Mauro Ferreira no G1

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domingo, 26 de outubro de 2014

Em cena, Soraya e LiberTango irmanam paixões brasileiras e 'hermanas'

Resenha de show
Título: LiberTango & Soraya Ravenle
Artistas: LiberTango & Soraya Ravenle (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Theatro Net Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 20 de outubro de 2014
Cotação: * * * 1/2

"O corpo canta, o sangue uiva (...), o homem escuta". Nas vozes da cantora Soraya Ravenle e da pianista Estela Caldi, as palavras do livro Romance do desterro (1926), do escritor espanhol Miguel de Unamuno (1864 - 1936),  abrem o show feito por Ravenle com o trio carioca LiberTango e traduzem o espírito deste recital centrado no tango. Em cena, as paixões do ritmo portenho se irmanam com o tom passional de músicas de compositores brasileiros, criadores de canções tão dramáticas quanto os melhores tango argentino. No fecho do bis desse show nascido de convite do grupo para a cantora participar do Festival internacional de tango produzido pelo Centro Cultural do Banco do Brasil em 2013, o samba-canção Nunca (Lupicínio Rodrigues, 1952), por exemplo, é apresentado nesse universo de tintas fortes com certa naturalidade. Já a inserção de Cristal lilás (Maurício Carrilho e Paulo César Pinheiro, 2011), samba que Ravenle já havia transformado em tango em seu álbum Arco do tempo (Biscoito Fino, 2011), soa totalmente natural. Cantora projetada nos palcos dos musicais de teatro encenados no Rio de Janeiro (RJ), Ravenle é intérprete segura, capaz de realçar a dramaticidade entranhada na alma de tangos como Los pájaros perdidos (Astor Piazzolla e Mario Trejo,1947). Sua interpretação do tango Por una cabeza (Carlos Gardel e Alfredo le Pera, 1935), ao fim do show, por exemplo, é digna dos melhores registros desse standard do gênero. Já o LiberTango - trio formado pela pianista Estela Caldi com seus filhos Alexandre Caldi (saxofone e flautas) e Marcelo Caldi (acordeom e piano) - vem se destacando pela maestria exemplar com que tem investido no repertório hermano, sobretudo no cancioneiro emblemático do bandoneonista e compositor argentino Astor Piazzolla (1921 - 1992), nome recorrente no roteiro, sobretudo na parte instrumental do show, quando o grupo fica em cena sem Ravenle. Nesse bloco instrumental, Años de soledad (Astor Piazzolla, 1974) se diferencia por ser tema moldado para saxofone. Há também a lembrança de Ernesto Nazareth (1863 - 1934), compositor carioca que criou, nos primeiros anos do século XX, estilo genérico de música rotulada como tango brasileiro. De Nazareth, o LiberTango toca Nove de julho (1917). Na parte vocal, o dueto de Soraya com Estela Caldi em El coranzón al sur (Eladia Blázquez, 1976) prima pela harmonia. Já a abordagem de Rosa dos ventos (Chico Buarque, 1971) soa quase forçada, em que pese a intensidade dos versos da canção associada à voz dramática de Maria Bethânia. Entre textos divididos com os integrantes do LiberTango, Ravenle expõe a relação do tango com a música judaica, dando voz na sequência a dois temas do cancioneiro judaico, Gey ich mir shpatzirn e a popular Balalaika. De todo modo, é quando revivem tangos argentinos, a sós ou juntos, que Ravenle e o LiberTango mais se afinam neste show dramático.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

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