Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 27 de agosto de 2013

Queiroga concilia modernidades e tradições de Pernambuco em 'Ylana'

Resenha de CD
Título: Ylana
Artista: Ylana Queiroga
Gravadora: Joia Moderna
Cotação: * * * *

Gravado entre 2007 e 2010, o primeiro disco da cantora pernambucana Ylana Queiroga - sobrinha do compositor Lula Queiroga e filha da também cantora Nena Queiroga com o Maestro Spok - chega com frescor ao mercado anos após sua criação. Ylana, o álbum, vem ao mundo com o selo da gravadora paulista Joia Moderna, mas com distribuição e marketing orquestrados pela própria artista, sem o envolvimento do DJ Zé Pedro, que custeou a finalização do disco com o intuito (frustrado) de vê-lo lançado na virada de 2012 para 2013. Em Ylana, Queiroga concilia harmoniosamente tradições e modernidades da musical nação pernambucana. A ponto de um samba composto em 1930 por Capiba (1904 - 1997), Não quero mais, estar alocado ao lado de tema de Siba - Tempo, faixa aditivada com o rap de Maggo - sem causar estranheza no ouvinte. Se o disco é "artigo moderno de luxo dentro da nossa música", como bem caracteriza o DJ Zé Pedro em texto escrito para o encarte, o mérito é muito de Yuri Queiroga, irmão de Ylana e produtor do disco. É a produção antenada de Yuri - um dos pilotos do último grande álbum de Elba Ramalho, Qual o assunto que mais lhe interessa? (2007) - que irmana o velho e o novo em Ylana com maestria. Suas programações em Nublado acinzentam o arranjo da faixa em sintonia com os versos da música de autoria do próprio Yuri - para citar somente um exemplo do acerto da produção. Música que abre o disco, Calcanhar (Manuca Bandini e Yuri Queiroga) pisa macio com a combinação marota de metais, beatbox (do rapper Maggo) e programações. Recorrentes no disco, os metais dão outra pulsação a um tema do repertório da Nação Zumbi, Toda surdez será castigada (Jorge Du Peixe, Pupillo, Lúcio Maia, Dengue e Junio Barreto, 2007), recriada sem o peso dos tambores da Nação. Cantora de personalidade forte, Queiroga jamais faz cover nas espertas regravações alinhadas em Ylana. Com habilidade, a intérprete dissolve Pedras de sal (Alceu Valença, 1974) no tempo da delicadeza, faz desabrochar Aquela rosa vermelha (Ortinho), enobrece canção de China - Overlock, de romantismo kitsch que dialoga com o universo da música sentimental do Brasil -  e entra no mundo de Isaar ao dar voz a Trancelim de marfim (Isaar, 2005). Com menor poder de sedução, mas sem trair o conceito e o espírito do disco, Duas cores (Felipe S.), Loa da lagoa (Lula Queiroga, Mr. Jam e Lulu Oliveira) e Um dia (Guilherme Almeida) completam Ylana, joia moderna que conserva o seu brilho e reluz anos após a sua confecção.

8 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Gravado entre 2007 e 2010, o primeiro disco da cantora pernambucana Ylana Queiroga - sobrinha do compositor Lula Queiroga e filha da também cantora Nena Queiroga com o Maestro Spok - chega com frescor ao mercado anos após sua criação. Ylana, o álbum, vem ao mundo com o selo da gravadora paulista Joia Moderna, mas com distribuição e marketing orquestrados pela própria artista, sem o envolvimento do DJ Zé Pedro, que custeou a finalização do disco com o intuito (frustrado) de vê-lo lançado na virada de 2012 para 2013. Em Ylana, Queiroga concilia harmoniosamente tradições e modernidades da musical nação pernambucana. A ponto de um samba composto em 1930 por Capiba (1904 - 1997), Não quero mais, estar alocado ao lado de tema de Siba - Tempo, faixa aditivada com o rap de Maggo - sem causar estranheza no ouvinte. Se o disco é "artigo moderno de luxo dentro da nossa música", como bem caracteriza o DJ Zé Pedro em texto escrito para o encarte, o mérito é muito de Yuri Queiroga, irmão de Ylana e produtor do disco. É a produção antenada de Yuri - um dos pilotos do último grande álbum de Elba Ramalho, Qual o assunto que mais lhe interessa? (2007) - que irmana o velho e o novo em Ylana com maestria. Suas programações em Nublado acinzentam o arranjo da faixa em sintonia com os versos da música de autoria do próprio Yuri - para citar somente um exemplo do acerto da produção. Música que abre o disco, Calcanhar (Manuca Bandini e Yuri Queiroga) pisa macio com a combinação marota de metais, beatbox (do rapper Maggo) e programações. Recorrentes no disco, os metais dão outra pulsação a um tema do repertório da Nação Zumbi, Toda surdez será castigada (Jorge Du Peixe, Pupillo, Lúcio Maia, Dengue e Junio Barreto, 2007), recriada sem o peso dos tambores da Nação. Cantora de personalidade forte, Queiroga jamais faz cover nas espertas regravações alinhadas em Ylana. Com habilidade, a intérprete dissolve Pedras de sal (Alceu Valença, 1974) no tempo da delicadeza, faz desabrochar Aquela rosa vermelha (Ortinho), enobrece canção de China - Overlock, de romantismo kitsch que dialoga com o universo da música sentimental do Brasil - e entra no mundo de Isaar ao dar voz a Trancelim de marfim (Isaar, 2005). Com menor poder de sedução, mas sem trair o conceito e o espírito do disco, Duas cores (Felipe S.), Loa da lagoa (Lula Queiroga, Mr. Jam e Lulu Oliveira) e Um dia (Guilherme Almeida) completam Ylana, joia moderna que conserva o seu brilho e reluz anos após a sua confecção.

Fábio Passadisco disse...

Já à venda no site da Passa Disco (www.passadisco.com.br)

Anônimo disse...

Ainda não ouvi a Ylana.
Suas idéias e suas referências me parecem bem boas.
Juntar tradição e modernidade em Pernambuco, como bem ensinou Chico Science, é um caminho pra lá de sagaz.

PS: Toda Surdez Será Castigada é pra mim a melhor faixa do Fome de Tudo da Nação.
Aliás, Mundo Livre x Nação Zumbi saindo do forno, Mauro!
Já ouvi e , pasmem, o Mundo Livre dá um pau na turma das alfaias.

Unknown disse...

Baixei o disco e adorei... ele não tem nada a ver com a Joia Moderna que só se deu bem com as cantoras da antiga, pois com os projetos dos moderninhos só fez discos que não acrescentam absolutamente nada.

CN disse...

Toda sorte e reconhecimento à doce Ylana, que é muito talentosa, como todo este clã fortissimo pernambuco e brasileiro. Sou lhe fã e mando um beijo a Nena, sua mãe, artista forte e única. Carlos Navas

Unknown disse...

Eu aguardei esse cd desde que ele começou a ser gravado. Parecia um disco de vinil com falha quando fazia a seguinte pergunta a Ylana: "E ai essa menina o cd sai quando?". Ontem 12/09/13 tive a alegria de encontra-la e receber de presente o cd, autografado é claro. Hoje, escutei.Fiquei chapado. Eu sabia que seria um trabalho interessante, só não esperava que fosse muito mais que isso. Músicas escolhidas à dedo, arranjos contemporâneos e belíssimos; Capa e todo projeto gráfico de primeira; o suprassumo dos músicos pernambucanos acompanhando... poxa! O melhor trabalho que escutei nos últimos tempos. Parabéns pra Yure que sabe tudo e percebe-se seu cuidado em todo o cd. Parabéns pra Ylana que é uma joia. Eu gostei, recomendo e espero que esse cd toque nas rádios, um trabalho assim tem que ser escutado e visto e admirado.

Unknown disse...

Eu aguardei esse cd desde que ele começou a ser gravado. Parecia um disco de vinil com falha quando fazia a seguinte pergunta a Ylana: "E ai essa menina o cd sai quando?". Ontem 12/09/13 tive a alegria de encontra-la e receber de presente o cd, autografado é claro. Hoje, escutei.Fiquei chapado. Eu sabia que seria um trabalho interessante, só não esperava que fosse muito mais que isso. Músicas escolhidas à dedo, arranjos contemporâneos e belíssimos; Capa e todo projeto gráfico de primeira; o suprassumo dos músicos pernambucanos acompanhando... poxa! O melhor trabalho que escutei nos últimos tempos. Parabéns pra Yure que sabe tudo e percebe-se seu cuidado em todo o cd. Parabéns pra Ylana que é uma joia. Eu gostei, recomendo e espero que esse cd toque nas rádios, um trabalho assim tem que ser escutado e visto e admirado.

Anna Ratto disse...

Merecida crítica! Estou, absolutamente, encantada! Talentaçoooo! Maravilha de trabalho!!! Faz tempo que não me impressiono tanto, de cara, com uma novidade. Não assim... (e não a conheço, não sou suspeita...rs) O sobrenome atrai, claro. Mas isso, por vezes, pode fazer pesar pro lado oposto. Ela faz jus. Que sensação boa, essa! Vida longa pra Ylana! Beijo, Mauro.