlene ainda te pega pela palavra e pela musicalidade de disco de 1974

Resenha de reedição de CD
Título: Te Pego Pela Palavra
Artista: Marlene
Gravadora da edição original de 1974: Odeon
Gravadora da reedição de 2012: EMI Music
Cotação: * * * * *

A caminho dos 90 anos, a serem completados em 22 de novembro deste ano de 2012, Marlene é cantora egressa da era dourada do rádio brasileiro e, como tal, teve que se reinventar quando as ondas da Rádio Nacional começaram a soprar com menos força pelo Brasil. Te Pego Pela Palavra - o disco de 1974, ora reposto em catálogo em edição em CD idealizada e produzida com zelo pelo pesquisador musical Rodrigo Faour - é o ápice dessa reinvenção. O disco registra em estúdio o show dirigido e roteirizado por Hermínio Bello de Carvalho com certa influência dos espetáculos teatrais encenados com sucesso por Maria Bethânia naquela época. Mas Marlene - cantora que se provou boa atriz - soube se desvincular da matriz para imprimir sua personalidade musical neste show captado com a presença de convidados no estúdio. A calorosa gravação originou um grande disco, que fez convergir todos os caminhos musicais que levavam ao canto teatral desta intérprete paulista nascida Victoria Bonaiutti de Martino em 1922. A animada Marlene dos antigos Carnavais, por exemplo, de certa forma revivia no esfuziante medley que juntava Primeira Bateria (Taiguara) e Bloco do Dodô Crioulo (Nilton Paz e Yvone Rebello). Mas Te Pego Pela Palavra - show que estreou em junho de 1974 e permaneceu em cartaz até 1978 com retumbante sucesso de público e crítica - não fugia à luta daqueles tempos repressores. Várias músicas do roteiro faziam alusões de forma mais ou menos explícita à situação política do Brasil. Se Canção do Medo (Toquinho e Gianfrancesco Guarnieri) captava o clima paranoico da época, o (ótimo e esquecido) samba Resistindo - de João Bosco e Aldir Blanc, compositores predominantes no roteiro pontuado por tensões - dava seu recado de forma até clara. O canto teatral de Marlene é a alma do disco, mas a gravação (ainda) pega o ouvinte pela refinada musicalidade dos arranjos de Arhtur Verocai. Aliados à força da cantora, então no auge da forma vocal aos 51 anos, os arranjos de Verocai revitalizam o samba-canção Ronda (Paulo Vanzolini), a embolada Pra Onde Vai, Valente? (Manezinho Araújo) - exemplo da habilidade da intérprete de adotar canto veloz sem se deixar atropelar pelas palavras - e Ponta de Areia (Milton Nascimento e Fernando Brant), alçada ao alto em grandiosa orquestração épica de tom barroco. Já Cabra Cega (Sarah Benchimol e Tony Bahia) é valorizada pelo canto quase falado de Marlene, quase um pré-rap. Acima de estilos, Te Pego Pela Palavra conectou sua intérprete a alguns dos melhores compositores da MPB dos anos 70. E Marlene aproveitou todas as conexões, cantando Rock'n'Roll (Vital Lima), se ajustando a Roupa Prateada (Zé Rodrix) e tomando Galope (Gonzaguinha) definitivamente para si. E o fato é que, decorridos 38 anos de seu lançamento, a obra-prima da discografia da cantora ainda pega tanto pela palavra teatral de Marlene quanto pela música vigorosa do disco.

10 comentários:

Mauro Ferreira disse...

A caminho dos 90 anos, a serem completados em 22 de novembro deste ano de 2012, Marlene é cantora egressa da era dourada do rádio brasileiro e, como tal, teve que se reinventar quando as ondas da Rádio Nacional começaram a soprar com menos força pelo Brasil. Te Pego Pela Palavra - o disco de 1974, ora reposto em catálogo em edição em CD idealizada e produzida com zelo pelo pesquisador musical Rodrigo Faour - é o ápice dessa reinvenção. O disco registra em estúdio o show dirigido e roteirizado por Hermínio Bello de Carvalho com certa influência dos espetáculos teatrais encenados com sucesso por Maria Bethânia naquela época. Mas Marlene - cantora que se provou boa atriz - soube se desvincular da matriz para imprimir sua personalidade musical neste show captado com a presença de convidados no estúdio. A calorosa gravação originou um grande disco, que fez convergir todos os caminhos musicais que levavam ao canto teatral desta intérprete paulista nascida Victoria Bonaiutti de Martino em 1922. A animada Marlene dos antigos Carnavais, por exemplo, de certa forma revivia no esfuziante medley que juntava Primeira Bateria (Taiguara) e Bloco do Dodô Crioulo (Nilton Paz e Yvone Rebello). Mas Te Pego Pela Palavra - show que estreou em junho de 1974 e permaneceu em cartaz até 1978 com retumbante sucesso de público e crítica - não fugia à luta daqueles tempos repressores. Várias músicas do roteiro faziam alusões de forma mais ou menos explícita à situação política do Brasil. Se Canção do Medo (Toquinho e Gianfrancesco Guarnieri) captava o clima paranoico da época, o (ótimo e esquecido) samba Resistindo - de João Bosco e Aldir Blanc, compositores predominantes no roteiro pontuado por tensões - dava seu recado de forma até clara. O canto teatral de Marlene é a alma do disco, mas a gravação (ainda) pega o ouvinte pela refinada musicalidade dos arranjos de Arhtur Verocai. Aliados à força da cantora, então no auge da forma vocal aos 51 anos, os arranjos de Verocai revitalizam o samba-canção Ronda (Paulo Vanzolini), a embolada Pra Onde Vai, Valente? (Manezinho Araújo) - exemplo da habilidade da intérprete de adotar canto veloz sem se deixar atropelar pelas palavras - e Ponta de Areia (Milton Nascimento e Fernando Brant), alçada ao alto em grandiosa orquestração épica de tom barroco. Já Cabra Cega (Sarah Benchimol e Tony Bahia) é valorizada pelo canto quase falado de Marlene, quase um pré-rap. Acima de estilos, Te Pego Pela Palavra conectou sua intérprete a alguns dos melhores compositores da MPB dos anos 70. E Marlene aproveitou todas as conexões, cantando Rock'n'Roll (Vital Lima), se ajustando a Roupa Prateada (Zé Rodrix) e tomando Galope (Gonzaguinha) definitivamente para si. E o fato é que, decorridos 38 anos de seu lançamento, a obra-prima da discografia da cantora ainda pega tanto pela palavra teatral de Marlene quanto pela música vigorosa do disco.

Rafael disse...

Ótima notícia saber que esse raríssimo e excelente disco dela será relançado. Bem que poderiam aproveitar a oportunidade e a gravadora lançar um novo disco da cantora. Salve Marlene!!!

ouisa55 disse...

Concordo em gênero, número e grau! Te pego pela palavra é um dos discos da minha vida. Canto de trás prá frente junto. Quem quiser ouvir atualíssimo e de excelente qualidade, corra e compre. Vais ver o que bom de fato, meu bom ! Depois não diga que eu não avisei!

Luca disse...

Nunca ouvi esse disco mas se tem Marlene e arranjos do Verocai só pode ser bom mesmo. Verocai é um gênio.

EDELWEISS1948 disse...

BELO LANÇAMENTO EM CD. MARLENE MERECE. RODRIGO FAOUR ESTA DE PARABÉNS

Tombom disse...

Salve Marlene! Cantora-intérprete das maiores desse Brasil pleno de cantoras que pipocam por aí em busca de reconhecimento e voz própria... mas pouquíssimas tiveram (ou têm hoje) a "habilidade da intérprete de adotar canto veloz sem se deixar atropelar pelas palavras"... Belo relançamento.

KL disse...

sensacional!

Nelson Rial disse...

Um CD maravilhoso em que a grande Marlene mostra ao público toda a sua versatilidade de excelente cantora e grande atriz! Imperdível !!!!!!Nelson

Unknown disse...

Mauro, primeiramente parabéns pelo excelente trabalho em prol da Música, em suas mais variadas vertentes.
Gostaria de esclarecer que a Marlene nasceu de 1924, portanto ela só completará 90 anos em 2014.
Sucesso, sempre,no trabalho. A música, agradece.
Abraços
Laura Macedo

Unknown disse...

Mauro, primeiramente parabéns pelo excelente trabalho em prol da Música, em suas mais variadas vertentes.
Gostaria de esclarecer que a Marlene nasceu de 1924, portanto ela só completará 90 anos em 2014. Sucesso, sempre, no trabalho. A música agradece.
Abraços
Laura Macedo