Mauro Ferreira no G1

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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Falante e 'sincerona', Tiê escapa do intimismo nu e cru no show 'Esmeraldas'

Resenha de show
Título: Esmeraldas 
Artista: Tiê (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Theatro Net Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 22 de outubro de 2014
Cotação: * * * 1/2

No palco do Theatro Net Rio, onde apresentou seu show Esmeraldas no Rio de Janeiro (RJ), Tiê se referiu ao seu primeiro álbum, Sweet jardim (Independente, 2009), como "cru, íntimo e sincerão". Na apresentação feita para convidados e fãs cariocas em 22 de outubro de 2014, a cantora e compositora paulistana mostrou que, tal como no seu recém-lançado e opulento CD Esmeraldas (Warner Music, 2014), consegue escapar desse intimismo cru em cena povoada por big-band. Cordas e metais encorpam músicas como Meia hora (Tiê e André Whoong, 2014) e Vou atrás (Tiê e André Whoong, 2014) com arranjos polifônicos. Com todas as 12 músicas do terceiro álbum da artista no roteiro de apenas 16 números, o show cumpriu bem a função de reproduzir no palco a riqueza de timbres do disco produzido entre Brasil e Estados Unidos por Adriano Cintra e Jesse Harris. Tiê, inclusive, fez bem sua parte, cantando com naturalidade - perceptível já na abertura do show, quando a artista entoa a capella a primeira parte da balada Gold fish (Tiê e Flávio Juliano, 2007) - e experimentando tons agudos de sua voz doce. Destaque do repertório do disco, o rock Mínimo maravilhoso (Tiê e Vitor Stainberg, 2014) exemplificou ao vivo a habilidade de Tiê para pavimentar outras trilhas em sua discografia sem perda da inspiração. O problema da estreia carioca do show residiu mais na postura da cantora em cena. Talvez para espantar o nervosismo de estar estreando em cidade que não é sua, e na qual seu público é visivelmente mais reduzido, Tiê falou demais. Algumas de suas tiradas até tiveram humor, mas outras falas - como a confirmação no palco das presenças de convidados na plateia - prejudicaram o ritmo da apresentação e resultaram enfadonhas para quem não fazia parte da turma de amigos. Em contrapartida, é justo dizer que o single A noite - versão em português (assinada por Tiê com Adriano Cintra, André Whoong e Rita Wainer) da canção italiana La notte (Giuseppe Anastasi), lançada pela cantora italiana Arisa no álbum Amami (Warner Music, 2012) - ganhou em cena maior intensidade, condizente com a alta expectativa depositada pela gravadora Warner Music e pela própria artista nessa faixa do álbum Esmeraldas (a versão parece talhada para vozes mais calorosas, como a de Ana Carolina, por exemplo). Na sequência, canção do primeiro álbum da artista - Passarinho (Tiê, 2009), definida pela artista como "o começo de tudo" - foi cantada somente com violão e cordas, mostrando que menos às vezes por ser mais quando se trata da música sincera de Tiê, feita com "letras que parecem bilhetes", como a própria compositora avaliou em cena.  E isso, longe de ser demérito, é trunfo no cancioneiro honesto de Tiê. Embora falante em excesso, a cantora jamais perdeu seu brilho ao longo da estreia carioca do show Esmeraldas justamente porque soou sempre sincerona em apresentação que cresceu na segunda metade. Urso (Tiê, Adriano Cintra, André Whoong, Naná Rizizni e Rita Wainer, 2014) reiterou em cena a garra pop capaz de encarar a selva do mercado. De todo modo, a canção que soou com mais potencial comercial foi Depois de um dia de sonho (André Whoong em versão em português de Tiê, 2014). Com força para ser o segundo single, a música foi lançada originalmente em inglês em álbum de André Whoong, tecladista da big-band do show e parceiro de Tiê em sete das 12 músicas do CD Esmeraldas. Por falar em Whoong, o músico soltou a voz com desenvoltura e com pegada em All around you (André Whoong, David Byrne, Tim Bernardes e Tiê, 2014), número em que cantou a parte em inglês gravada no disco pelo cantor e compositor escocês David Byrne. Tiê, aliás, fez questão de explicar que os versos em inglês de Byrne têm sentido diverso da parte em português da letra. Por essa sinceridade ao conceituar suas canções em cena e ao se dirigir ao público, Tiê deixou nesse público a sensação de ter visto e ter ouvido uma artista de verdade, com acertos, erros, humores e inquietações. Tiê nem fez um grande show, mas esse show foi sincerão.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ No palco do Theatro Net Rio, onde apresentou seu show Esmeraldas no Rio de Janeiro (RJ), Tiê se referiu ao seu primeiro álbum, Sweet jardim (Independente, 2009), como "cru, íntimo e sincerão". Na apresentação feita para convidados e fãs cariocas em 22 de outubro de 2014, a cantora e compositora paulistana mostrou que, tal como no seu recém-lançado e opulento CD Esmeraldas (Warner Music, 2014), consegue escapar desse intimismo cru em cena povoada por big-band. Cordas e metais encorpam músicas como Meia hora (Tiê e André Whoong, 2014) e Vou atrás (Tiê e André Whoong, 2014) com arranjos polifônicos. Com todas as 12 músicas do terceiro álbum da artista no roteiro de apenas 16 números, o show cumpriu bem a função de reproduzir no palco a riqueza de timbres do disco produzido entre Brasil e Estados Unidos por Adriano Cintra e Jesse Harris. Tiê, inclusive, fez bem sua parte, cantando com naturalidade - perceptível já na abertura do show, quando a artista entoa a capella a primeira parte da balada Gold fish (Tiê e Flávio Juliano, 2007) - e experimentando tons agudos de sua voz doce. Destaque do repertório do disco, o rock Mínimo maravilhoso (Tiê e Vitor Stainberg, 2014) exemplificou ao vivo a habilidade de Tiê para pavimentar outras trilhas em sua discografia sem perda da inspiração. O problema da estreia carioca do show residiu mais na postura da cantora em cena. Talvez para espantar o nervosismo de estar estreando em cidade que não é sua, e na qual seu público é visivelmente mais reduzido, Tiê falou demais. Algumas de suas tiradas até tiveram humor, mas outras falas - como a confirmação no palco das presenças de convidados na plateia - prejudicaram o ritmo da apresentação e resultaram enfadonhas para quem não fazia parte da turma de amigos. Em contrapartida, é justo dizer que o single A noite - versão em português (assinada por Tiê com Adriano Cintra, André Whoong e Rita Wainer) da canção italiana La notte (Giuseppe Anastasi), lançada pela cantora italiana Arisa no álbum Amami (Warner Music, 2012) - ganhou em cena maior intensidade, condizente com a alta expectativa depositada pela gravadora Warner Music e pela própria artista nessa faixa do álbum Esmeraldas (a versão parece talhada para vozes mais calorosas, como a de Ana Carolina, por exemplo). Na sequência, canção do primeiro álbum da artista - Passarinho (Tiê, 2009), definida pela artista como "o começo de tudo" - foi cantada somente com violão e cordas, mostrando que menos às vezes por ser mais quando se trata da música sincera de Tiê, feita com "letras que parecem bilhetes", como a própria compositora avaliou em cena. E isso, longe de ser demérito, é trunfo no cancioneiro honesto de Tiê. Embora falante em excesso, a cantora jamais perdeu seu brilho ao longo da estreia carioca do show Esmeraldas justamente porque soou sempre sincerona em apresentação que cresceu na segunda metade. Urso (Tiê, Adriano Cintra, André Whoong, Naná Rizizni e Rita Wainer, 2014) reiterou em cena a garra pop capaz de encarar a selva do mercado. De todo modo, a canção que soou com mais potencial comercial foi Depois de um dia de sonho (André Whoong em versão em português de Tiê, 2014). Com força para ser single, a música foi lançada originalmente em inglês em álbum de André Whoong, tecladista da big-band do show e parceiro de Tiê em sete das 12 músicas do CD Esmeraldas. Por falar em Whoong, o músico soltou a voz com desenvoltura e com pegada em All around you (André Whoong, David Byrne, Tim Bernardes e Tiê, 2014), número em que cantou a parte em inglês gravada no disco pelo cantor e compositor escocês David Byrne. Tiê, aliás, fez questão de explicar que os versos em inglês de Byrne têm sentido diverso da parte em português da letra. Por essa sinceridade ao conceituar suas canções em cena e ao se dirigir ao público, Tiê deixou nesse público a sensação de ter visto e ter ouvido uma artista de verdade, com acertos, erros, humores e inquietações.

Denilson Santos disse...

Mauro, desculpa eu estar sendo extremamente chato, mas você errou na digitação da data do show, 2013 ao invés de 2014.
Abração
Denilson

Mauro Ferreira disse...

Denilson, você não está sendo chato. Ao contrário, está colaborando com o meu trabalho. Grato! Abs, MauroF