Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Alaíde suporta o peso de suas canções de fossa no primeiro disco autoral

Resenha de CD
Título: Canções de Alaíde
Artista: Alaíde Costa
Gravadora: Nova Estação
Cotação: * * *

 Embora o canto refinado de Alaíde Costa também seja associado ao universo da Bossa Nova, a artista carioca não costuma cantar tão suavemente como afirma o título do álbum que lançou em 1960, no início da carreira iniciada de forma profissional em 1954. A caminho dos 79 anos de vida, a serem completados em 8 de dezembro de 2014, Alaíde é cantora habilitada a transitar por repertório denso, mais de fossa do que de bossa, exemplificado por Tempo calado (Alaíde Costa e Paulo Alberto Ventura, 1976), canção cuja letra versa sobre amor ausente e desejo abafado, temas recorrentes na obra da artista. É com essa habilidade que a cantora suporta o peso de sua produção autoral como compositora, concentrada no álbum Canções de Alaíde, produzido por Thiago Marques Luiz para sua gravadora Nova Estação. "Eu vou sofrer, eu vou chorar / Minha tristeza até morrer", avisa através dos versos finais de Afinal (Alaíde Costa), música que abriu e batizou álbum lançado pela cantora em 1963. Afinal e Tempo calado reaparecem entre as 14 músicas de Canções de Alaíde, primeiro álbum inteiramente autoral da artista, lançado no ano em que a cantora completa seis décadas de atividade profissional. Compositora desde os 17 anos, com parceria com Antonio Carlos Jobim (1924 - 1997) (Você é amor) no currículo autoral, Alaíde sempre registrou suas músicas em sua discografia. Em seu primeiro disco, um 78 rotações por minuto editado em 1956 pela gravadora Mocambo, a cantora já deu voz à compositora, gravando Tens que pagar, música que assinou em parceria com Aírton Amorim. Mas o fato é que a cantora sempre ofuscou a compositora, cuja obra foi gravada de forma dispersa. Por isso, Canções de Alaíde tem valor documental por reunir a parte mais expressiva dessa produção autoral, entrelaçando músicas inéditas em disco - caso de Qual a palavra? (Alaíde Costa) - com os títulos já (razoavelmente) conhecidos dessa obra autoral. As canções de Alaíde são geralmente sombrias, feitas com melodias tristes, como reitera verso de Ternura (Alaíde Costa e Geraldo Julião), música unida no álbum a Cadarços, parceria de Alaíde com Hermínio Bello de Carvalho lançada em 1980 em álbum dedicado por Alaíde ao cancioneiro de Hermínio. A união das músicas é feita em medley gravado com o piano preciso de Gilson Peranzzetta. O pianista bisa sua participação na última música do disco, Amigo amado, bonita canção que evidencia a influência da música clássica na arquitetura do cancioneiro de Alaíde, habitualmente composto ao piano. Música gravada por Alaíde em 1973, em disco dividido com Oscar Castro Neves (1940 - 2013), Amigo amado é parceria da artista com Vinicius de Moraes (1913 - 1980). Com o poeta, a compositora também assina Tudo o que é meu, samba-canção lançado por Alaíde em compacto de 1964 e reavivado em Canções de Alaíde com arranjo de Giba Estebez. Entre tantas magoadas canções de fossa, como Choro (Alaíde Costa), é justo ressaltar que Apesar de tudo (Alaíde Costa e João Magalhães) se diferencia no álbum por vislumbrar a luz no fim do túnel da desilusão amorosa, mesmo com melodia meio melancólica que contrasta com o positivismo entranhado em seus versos. Nesse sentido, Banzo (Alaíde Costa e José Márcio Pereira) - música gravada por Alaíde em dueto com Adyel Silva - sintoniza melodia e letra de forma mais fina ao versar sobre amor inter-racial que evoca o tempo da escravidão. Já Canção do breve amor, parceria de Alaíde com Geraldo Vandré, volta a falar de saudade, ausência e tristeza. Temas que somente uma cantora de peso, como Alaíde Costa, pode suportar sem sair do tom.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Embora o canto refinado de Alaíde Costa também seja associado ao universo da Bossa Nova, a artista carioca não costuma cantar tão suavemente como afirma o título do álbum que lançou em 1960, no início da carreira iniciada de forma profissional em 1954. A caminho dos 79 anos de vida, a serem completados em 8 de dezembro de 2014, Alaíde é cantora habilitada a transitar por repertório denso, mais de fossa do que de bossa, exemplificado por Tempo calado (Alaíde Costa e Paulo Alberto Ventura, 1976), canção cuja letra versa sobre amor ausente e desejo abafado, temas recorrentes na obra da artista. É com essa habilidade que a cantora suporta o peso de sua produção autoral como compositora, concentrada no álbum Canções de Alaíde, produzido por Thiago Marques Luiz para sua gravadora Nova Estação. "Eu vou sofrer, eu vou chorar / Minha tristeza até morrer", avisa através dos versos finais de Afinal (Alaíde Costa), música que abriu e batizou álbum lançado pela cantora em 1963. Afinal e Tempo calado reaparecem entre as 14 músicas de Canções de Alaíde, primeiro álbum inteiramente autoral da artista, lançado no ano em que a cantora completa seis décadas de atividade profissional. Compositora desde os 17 anos, com parceria com Antonio Carlos Jobim (1924 - 1997) (Você é amor) no currículo autoral, Alaíde sempre registrou suas músicas em sua discografia. Em seu primeiro disco, um 78 rotações por minuto editado em 1956 pela gravadora Mocambo, a cantora já deu voz à compositora, gravando Tens que pagar, música que assinou em parceria com Aírton Amorim. Mas o fato é que a cantora sempre ofuscou a compositora, cuja obra foi gravada de forma dispersa. Por isso, Canções de Alaíde tem valor documental por reunir a parte mais expressiva dessa produção autoral, entrelaçando músicas inéditas em disco - caso de Qual a palavra? (Alaíde Costa) - com os títulos já (razoavelmente) conhecidos dessa obra autoral. As canções de Alaíde são geralmente sombrias, feitas com melodias tristes, como reitera verso de Ternura (Alaíde Costa e Geraldo Julião), música unida no álbum a Cadarços, parceria de Alaíde com Hermínio Bello de Carvalho lançada em 1980 em álbum dedicado por Alaíde ao cancioneiro de Hermínio. A união das músicas é feita em medley gravado com o piano preciso de Gilson Peranzzetta. O pianista bisa sua participação na última música do disco, Amigo amado, bonita canção que evidencia a influência da música clássica na arquitetura do cancioneiro de Alaíde, habitualmente composto ao piano. Música gravada por Alaíde em 1973, em disco dividido com Oscar Castro Neves (1940 - 2013), Amigo amado é parceria da artista com Vinicius de Moraes (1913 - 1980). Com o poeta, a compositora também assina Tudo o que é meu, samba-canção lançado por Alaíde em compacto de 1964 e reavivado em Canções de Alaíde com arranjo de Giba Estebez. Entre tantas magoadas canções de fossa, como Choro (Alaíde Costa), é justo ressaltar que Apesar de tudo (Alaíde Costa e João Magalhães) se diferencia no álbum por vislumbrar a luz no fim do túnel da desilusão amorosa, mesmo com melodia meio melancólica que contrasta com o positivismo entranhado em seus versos. Nesse sentido, Banzo (Alaíde Costa e José Márcio Pereira) - música gravada por Alaíde em dueto com Adyel Silva - sintoniza melodia e letra de forma mais fina ao versar sobre amor inter-racial que evoca o tempo da escravidão. Já Canção do breve amor, parceria de Alaíde com Geraldo Vandré, volta a falar de saudade, ausência e tristeza. Temas que somente uma cantora de peso, como Alaíde Costa, pode suportar sem sair do tom.

Luca disse...

disco desnecessário, alaíde já gravou essas músicas antes, cadê o disco do clube da esquina?

Clovis Cordeiro da Silva disse...

Trabalho digno de uma DIVA.Está lindo.Não me canso de ouvir.Parabéns Alaide e a todos que trabalharam para que essa obra surgisse.
Clovis Cordeiro da Silva.
Curitiba-Pr.

Unknown disse...

Olá, Mauro! Por gentileza, onde posso adquirir o álbum "Canções de Alaíde", de Alaíde Costa? Não encontrei nos sites das livrarias Cultura e Saraiva. Obrigado!

Mauro Ferreira disse...

Jefferson, a edição do disco é da gravadora Nova Estação. Mas quem distribui o CD nas lojas é a Eldorado / Novo Disc. E, a julgar por lançamentos anteriores do selo, a distribuição é demorada. Contudo, o disco vai chegar nas lojas, mais cedo ou mais tarde. Abs, grato pela participação, Mauro Ferreira.