Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Tributo 'Amor maior' refina tristeza saudosista da música de Antonio Marcos

Resenha de CD
Título: Amor maior - Antonio Marcos
Artista: vários
Gravadora: Musicoteca
Cotação: * * *
 Disco disponível para download gratuito e legalizado no site Musicoteca

 Projetado no fim dos anos 60, o cantor e compositor paulista Antonio Marcos (8 de novembro de 1945 - 5 de abril de 1992) construiu um cancioneiro melancólico com letras que retratam a saudade, a solidão e a tristeza nascida do abandono do ser amado. Lançado neste mês de agosto de 2013, em produção do site Musicoteca capitaneada por Silvia Yama e Web Mota, o tributo Amor maior - Antonio Marcos refina a melancolia das principais músicas deste cantor popular em registros mais contidos do que os feitos por Marcos, intérprete de emoções à flor da pele. Avalizado pela cantora Aretha Marcos, filha do artista e intérprete de Você pediu e eu já vou daqui (Antonio Marcos e Zairo Marinozo, 1969), o tributo mostra que a tristeza do amor perdido não somente é recorrente no cancioneiro do artista, como até cultuada. "Se não fosse assim / Talvez nem fosse tão bonito", justificam os últimos dois versos de Ela (Antonio Marcos e Mário Marcos, 1974), música confiada ao cantor gaúcho Filipe Catto. Em registro preciso de Ela, doído na medida certa, Catto se confirma - mais uma vez - o grande cantor de sua geração. A sós com seu piano, Cida Moreira também expõe a dose exata de melancolia - mais uma vez provocada pela partida da mulher amada - contida em Menina de trança (Antonio Marcos, 1970). Com sua interpretação à moda de Tom Waits, Renato Godá rende menos em Como vai você? (Antonio Marcos e Mário Marcos, 1972) - a obra-prima do cancioneiro romântico do compositor - e dilui parte da beleza desta canção lançada na voz de Roberto Carlos. Quando ainda era o Rei da Juventude, mas já fazia a transição para o mundo adulto das canções de amor, Roberto lançou no álbum O inimitável (1968) outra joia do cancioneiro Antonio Marcos, E eu não vou mais deixar você tão só (1968), menos brilhante na gravação, de andamento bem marcado, feita por Diogo Poças para Amor maior.  Poças ameniza o sentimento da letra, que retrata o encontro de dois corações tristes solitários. Brilho mesmo há no registro de Sonhos de um palhaço (Antonio Marcos e Sérgio Sá, 1974) feito por Zeca Baleiro. Na contramão das interpretações intensas dadas a música por Marcos e por Vanusa, o cantor maranhense experimentou um tom mais introspectivo em gravação minimalista em que o acordeom de Adriano Magoo evoca apropriada atmosfera circense. E por falar em Vanusa, a cantora rebobina Coração americano, bissexta parceria de Antonio Marcos com Fagner, lançada pela própria Vanusa no álbum Amigos novos e antigos (1975). Coração americano é breve "momento Belchior" na obra do compositor. Contudo, a julgar pelo tom recorrente no cancioneiro de Marcos, não houve flor na estrada do artista - tudo foi tristeza, enfim. O cantor paulista Phillip Long entende esse sentimento corrosivo e o expõe na boa interpretação da balada You'll never die (Antonio Marcos, Mario Marcos e Luís Vagner, 1972), calcada na sua voz e no piano de Eduardo Kusdra, autor do arranjo. Já Serena Assumpção traz Encontro (Antonio Marcos e Mario Marcos, 1974) para seu delicado universo particular.  A música é do mesmo álbum, Cicatrizes (1974), de Com carinho e saudade (Antonio Marcos e Sérgio Sá, 1974) - tema confiado a Galldino - e de Só você pode chorar por mim (Antonio Marcos e Sérgio Sá, 1974), composição revivida por Babi Mendes. Bem mais irregular em sua segunda metade, Amor maior destaca nesta parte final a abordagem de Gaivotas (Para Roberto Carlos) (Antonio Marcos e Mário Campanha, 1974) por Daniel Conti, feita em clima de fado em belo arranjo. Acima de brilhos individuais, o tributo a Antonio Marcos tem o mérito de revitalizar obra já obscura e - injustamente! - associada ao brega.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Projetado no fim dos anos 60, o cantor e compositor paulista Antonio Marcos (8 de novembro de 1945 - 5 de abril de 1992) construiu um cancioneiro melancólico com letras que retratam a saudade, a solidão e a tristeza nascida do abandono do ser amado. Lançado neste mês de agosto de 2013, em produção do site Musicoteca capitaneada por Silvia Yama e Web Mota, o tributo Amor maior - Antonio Marcos refina a melancolia das principais músicas deste cantor popular em registros mais contidos do que os feitos por Marcos, intérprete de emoções à flor da pele. Avalizado pela cantora Aretha Marcos, filha do artista e intérprete de Você pediu e eu já vou daqui (Antonio Marcos e Zairo Marinozo, 1969), o tributo mostra que a tristeza do amor perdido não somente é recorrente no cancioneiro do artista, como até cultuada. "Se não fosse assim / Talvez nem fosse tão bonito", justificam os últimos dois versos de Ela (Antonio Marcos e Mário Marcos, 1974), música confiada ao cantor gaúcho Filipe Catto. Em registro preciso de Ela, doído na medida certa, Catto se confirma - mais uma vez - o grande cantor de sua geração. A sós com seu piano, Cida Moreira também expõe a dose exata de melancolia - mais uma vez provocada pela partida da mulher amada - contida em Menina de trança (Antonio Marcos, 1970). Com sua interpretação à moda de Tom Waits, Renato Godá rende menos em Como vai você? (Antonio Marcos e Mário Marcos, 1972) - a obra-prima do cancioneiro romântico do compositor - e dilui parte da beleza desta canção lançada na voz de Roberto Carlos. Quando ainda era o Rei da Juventude, mas já fazia a transição para o mundo adulto das canções de amor, Roberto lançou no álbum O inimitável (1968) outra joia do cancioneiro Antonio Marcos, E não vou mais deixar você tão só (1968), menos brilhante na gravação, de andamento bem marcado, feita por Diogo Poças para Amor maior. Poças ameniza o sentimento da letra, que retrata o encontro de dois corações tristes solitários. Brilho mesmo há no registro de Sonhos de um palhaço (Antonio Marcos e Sérgio Sá, 1974) feito por Zeca Baleiro. Na contramão das interpretações intensas dadas a música por Marcos e por Vanusa, o cantor maranhense experimentou um tom mais introspectivo em gravação minimalista em que o acordeom de Adriano Magoo evoca apropriada atmosfera circense. E por falar em Vanusa, a cantora rebobina Coração americano, bissexta parceria de Antonio Marcos com Fagner, lançada pela própria Vanusa no álbum Amigos novos e antigos (1975). Coração americano é breve "momento Belchior" na obra do compositor. Contudo, a julgar pelo tom recorrente no cancioneiro de Marcos, não houve flor na estrada do artista - tudo foi tristeza, enfim. O cantor paulista Phillip Long entende esse sentimento corrosivo e o expõe na boa interpretação da balada You'll never die (Antonio Marcos, Mario Marcos e Luís Vagner, 1972), calcada na sua voz e no piano de Eduardo Kusdra, autor do arranjo. Já Serena Assumpção traz Encontro (Antonio Marcos e Mario Marcos, 1974) para seu delicado universo particular. A música é do mesmo álbum, Cicatrizes (1974), de Com carinho e saudade (Antonio Marcos e Sérgio Sá, 1974) - tema confiado a Galldino - e de Só você pode chorar por mim (Antonio Marcos e Sérgio Sá, 1974), composição revivida por Babi Mendes. Bem mais irregular em sua segunda metade, Amor maior destaca nesta parte final a sedutora interpretação de Daniel Conti para Gaivotas (Para Roberto Carlos) (Antonio Marcos e Mário Campanha, 1974), feita em clima de fado num dos mais belos arranjos do disco. Acima de brilhos individuais, o tributo a Antonio Marcos tem o mérito de revitalizar obra já obscura injustamente associada ao brega.

Cláudio disse...

Mauro,
Injustiça maior do que associar a obra de A.M. ao brega é a não reedição de sua obra por completo no formato digital.
Para mim, e sei que para milhares de pessoas, é uma obra essencial.

Unknown disse...

Pô, não consegui baixar pelo site Musicoteca, será que tem outro link sem ser o de lá? Estou doido para ouvir!

Unknown disse...

Pô, tentei baixar pelo site da Musicoteca e não consegui, não está completando o download. Será que não tem outro link? Estou louco para ouvir!

Unknown disse...

Mauro,
Estou louco para ouvir, mas não consegui baixar pelo Musicoteca, não completou o download. Será que tem outro link sem ser o de lá?