Mauro Ferreira no G1

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sábado, 23 de fevereiro de 2013

Kleber Albuquerque prova vitalidade da canção amorosa em '10 coisas...'

Resenha de CD
Título: 10 coisas que eu podia dizer no lugar de eu te amo
Artista: Kleber Albuquerque
Gravadora: Sete Sóis
Cotação: * * * 

"Às vezes me sinto anacrônico como um vendedor de caleidoscópios por debruçar-me sobre um gênero já há tanto tempo dado como morto, como é a canção. Mas o fato é que este 10 coisas que eu podia dizer no lugar de eu te amo é um claro disco de canções brasileiras. Mais do que isso, é um disco de canções brasileiras de amor, coisa que os mais modernos talvez considerassem coisa mais extinta do que a varíola. Talvez eu devesse pedir desculpas públicas nestes tempos de música tão sensorial (...)". Com fina dose de ironia, o cantor e compositor paulista Kleber Albuquerque conceitua com clareza este seu sexto álbum autoral, 10 coisas que eu podia dizer no lugar de eu te amo, no texto que escreveu para apresentar o CD que está lançando de forma independente neste mês de fevereiro de 2013. De fato, sem aderir a turmas e modismos, o artista atesta a vitalidade da canção neste disco de vários sotaques, aberto a capella com o samba cool Besouro (Kleber Albuquerque), belo cartão de visitas deste álbum gravado entre janeiro e maio de 2012 com produção do próprio Kleber Albuquerque. 10 coisas que eu podia dizer no lugar de eu te amo apresenta flashes de viagem amorosa ao longo de suas 14 músicas. Viagem no sentido literal e poético. Se a maranhense Lúcia Santos poetiza a solidão na estradeira balada All star (Single soul) (Kleber Albuquerque e Lúcia Santos), os versos de Sérgio Lima situam a leve Brincadeira de amor (Kleber Albuquerque e Sérgio Lima) em Salvador (BA), cenário ensolarado da axé music. Já Procura no google (Kleber Albuquerque) é levada para o interior pelo toque da sanfona de Ricardo Prado sem chegar a ser uma toada sertaneja. Com sua voz eficaz de cantautor, Kleber revolve memórias das águas em Vazante (Kleber Albuquerque) - faixa entoada com a cantora Elaine Guimarães -  e segue o curso do rio romântico em Canoeiro (Kleber Albuquerque) em ritmo regional que evoca o balanço do xote. Metalinguística, Maquinário (Kleber Albuquerque) aciona a fábrica de canções e poesia com menor dose de inspiração. Entre a valsa Permitido (Kleber Albuquerque) e o fado Devoluto (Kleber Albuquerque e Sérgio Natureza), 10 coisas que eu podia dizer no lugar de eu te amo sintoniza Tevê, parceria com Zeca Baleiro, que versa sobre a vida que passa, solitária, em frente à tela que exibe comerciais, novelas e filmes de drama e conteúdo vulgares. Baleiro, aliás, também marca presença como cantor convidado do disco, recitando versos poéticos de Sérgio Natureza no recém-citado Devoluto, fado em que Kleber simula leve sotaque português. Enfim, por mais que seja variável o grau de inspiração das 14 canções de amor e solidão do CD, 10 coisas que eu podia dizer no lugar de eu te amo expõe o valor de gênero que atravessa gerações e turmas, mesmo soando anacrônica para mudernos sensoriais.

7 comentários:

Mauro Ferreira disse...

"Às vezes me sinto anacrônico como um vendedor de caleidoscópios por debruçar-me sobre um gênero já há tanto tempo dado como morto, como é a canção. Mas o fato é que este 10 coisas que eu podia dizer no lugar de eu te amo é um claro disco de canções brasileiras. Mais do que isso, é um disco de canções brasileiras de amor, coisa que os mais modernos talvez considerassem coisa mais extinta do que a varíola. Talvez eu devesse pedir desculpas públicas nestes tempos de música tão sensorial (...)". Com fina dose de ironia, o cantor e compositor paulista Kleber Albuquerque conceitua com clareza este seu sexto álbum autoral, 10 coisas que eu podia dizer no lugar de eu te amo, no texto que escreveu para apresentar o CD que está lançando de forma independente neste mês de fevereiro de 2013. De fato, sem aderir a turmas e modismos, o artista atesta a vitalidade da canção neste disco de vários sotaques, aberto a capella com o samba cool Besouro (Kleber Albuquerque), belo cartão de visitas deste álbum gravado entre janeiro e maio de 2012 com produção do próprio Kleber Albuquerque. 10 coisas que eu podia dizer no lugar de eu te amo apresenta flashes de viagem amorosa ao longo de suas 14 músicas. Viagem no sentido literal e poético. Se a maranhense Lúcia Santos poetiza a solidão na estradeira balada All star (Single soul) (Kleber Albuquerque e Lúcia Santos), os versos de Sérgio Lima situam a leve Brincadeira de amor (Kleber Albuquerque e Sérgio Lima) em Salvador (BA), cenário ensolarado da axé music. Já Procura no google (Kleber Albuquerque) é levada para o interior pelo toque da sanfona de Ricardo Prado sem chegar a ser uma toada sertaneja. Com sua voz eficaz de cantautor, Kleber revolve memórias das águas em Vazante (Kleber Albuquerque) - faixa entoada com a cantora Elaine Guimarães - e segue o curso do rio romântico em Canoeiro (Kleber Albuquerque) em ritmo regional que evoca o balanço do xote. Metalinguística, Maquinário (Kleber Albuquerque) aciona a fábrica de canções e poesia com menor dose de inspiração. Entre a valsa Permitido (Kleber Albuquerque) e o fado Devoluto (Kleber Albuquerque e Sérgio Natureza), 10 coisas que eu podia dizer no lugar de eu te amo sintoniza Tevê, parceria com Zeca Baleiro, que versa sobre a vida que passa, solitária, em frente à tela que exibe comerciais, novelas e filmes de drama e conteúdo vulgares. Baleiro, aliás, também marca presença como cantor convidado do disco, recitando versos poéticos de Sérgio Natureza no recém-citado Devoluto, fado em que Kleber simula leve sotaque português. Enfim, por mais que seja variável o grau de inspiração das 14 canções de amor e solidão do CD, 10 coisas que eu podia dizer no lugar de eu te amo expõe o valor de gênero que atravessa gerações e turmas, mesmo soando anacrônica para mudernos sensoriais.

Anônimo disse...

Muito boa a ironia do rapaz...
Mas, cara, por que que pra falar de amor tem que ser em forma de canção - nos moldes de 30/40 anos atrás?
Lucas Santtana e Céu, dois pontas de lança dos sons moderninhos, falam de amor em suas músicas.
E, engraçado, quem aventou em entrevista a morte da canção foi um cara que nunca teve seu som linkado a modernidade.
Um tal de Chico Buarque.
No mais, eu acho que gêneros musicais podem vir a morrer, sim.
Só o amor é indelével. :-)

Anônimo disse...

Ahh, só pra ficar claro.
O Chico levantou essa hipótese, pelo que me lembro, sem qualquer comoção.
A busca pela modernidade/novos sons não deve ser motivo de chacota em prol de um passado ilibado e imaculado.
Acho que foi o Picasso quem disse:
"Cansei de ser moderno. Agora quero ser eterno"
Conseguiu ser os dois.
Como se vê, não são incompatíveis.

Mauro Ferreira disse...

oi, Zé Henrique, concordo com tudo o que vc escreveu. A questão me parece outra: é que há 'mudernos' que desqualificam quem faz canções em forma mais tradicional, como se fosse um gênero menor, ultrapassado. E, na boa, o que todo compositor almeja no fundo é fazer uma grande canção. Abs, MauroF

Rubens Lisboa disse...

Dez para vc, Mauro!

CN disse...

Kleber é um dos nossos artistas contemporâneos mais interessantes. Vou conferir este novo cd. Sucesso pra ele!
Carlos Navas

Anônimo disse...

Entendi perfeitamente a crítica/ironia dele mostrando esse preconceito, Mauro.
Só quis mostrar que o preconceito, quase sempre, é via de mão dupla.
Há gente que acha que ser moderno é uma coisa menor, um modismo sem valor.
Quanto a canção mais tradicional, não é um gênero menor, claro, nem ultrapassado. Talvez para as novas gerações seja um gênero cansado.
Toda arte reflete sua época.
Mas, enfim, há gosto para tudo.
Que bom!

PS: Já que o Mauro concordou com tudo que disse tb quero um dez.
Trauma de escola, nunca tive. hehhee

Abraço!