Título: Ylana
Artista: Ylana Queiroga
Gravadora: Joia Moderna
Cotação: * * * *
Gravado entre 2007 e 2010, o primeiro disco da cantora pernambucana Ylana Queiroga - sobrinha do compositor Lula Queiroga e filha da também cantora Nena Queiroga com o Maestro Spok - chega com frescor ao mercado anos após sua criação. Ylana, o álbum, vem ao mundo com o selo da gravadora paulista Joia Moderna, mas com distribuição e marketing orquestrados pela própria artista, sem o envolvimento do DJ Zé Pedro, que custeou a finalização do disco com o intuito (frustrado) de vê-lo lançado na virada de 2012 para 2013. Em Ylana, Queiroga concilia harmoniosamente tradições e modernidades da musical nação pernambucana. A ponto de um samba composto em 1930 por Capiba (1904 - 1997), Não quero mais, estar alocado ao lado de tema de Siba - Tempo, faixa aditivada com o rap de Maggo - sem causar estranheza no ouvinte. Se o disco é "artigo moderno de luxo dentro da nossa música", como bem caracteriza o DJ Zé Pedro em texto escrito para o encarte, o mérito é muito de Yuri Queiroga, irmão de Ylana e produtor do disco. É a produção antenada de Yuri - um dos pilotos do último grande álbum de Elba Ramalho, Qual o assunto que mais lhe interessa? (2007) - que irmana o velho e o novo em Ylana com maestria. Suas programações em Nublado acinzentam o arranjo da faixa em sintonia com os versos da música de autoria do próprio Yuri - para citar somente um exemplo do acerto da produção. Música que abre o disco, Calcanhar (Manuca Bandini e Yuri Queiroga) pisa macio com a combinação marota de metais, beatbox (do rapper Maggo) e programações. Recorrentes no disco, os metais dão outra pulsação a um tema do repertório da Nação Zumbi, Toda surdez será castigada (Jorge Du Peixe, Pupillo, Lúcio Maia, Dengue e Junio Barreto, 2007), recriada sem o peso dos tambores da Nação. Cantora de personalidade forte, Queiroga jamais faz cover nas espertas regravações alinhadas em Ylana. Com habilidade, a intérprete dissolve Pedras de sal (Alceu Valença, 1974) no tempo da delicadeza, faz desabrochar Aquela rosa vermelha (Ortinho), enobrece canção de China - Overlock, de romantismo kitsch que dialoga com o universo da música sentimental do Brasil - e entra no mundo de Isaar ao dar voz a Trancelim de marfim (Isaar, 2005). Com menor poder de sedução, mas sem trair o conceito e o espírito do disco, Duas cores (Felipe S.), Loa da lagoa (Lula Queiroga, Mr. Jam e Lulu Oliveira) e Um dia (Guilherme Almeida) completam Ylana, joia moderna que conserva o seu brilho e reluz anos após a sua confecção.