Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Com Liminha, Paralamas revivem virada histórica do álbum 'Selvagem?'

Resenha de Show
Evento: Projeto Álbum
Título: Selvagem?
Artista: Paralamas do Sucesso (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Sesc Belenzinho (São Paulo, SP)
Data: 2 de julho de 2011
Cotação: * * * * 1/2

Ver e ouvir Os Paralamas do Sucesso tocando ao vivo o repertório de Selvagem? - o disco de 1986 que representou virada histórica na trajetória do trio e do próprio rock brasileiro, até então pouco receptivo à troca de informações com a música brasileira - suscita reflexões curiosas. A primeira é a de que Selvagem? definiu para valer a sonoridade que nortearia a carreira do grupo ao longo dos últimos 25 anos. A ponto de o azeitado show da banda no Projeto Álbum - idealizado pelo Sesc Belenzinho de São Paulo (SP) - ter reiterado a coerência dos Paralamas a partir deste disco que levou Herbert Vianna (voz e guitarra), Bi Ribeiro (baixo) e João Barone (bateria) à praia do reggae e que adensou o pop rock do grupo com letras politizadas. Quando o trio terminou de tocar as dez músicas de Selvagem? e começou a enfileirar sucessos de outros álbuns e fases, tudo fez sentido. Ficou evidente a coerência que pautou toda a discografia do grupo, ora de tons mais ensolarados, ora de tons mais sombrios, mas sempre em sintonia com os cânones estabelecidos no álbum de 1986. Outra reflexão extrapola a seara musical. Ver e ouvir Os Paralamas do Sucesso rebobinando as músicas dessa obra-prima do rock brasileiro na companhia da guitarra de Liminha - o produtor que formatou o som de Selvagem? e, portanto, também merece crédito por tudo o que o disco representa - é quase inacreditável para quem sabe que, em algum momento desses 25 anos, os Paralamas do Sucesso tiveram que se reinventar por conta do acidente que quase tirou a vida de Herbert em 2001. Pois ali, no palco da comedoria do Sesc Belenzinho, pareceu que o tempo não havia passado. Pareceu também que a voz de Herbert até ganhou mais vigor desde que o trio entrou em cena e abriu o roteiro com a música que deu nome ao disco, Selvagem (Bi Ribeiro, João Barone e Herbert Vianna) - com direito à citação de Polícia (Toni Bellotto), um dos petardos disparados pelos Titãs em outro álbum emblemático de 1986, Cabeça Dinossauro. "A gente está tentando tocar estas músicas com arranjo bem próximo do original", avisou Barone para a plateia que recebeu bem o reggae Teerã (Bi Ribeiro, João Barone e Herbert Vianna), mas começou a se esbaldar mesmo em A Novidade (Bi Ribeiro, João Barone, Gilberto Gil e Herbert Vianna), tema letrado por Gil no estúdio Nas Nuvens que acabou virando um dos hits radiofônicos do disco. A Melô do Marinheiro (Bi Ribeiro e João Barone) se encarregou de manter alta a  temperatura do show, sendo devidamente seguida pelo tema Marujo Dub (Bi Ribeiro e João Barone) - número em que se destacou João Fera, o tecladista que, como ressaltou Herbert em cena, se juntou aos Paralamas na época de Selvagem?.  Seguiram-se três lados BA Dama e o Vagabundo (Bi Ribeiro e Herbert Vianna), There's a Party (Herbert Vianna) e O Homem (Bi Ribeiro e Herbert Vianna) - que preparam o clima apoteótico do fim do set do álbum, encerrado com Você (o cover de Tim Maia que a plateia acompanhou em coro) e com o megahit Alagados (Bi Ribeiro, Herbert Vianna e João Barone), tema ainda arrebatador que sintetizou a expansão do som dos Paralamas do Sucesso em Selvagem? com as conexões Brasil-África-Jamaica. Terminou com Alagados (cujo excelente arranjo original não foi  reproduzido com exatidão no palco do Sesc Belenzinho) a primeira e mais relevante parte de histórico show feito pelo trio com a adesão do percussionista James Müller - tocando o que no disco foi feito por Marçalzinho - e dos metaleiros Bidu Cordeiro (trombone) e Monteiro Jr. (sax e trompete). Decorridos 25 anos do lançamento deste álbum que livrou definitivamente o trio carioca  das acusações (injustas) de ser mera cópia nativa do trio inglês The Police, Selvagem? continua moderno, sedutor e relevante - tal como o som dos Paralamas do Sucesso.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Ver e ouvir Os Paralamas do Sucesso tocando ao vivo o repertório de Selvagem? - o disco de 1986 que representou virada histórica na trajetória do trio e do próprio rock brasileiro, até então pouco receptivo à troca de informações com a música brasileira - suscita reflexões curiosas. A primeira é a de que Selvagem? definiu para valer a sonoridade que nortearia a carreira do grupo ao longo dos últimos 25 anos. A ponto de o azeitado show da banda no Projeto Álbum - idealizado pelo Sesc Belenzinho de São Paulo (SP) - ter reiterado a coerência dos Paralamas a partir deste disco que levou Herbert Vianna (voz e guitarra), Bi Ribeiro (baixo) e João Barone (bateria) à praia do reggae e que adensou o pop rock do grupo com letras politizadas. Quando o trio terminou de tocar as dez músicas de Selvagem? e começou a enfileirar sucessos de outros álbuns e fases, tudo fez sentido. Ficou evidente a coerência que pautou toda a discografia do grupo, ora de tons mais ensolarados, ora de tons mais sombrios, mas sempre em sintonia com os cânones estabelecidos no álbum de 1986. Outra reflexão extrapola a seara musical. Ver e ouvir Os Paralamas do Sucesso rebobinando as músicas dessa obra-prima do rock brasileiro na companhia da guitarra de Liminha - o produtor que formatou o som de Selvagem? e, portanto, também merece crédito por tudo o que o disco representa - é quase inacreditável para quem sabe que, em algum momento desses 25 anos, os Paralamas do Sucesso tiveram que se reinventar por conta do acidente que quase tirou a vida de Herbert em 2001. Pois ali, no palco da comedoria do Sesc Belenzinho, pareceu que o tempo não havia passado. Pareceu também que a voz de Herbert até ganhou mais vigor desde que o trio entrou em cena e abriu o roteiro com a música que deu nome ao disco, Selvagem (Bi Ribeiro, João Barone e Herbert Vianna) - com direito à citação de Polícia (Toni Bellotto), um dos petardos disparados pelos Titãs em outro álbum emblemático de 1986, Cabeça Dinossauro. "A gente está tentando tocar estas músicas com arranjo bem próximo do original", avisou Barone para a plateia que recebeu bem o reggae Teerã (Bi Ribeiro, João Barone e Herbert Vianna), mas começou a se esbaldar mesmo em A Novidade (Bi Ribeiro, João Barone, Gilberto Gil e Herbert Vianna), tema letrado por Gil no estúdio Nas Nuvens que acabou virando um dos hits radiofônicos do disco. A Melô do Marinheiro (Bi Ribeiro e João Barone) se encarregou de manter alta a temperatura do show, sendo devidamente seguida pelo tema Marujo Dub (Bi Ribeiro e João Barone) - número em que se destacou João Fera, o tecladista que, como ressaltou Herbert em cena, se juntou aos Paralamas na época de Selvagem?. Seguiram-se três lados B - A Dama e o Vagabundo (Bi Ribeiro e Herbert Vianna), There's a Party (Herbert Vianna) e O Homem (Bi Ribeiro e Herbert Vianna) - que preparam o clima apoteótico do fim do set do álbum, encerrado com Você (o cover de Tim Maia que a plateia acompanhou em coro) e com o megahit Alagados (Bi Ribeiro, Herbert Vianna e João Barone), tema ainda arrebatador que sintetizou a expansão do som dos Paralamas do Sucesso em Selvagem? com as conexões Brasil-África-Jamaica. Terminou com Alagados a primeira e mais relevante parte de histórico show feito pelo trio com a adesão do percussionista James Müller - tocando o que no disco foi feito por Marçalzinho - e dos metaleiros Bidu Cordeiro (trombone) e Monteiro Jr. (sax e trompete). Decorridos 25 anos do lançamento deste álbum que livrou definitivamente o trio carioca das acusações (injustas) de ser mera cópia nativa do trio inglês The Police, Selvagem? continua moderno, sedutor e relevante - tal como o som dos Paralamas do Sucesso.

Diogo Santos disse...

Só não entendi o motivo de ****1/2 e não *****

Felipe dos Santos disse...

Eu já comentei há uns posts abaixo: como não fui ao show, fiquei chupando o dedo ("plena Nova Iorque, que saudade da comidinha lá de casa"... não resisti à citação - risos).

E fiquei sem saber duas coisas: como foi para eles voltarem ao arranjo original de "Alagados", e se, em "Selvagem", Barone reproduziu alguns efeitos da versão do disco, como o da bateria Simmons que acompanha o riff inicial de Herbert na introdução, e o dos gongos que permeiam a música.

No mais, é isso: "Selvagem?" permanece histórico.

E eu concordo em termos com Mauro. O acidente com Herbert atrapalhou algumas coisas. Considero, por exemplo, que a consequência cultural mais deletéria dele foi ter interrompido a alta maturidade que o cantor/guitarrista vivia nas composições, ali por 2000, 2001.

Mas é como diz Bi Ribeiro, emulado por Mauro: no geral, mudou pouco, ou nada. Herbert continua lá, vivo, tocando sua guitarra, cantando, sendo a figura de proa d'Os PdS. Com composições mais frágeis, é verdade. Mas quem garante que sem acidente não seria assim, também?

Felipe dos Santos Souza

Anônimo disse...

Concordo com quase tudo, Mauro.
Só não concordo que as críticas por serem cópia do Police eram injustas.
Justamente por isso acho o Selvagem? o mais importante disco deles.
Foi um passo de gigante à frente.
Assim como o Cabeça foi para os Titãs.
Viraram gente grande.

Luca disse...

Acho o Mauro as vezes incoerente com essas cotaçoes, mas quem disse que ****1/2 tem que ser sempre *****? Mania de se apegar a coisas pequenas...