Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Projeto 'Agenor' se expande em noite de tributo aos exageros de Cazuza

Resenha de show
Título: Agenor - Um tributo a Cazuza
Artista: Vários 
Local: Miranda (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 28 de agosto de 2013
Foto: Rodrigo Goffredo
Cotação: * * * 

"Cazuza deixou uma lacuna. Até hoje, não acho que surgiu uma pessoa tão boa quanto ele...", disparou Lucinha Araújo, no palco da casa Miranda, ao ser questionada pela jornalista Lorena Calábria sobre a falta que faz Agenor de Miranda Araújo Neto (4 de abril de 1958 - 7 de julho de 1990), o Cazuza, filho único de Lucinha e um dos mais importantes cantores e compositores brasileiros projetados na geração pop dos anos 80. Soberano na noite de ontem, 28 de agosto de 2013, o talento de Cazuza foi louvado por Lucinha, pelo DJ Zé Pedro - idealizador de Agenor, o recém-lançado disco que deu origem ao show ao apresentar releituras contemporâneas de títulos menos ouvidos do cancioneiro de Cazuza - e pelos artistas da geração 2010 que subiram ao palco da Miranda, no Rio de Janeiro (RJ), para cantar as músicas do parceiro de Roberto Frejat em sucessos como Maior abandonado (1984), música que encerrou o tributo em número coletivo puxado por Bruno Cosentino. Apresentado dentro do Projeto Pensar, o show coletivo foi antecedido por entrevista do DJ Zé Pedro a Lorena Calábria. Zé Pedro - que migrou do Rio de Janeiro (RJ) para São Paulo (SP) em 1993 e, após 20 anos, se reconectou com o som e a turma indie carioca através de Agenor - explicou o conceito do disco, gravado sob a curadoria de Lorena Calábria, e os rumos de sua gravadora Joia Moderna, criada em 2010 para abrir mercado para cantoras sem voz na indústria da música. "Não me cobrem coerência. Às vezes, eu me perco no caminho - no bom sentido", argumentou o DJ, dissolvendo as esperanças do que esperam que a Joia Moderna volte para seu trilho original. Encerrada a breve pensata sobre Cazuza, teve início o show que expandiu o projeto Agenor em cena, não somente por incorporar ao roteiro músicas ausentes do disco disponibilizado para audição no portal SoundCloud - caso de Eu queria ter uma bomba (Frejat e Cazuza, 1985), arremessada pelo duo Letuce ao lado do cantor carioca Botika com adicional sentido político (cantora do Letuce, Letícia Novaes fez referência ao atual prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, que agrediu Botika em recente confusão). Mas sobretudo porque algumas releituras ganharam vida no palco, caso da até então esquecida A Inocência do prazer (George Israel e Cazuza, 1988), defendida pelo supra-citado Bruno Cosentino com vocais que evocaram o suingue de Gilberto Gil. O grande destaque do show  foi a interpretação teatral e doída de Letuce para Não amo ninguém (Frejat, Ezequiel Neves e Cazuza, 1984). Dividindo a cena com Lucas Vasconcellos (na guitarra portuguesa) e Arthur Bragatto (nos teclados), Letícia Novaes bisou o êxito do disco com interpretação dilacerada, meio à moda de PJ Harvey, do tema lançado pelo grupo Barão Vermelho em seu terceiro álbum de estúdio - o último gravado com Cazuza. Embora tenha saído do tom em seu número adicional, Codinome beija-flor (Reinaldo Árias, Ezequiel Neves e Cazuza, 1985), Mariano Marovatto cresceu e apareceu ao interpretar Incapacidade de amar (Leoni e Cazuza, 1987) com intensidade e com compreensão (dos versos desaforados) superiores ao do grupo Heróis da Resistência, autor do registro original. Brunno Monteiro também brilhou, dando grandeza, emoção e uma pegada roqueira a Nunca sofri por amor (Joanna e Cazuza, 1989) - tal como fizera no disco. Monteiro ainda uniu vozes com seu xará Bruno Cosentino em O nosso amor a gente inventa (Estória romântica) (João Rebouças, Rogério Meanda e Cazuza, 1987), em dueto que adquiriu aura gay. Já Qinho se escorou na sua bela presença cênica tanto ao jogar Sorte e azar (Frejat e Cazuza, 1982 / 2012) na companhia do Tono - o (bom) grupo que acompanhou a maioria dos artistas na celebração e que apresentou Amor, amor (Frejat, George Israel e Cazuza, 1984) com suingue que remete ao samba-reggae baiano - como ao fazer insípido dueto com MoMo em Faz parte do meu show (Renato Ladeira e Cazuza, 1988). MoMo brilharia sozinho ao apresentar sua personalíssima releitura folk do Blues do iniciante (Frejat, Dé Palmeira, Guto Goffi, Maurício Barros e Cazuza, 1983) - belo contraponto introspectivo para a efervescência rítmica nortista posta pelo paraense Felipe Cordeiro na rumba Tapas na cara (Cazuza, 1987). Acima de brilhos individuais, pairou a soberania da música de Cazuza, um exagero de talento.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

"Cazuza deixou uma lacuna. Até hoje, não acho que surgiu uma pessoa tão boa quanto ele...", disparou Lucinha Araújo, no palco da casa Miranda, ao ser questionada pela jornalista Lorena Calábria sobre a falta que faz Agenor de Miranda Araújo Neto (4 de abril de 1958 - 7 de julho de 1990), o Cazuza, filho único de Lucinha e um dos mais importantes cantores e compositores brasileiros projetados na geração pop dos anos 80. Soberano na noite de ontem, 28 de agosto de 2013, o talento de Cazuza foi louvado por Lucinha, pelo DJ Zé Pedro - idealizador de Agenor, o recém-lançado disco que deu origem ao show ao apresentar releituras contemporâneas de títulos menos ouvidos do cancioneiro de Cazuza - e pelos artistas da geração 2010 que subiram ao palco da Miranda, no Rio de Janeiro (RJ), para cantar as músicas do parceiro de Roberto Frejat em sucessos como Maior abandonado (1984), música que encerrou o tributo em número coletivo puxado por Bruno Consentino. Apresentado dentro do Projeto Pensar, o show coletivo foi antecedido por entrevista do DJ Zé Pedro a Lorena Calábria. Zé Pedro - que migrou do Rio de Janeiro (RJ) para São Paulo (SP) em 1993 e, após 20 anos, se reconectou com o som e a turma indie carioca através de Agenor - explicou o conceito do disco, gravado sob a curadoria de Lorena Calábria, e os rumos de sua gravadora Joia Moderna, criada em 2010 para abrir mercado para cantoras sem voz na indústria da música. "Não me cobrem coerência. Às vezes, eu me perco no caminho - no bom sentido", argumentou o DJ, dissolvendo as esperanças do que esperam que a Joia Moderna volte para seu trilho original. Encerrada a breve pensata sobre Cazuza, teve início o show que expandiu o projeto Agenor em cena, não somente por incorporar ao roteiro músicas ausentes do disco disponibilizado para audição no portal SoundCloud - caso de Eu queria ter uma bomba (Frejat e Cazuza, 1985), arremessada pelo duo Letuce ao lado do cantor carioca Botika com adicional sentido político (cantora do Letuce, Letícia Novaes fez referência ao atual prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, que agrediu Botika em recente confusão). Mas sobretudo porque algumas releituras ganharam vida no palco, caso da até então esquecida A Inocência do prazer (George Israel e Cazuza, 1988), defendida pelo supra-citado Bruno Consetino com vocais que evocaram o suingue de Gilberto Gil. O grande destaque do show foi a interpretação teatral e doída de Letuce para Não amo ninguém (Frejat, Ezequiel Neves e Cazuza, 1984). Dividindo a cena com Lucas Vasconcellos (na guitarra portuguesa) e Arthur Bragatto (nos teclados), Letícia Novaes bisou o êxito do disco com interpretação dilacerada, meio à moda de PJ Harvey, do tema lançado pelo grupo Barão Vermelho em seu terceiro álbum de estúdio - o último gravado com Cazuza. Embora tenha saído do tom em seu número adicional, Codinome beija-flor (Reinaldo Árias, Ezequiel Neves e Cazuza), Mariano Marovatto cresceu e apareceu bem ao interpretar Incapacidade de amar (Leoni e Cazuza, 1987) com intensidade e compreensão (dos versos desaforados) superiores ao do grupo Heróis da Resistência, autor do registro original.

Mauro Ferreira disse...

Brunno Monteiro também brilhou, dando grandeza, emoção e pegada roqueira a Nunca sofri por amor (Joanna e Cazuza, 1989) - tal como fizera no disco. Monteiro ainda uniu vozes com seu xará Bruno Consentino em O nosso amor a gente inventa (Estória romântica) (João Rebouças, Rogério Meanda e Cazuza, 1987), em dueto que adquiriu aura gay. Já Qinho se escorou na sua bela presença cênica tanto ao jogar Sorte e azar (Frejat e Cazuza, 1982 / 2012) na companhia do Tono - o (bom) grupo que acompanhou a maioria dos artistas na celebração e que apresentou Amor, amor (Frejat, George Israel e Cazuza, 1984) com suingue que remete ao samba-reggae baiano - como ao fazer insípido dueto com MoMo em Faz parte do meu show (Renato Ladeira e Cazuza, 1988). MoMo brilharia sozinho ao apresentar sua personalíssima releitura folk do Blues do iniciante (Frejat, Dé Palmeira, Guto Goffi, Maurício Barros e Cazuza, 1983) - belo contraponto introspectivo para a efervescência rítmica nortista posta pelo paraense Felipe Cordeiro na rumba Tapas na cara (Cazuza, 1987). Acima de brilhos individuais, pairou a soberania da música de Cazuza, um exagero de talento.

Francisco Frankson de Freitas Franco disse...

Até hj não consegui baixar o cd, alguém tem o link que não seja o do SOUNDCLOUD ?