Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 2 de maio de 2013

Músicos convidados avivam cores da 'aquarela brasileira' de Pagodinho

Resenha de CD e DVD
Título: Multishow ao vivo Zeca Pagodinho 30 anos - Vida que segue
Artista: Zeca Pagodinho
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * *

Ouvintes atentos do último álbum de estúdio de Zeca Pagodinho, Vida da minha vida (Universal Music, 2010), detectaram o aprimoramento vocal do cantor e compositor carioca nesse disco de inéditas. Pagodinho - que por vezes tinha  mostrado certo desleixo em suas interpretações - estava cantando melhor. Tal evolução no canto permanece em Multishow ao vivo Zeca Pagodinho 30 anos - Vida que segue, mais um projeto ao vivo da discografia do artista.  Aliadas a esse aprimoramento do canto, a boa pesquisa de repertório (a cargo de Carlos Savalla) e a arregimentação de músicos convidados para tocar na maioria das faixas do CD e DVD - recém-lançados pela Universal Music - avivam algumas cores dessa espécie de aquarela brasileira de Pagodinho, que dá voz a sucessos do samba numa linha similar ao do CD/DVD Diogo Nogueira ao vivo em Cuba (2012), sucesso recente do mercado fonográfico de samba. Pagodinho obviamente tem mais cacife e história do que Diogo para dar voz a sambas foliões como Abre a janela (Arlindo Marques Jr. e Roberto Martins, 1938), Eu agora sou feliz (Jamelão e Mestre Gato, 1963) - linkado em medley com Se eu errei (Humberto de Carvalho, Francisco Netto e Edu Rocha, 1953), sucesso do cantor paulista Francisco Ferraz Netto (1921 - 1976), o Risadinha, nos Carnavais dos anos 50 - e Só o ôme (Edenal Rodrigues), exemplos de como as cores da aquarela se avivam quando o repertório foge do óbvio. Em contrapartida, nem a presença ilustre de Paulinho da Viola em Foi um rio que passou em minha vida (Paulinho da Viola, 1970) disfarça os tons esmaecidos do projeto quando Zeca revive sambas já exaustivamente regravados, casos também do samba-enredo Aquarela brasileira (Silas de Oliveira, 1964) e do já lotado Trem das onze (Adoniram Barbosa, 1964). De todo modo, justiça seja feita, o requinte da produção capitaneada por Max Pierre valoriza a gravação ao vivo em que Pagodinho celebra 30 anos de carreira fonográfica, iniciada em 1983 com participação em disco de Beth Carvalho. A presença de músicos do porte de Hamilton de Holanda (bandolim), Rildo Hora (realejo), Rogério Caetano (violão de 7 cordas), Yamandu Costa (violão de 7 cordas) e Zé Menezes (guitarra e violão) contribui para que uma aura de sofisticação envolva os registros. O seminal samba Gosto que me enrosco (Sinhô, 1929), por exemplo, é desviado do habitual trilho amaxixado pelo toque do bandolim de Hamilton e do violão de Yamandu. Da mesma forma, o solo do realejo do virtuoso Rildo é a cereja do bolo em Diz que fui por aí (Zé Kétti e Hortêncio Rocha, 1964). No todo, Multishow ao vivo Zeca Pagodinho 30 anos - Vida que segue evoca o clima de gafieira do projeto gravado pelo artista para a MTV em 2006. Construída pelo naipe de metais que pontua a gravação, essa ambiência de gafieira é detectada de imediato em números como o medley que une os sambas Atire a primeira pedra (Ataulfo Alves e Mário Lago, 1944) e  Volta por cima (Paulo Vanzolini, 1962). Ambiente que exige respeito quando Marisa Monte entra no salão para cantar com Pagodinho Preciso me encontrar (Candeia, 1976), samba de tom mais interiorizado que a cantora já havia gravado em seu primeiro disco, MM (1989). O dueto resulta bonito sem alcançar a intensidade do primeiro registro de Marisa. Entre cores mais ou menos vivas, a aquarela de Pagodinho adquire seu tom mais pastel quando o cantor divide os versos da única música inédita do projeto, É vida que segue (Por que não?) (Serginho Meriti, Rodrigo Leite e Cocão), com Xuxa. Por mais que o samba que propaga esperança para crianças carentes tenha a ver com o universo profissional da apresentadora infantil, a inabilidade de Xuxa para o canto esmaece faixa gravada em estúdio, alocada como bônus no CD e exibida como clipe no DVD. Seja como for, Zeca Pagodinho chega com dignidade aos 30 anos de carreira. Vida que segue...

6 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Ouvintes atentos do último álbum de estúdio de Zeca Pagodinho, Vida da minha vida (Universal Music, 2010), detectaram o aprimoramento vocal do cantor e compositor carioca nesse disco de inéditas. Pagodinho - que por vezes tinha mostrado certo desleixo em suas interpretações - estava cantando melhor. Tal evolução no canto permanece em Multishow ao vivo Zeca Pagodinho 30 anos - Vida que segue, mais um projeto ao vivo da discografia do artista. Aliadas a esse aprimoramento do canto, a boa pesquisa de repertório (a cargo de Carlos Savalla) e a arregimentação de músicos convidados para tocar na maioria das faixas do CD e DVD - recém-lançados pela Universal Music - avivam algumas cores dessa espécie de aquarela brasileira de Pagodinho, que dá voz a sucessos do samba numa linha similar ao do CD/DVD Diogo Nogueira ao vivo em Cuba (2012), sucesso recente do mercado fonográfico de samba. Pagodinho obviamente tem mais cacife e história do que Diogo para dar voz a sambas foliões como Abre a janela (Arlindo Marques Jr. e Roberto Martins, 1938), Eu agora sou feliz (Jamelão e Mestre Gato, 1963) - linkado em medley com Se eu errei (Humberto de Carvalho, Francisco Netto e Edu Rocha, 1953), sucesso do cantor paulista Francisco Ferraz Netto (1921 - 1976), o Risadinha, nos Carnavais dos anos 50 - e Só o ôme (Edenal Rodrigues), exemplos de como as cores da aquarela se avivam quando o repertório foge do óbvio. Em contrapartida, nem a presença ilustre de Paulinho da Viola em Foi um rio que passou em minha vida (Paulinho da Viola, 1970) disfarça os tons esmaecidos do projeto quando Zeca revive sambas já exaustivamente regravados, casos também do samba-enredo Aquarela brasileira (Silas de Oliveira, 1964) e do já lotado Trem das onze (Adoniram Barbosa, 1965). De todo modo, justiça seja feita, o requinte da produção capitaneada por Max Pierre valoriza a gravação ao vivo em que Pagodinho celebra 30 anos de carreira fonográfica, iniciada em 1983 com participação em disco de Beth Carvalho. A presença de músicos do porte de Hamilton de Holanda (bandolim), Rildo Hora (realejo), Rogério Menezes (violão de 7 cordas), Yamandu Costa (violão de 7 cordas) e Zé Menezes (guitarra e violão) contribui para que uma aura de sofisticação envolva os registros. O seminal samba Gosto que me enrosco (Sinhô, 1929), por exemplo, é desviado do habitual trilho amaxixado pelo toque do bandolim de Hamilton e do violão de Yamandu. Da mesma forma, o solo do realejo do virtuoso Rildo é a cereja do bolo em Diz que fui por aí (Zé Kétti e Hortêncio Rocha, 1964). No todo, Multishow ao vivo Zeca Pagodinho 30 anos - Vida que segue evoca o clima de gafieira do projeto gravado pelo artista para a MTV em 2006. Construída pelo naipe de metais que pontua a gravação, essa ambiência de gafieira é detectada de imediato em números como o medley que une os sambas Atire a primeira pedra (Ataulfo Alves e Mário Lago, 1944) e Volta por cima (Paulo Vanzolini, 1962). Ambiente que exige respeito quando Marisa Monte entra no salão para cantar com Pagodinho Preciso me encontrar (Candeia, 1976), samba de tom mais interiorizado que a cantora já havia gravado em seu primeiro disco, MM (1989). O dueto resulta bonito sem alcançar a intensidade do primeiro registro de Marisa. Entre cores mais ou menos vivas, a aquarela de Pagodinho adquire seu tom mais pastel quando o cantor divide os versos da única música inédita do projeto, É vida que segue (Por que não?) (Serginho Meriti, Rodrigo Leite e Cocão), com Xuxa. Por mais que o samba que propaga esperança para crianças carentes tenha a ver com o universo profissional da apresentadora infantil, a inabilidade de Xuxa para o canto esmaece faixa gravada em estúdio, alocada como bônus no CD e exibida como clipe no DVD. Seja como for, Zeca Pagodinho chega com dignidade aos 30 anos de carreira. Vida que segue...

Anônimo disse...

A carreira fonográfica de Zeca Pagodinho, pós sucesso, é mais engessada que uma múmia do antigo Egito.
O cara exala veracidade, mas tudo parece fake.

Unknown disse...

Xuxa não !!!!!!!!!!!!! estragou

Gabriel Silveira disse...

Rogério Caetano (violão de 7 cordas) e não Rogério Menezes.

Mauro Ferreira disse...

Claro, Gabriel. Grato pelo toque do meu lapso. Já corrigi o texto. Abs, MauroF

Unknown disse...

Concordo plenamento com tudo dito, agora referente ao comentário do Zé Henrique que diz que a carreira de Zeca Pós Sucesso é engessada é lamentavel. Zeca Pós Sucesso grava cada vez melhor com um time só de bamba, gravações que vão ser dada o devido valor daqui a alguns anos, pois o povo brasileiro (a maioria) não sabe dar valor algum, agora dizer que o Zeca pós sucesso é Fake, hahaha é triste demais.

Disco pra entrar pra história do Samba, da MPB, do Brasil!