Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Francis e Guinga unem canções e afetos em álbum grande como suas obras

Resenha de CD
Título: Francis e Guinga
Artista: Francis Hime e Guinga
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * 1/2

 Os caminhos musicais de Francis Hime e Guinga se cruzaram em 1976 na gravação de Canto das três raças, álbum que marcou o encontro da cantora mineira Clara Nunes (1942 - 1983) com o compositor e produtor carioca Paulo César Pinheiro. No registro da valsa Ai, quem me dera (Vinicius de Moraes), uma das dez músicas do disco, Guinga tocou o violão do arranjo criado por Francis. Nasceu ali uma admiração entre os dois compositores e músicos cariocas que, 37 anos depois, gera o primeiro disco gravado em dupla pelos artistas. Francis e Guinga - o CD que a gravadora Biscoito Fino está lançando neste mês de fevereiro de 2013 - irmana as obras dos dois compositores na mesma estrutura do roteiro do show estreado por Francis e Guinga em 23 de outubro de 2012 no Studio RJ, no Rio de Janeiro (RJ), dentro do evento Noite Jazzmania (clique aqui para ler a resenha do show postada em Notas Musicais). Os cancioneiros dos compositores se entrelaçam em medleys que unem as músicas por afinidades rítmicas e temáticas, sendo que, normalmente, um compositor dá voz à música do outro. A noiva da cidade (Francis Hime e Chico Buarque, 1976), por exemplo, é entoada (lindamente) por Guinga no medley que a une com Senhorinha (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1986), cantada por Francis no tom de modinha que pauta a faixa. Aliás, além de excepcional compositor, de talento atestado já nos anos 70 por cantoras como a citada Clara Nunes e Elis Regina (1945 - 1982), Guinga foi se revelando intérprete capaz de alcançar emoções profundas com sua voz rouca. Seu solo em Saudade de amar (Francis Hime e Vinicius de Moraes, 1966) - música da fase em que Francis era visto como um dos expoentes da segunda fase da Bossa Nova - é um dos ápices deste disco que realça todo o lirismo e toda a poesia de obras de almas afins. Essa irmandade salta aos ouvidos quando Francis canta Noturna (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1991), para citar somente um exemplo. Não, Francis não é um intérprete tão imponente quanto Guinga. Contudo, mesmo que não atinja profundas regiões emotivas com sua voz sempre bem colocada, Francis também se mostra um intérprete habilidoso ao abordar temas do colega como Mar de Maracanã (Guinga e Edu Kneip, 2007). Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que expõe as afinidades entre os cancioneiros dos compositores ao irmaná-los em medleys como o que junta Porto de Araújo (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1989) com Desacalanto (Francis Hime e Olivia Hime, 2006) e o que une Saci (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1993) com Parintintin (Francis Hime e Olivia Hime, 1980), o CD Francis e Guinga também realça as individualidades dos autores. Fica nítido que é de Francis o desenho melódico da segunda parte da instantânea obra-prima A ver navios, uma das duas inéditas parcerias de Francis com Guinga lançadas no disco. A ver navios navega em águas densas, no tom poético dos versos de Olivia Hime, letrista do tema. Quase tão genial quanto A ver navios, a outra parceria inédita de Francis e Guinga, Doentia, tem versos de Thiago Amud, que perfila na letra o caráter escorregadio de mulher que "tem a lábia de uma atriz". Enfim, diante da magnitude das obras de Francis Hime e Guinga, o álbum Francis e Guinga - gravado somente com o piano de Francis e o violão de Guinga - logo se impõe naturalmente como um grande disco ao cruzar harmoniosamente as canções e os afetos destes dois gênios da Música Popular Brasileira em união pautada por uma beleza atemporal.

7 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Os caminhos musicais de Francis Hime e Guinga se cruzaram em 1976 na gravação de Canto das três raças, álbum que marcou o encontro da cantora mineira Clara Nunes (1942 - 1983) com o compositor e produtor carioca Paulo César Pinheiro. No registro da valsa Ai, quem me dera (Vinicius de Moraes), uma das dez músicas do disco, Guinga tocou o violão do arranjo criado por Francis. Nasceu ali uma admiração entre os dois compositores e músicos cariocas que, 37 anos depois, gera o primeiro disco gravado em dupla pelos artistas. Francis e Guinga - o CD que a gravadora Biscoito Fino está lançando neste mês de fevereiro de 2013 - irmana as obras dos dois compositores na mesma estrutura do roteiro do show estreado por Francis e Guinga em 23 de outubro de 2012 no Studio RJ, no Rio de Janeiro (RJ), dentro do evento Noite Jazzmania (clique aqui para ler a resenha do show postada em Notas Musicais). Os cancioneiros dos compositores se entrelaçam em medleys que unem as músicas por afinidades rítmicas e temáticas, sendo que, normalmente, um compositor dá voz à música do outro. A noiva da cidade (Francis Hime e Chico Buarque, 1976), por exemplo, é entoada (lindamente) por Guinga no medley que a une com Senhorinha (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1986), cantada por Francis no tom de modinha que pauta a faixa. Aliás, além de excepcional compositor, de talento atestado já nos anos 70 por cantoras como a citada Clara Nunes e Elis Regina (1945 - 1982), Guinga foi se revelando intérprete capaz de alcançar emoções profundas com sua voz rouca. Seu solo em Saudade de amar (Francis Hime e Vinicius de Moraes, 1966) - música da fase em que Francis era visto como um dos expoentes da segunda fase da Bossa Nova - é um dos ápices deste disco que realça todo o lirismo e toda a poesia de obras de almas afins. Essa irmandade salta aos ouvidos quando Francis canta Noturna (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1991), para citar somente um exemplo. Não, Francis não é um intérprete tão imponente quanto Guinga. Contudo, mesmo que não atinja profundas regiões emotivas com sua voz sempre bem colocada, Francis também se mostra um intérprete habilidoso ao abordar temas do colega como Mar de Maracanã (Guinga e Edu Kneip, 2007). Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que expõe as afinidades entre os cancioneiros dos compositores ao irmaná-los em medleys como o que junta Porto de Araújo (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1989) com Desacalanto (Francis Hime e Olivia Hime, 2006) e o que une Saci (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1993) com Parintintin (Francis Hime e Olivia Hime, 1980), o CD Francis e Guinga também realça as individualidades dos autores. Fica nítido que é de Francis o desenho melódico da segunda parte da instantânea obra-prima A ver navios, uma das duas inéditas parcerias de Francis com Guinga lançadas no disco. A ver navios navega em águas densas, no tom poético dos versos de Olivia Hime, letrista do tema. Quase tão genial quanto A ver navios, a outra parceria inédita de Francis e Guinga, Doentia, tem versos de Thiago Amud, que perfila na letra o caráter escorregadio de mulher que "tem a lábia de uma atriz". Enfim, diante da magnitude das obras de Francis Hime e Guinga, o álbum Francis e Guinga - gravado somente com o piano de Francis e o violão de Guinga - logo se impõe naturalmente como um grande disco ao cruzar harmoniosamente as canções e os afetos deste dois gênios da Música Popular Brasileira.

Marcelo disse...

Discordo da parte de ser cantor. Francis me emociona muito mais cantando. Sua voz é especial e dá um toque especial qdo canta suas canções. Já Guinga acho uma lástima cantando... Qto aos compositores, Francis é um gênio, merece sempre ser lembrado e gravado!!!

Maria disse...

Francis dispensa maiores comentários.
Também admiro o trabalho de Guinga, acho um ótimo compositor.

Andréa Maria Moura disse...

o trabalho de Francis é inquestionável. Mas sem dúvida Guinga já faz parte da história da música brasileira. Com o tempo, figurará ao lado de Radamés e Tom, coisa para poucos. Quanto ao entendimento da sua voz e interpretação, infelizmente - tbém é coisa para poucos.

Andréa Maria Moura disse...

O talento de Francis é inquestionável. Mas sem dúvida Guinga já faz parte da história da música brasileira. Com o tempo, figurará ao lado de Radamés e Tom, coisa para poucos. Quanto ao entendimento da sua voz e interpretação, infelizmente - tbém é coisa para poucos.

Maria disse...

Guinga também se destaca como violonista é dos bons.

Denilson Santos disse...

Que maravilha ver dois míticos artistas da música brasileira prestigiando dois jovens compositores cariocas, Edu Kneip e Thiago Amud, os quais, apesar da juventude, estão entre os melhores compositores do Brasil no momento.

Maravilha de disco...

abração,
Denilson