Mauro Ferreira no G1

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sábado, 12 de maio de 2012

CD 'Sambabook 2' reitera a poderosa criatividade da obra de João Nogueira

Resenha de CD
Título: Sambabook João Nogueira 2
Artista:  Vários
Gravadora: Musickeria
Cotação: * * * *

Superior ao volume 1 pela qualidade das interpretações do elenco convidado para celebrar o legado de João Nogueira (1941 - 2000), o CD Sambabook João Nogueira 2 reitera a poderosa criatividade do compositor carioca na arte de fazer samba. O ato da criação é o tema de dois sambas antológicos,  Súplica (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1979) e Poder da Criação (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1980), primeira e segunda partes, respectivamente, da célebre Trilogia do Alumbramento - defendidas com reverência por Mart'nália e Beth Carvalho neste disco que alinha 12 gravações inéditas da obra do artista. Perfeitamente ambientado em Alô Madureira (João Nogueira, 1972), Arlindo Cruz toma partido deste samba lançado no primeiro álbum de Nogueira. Outro lado B do cancioneiro do compositor, Amor de Fato (João Nogueira e Cláudio Jorge, 1978) é reavivado por Dudu Nobre com a autoridade de assíduo frequentador dos pagodes cariocas que, anos antes, fizeram frutificar a carreira do Fundo de Quintal, grupo que calça o pouco usado Chinelo Novo (João Nogueira e Niltinho Tristeza,1997). Já o sucesso Nó na Madeira (João Nogueira e Eugênio Monteiro, 1975) ganha a voz de Djavan em gravação que remete às incursões no universo do samba feitas  pelo compositor alagoano nos anos 70. O rapper sambista Marcelo D2 anima Baile no Elite (João Nogueira e Nei Lopes, 1978) sem a tentação de fazer discurso. Leny Andrade também resiste à tentação de fazer scats ao interpretar Batendo a Porta (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1974), samba que alavancou a carreira fonográfica de João ao ser gravado pelo compositor em seu segundo álbum. Intérprete de grande luminosidade, Mariene de Castro reacende Um Ser de Luz (João Nogueira, Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, 1983) no quintal carioca, sem a pegada afro-baiana da gravação simultânea feita para seu recém-lançado segundo disco de estúdio, Tabaroinha. Confirmado sua evolução como intérprete, Diogo Nogueira acerta o tom melancólico do poético Chorando pelos Dedos (João Nogueira e Cláudio Jorge, 1975) em gravação valorizada pelo bandolim singular de Hamilton de Holanda. No fim do disco produzido por Diogo com Afonso Machado sob a respeitosa direção musical de Alceu Maia, o elenco dos volumes 1 e 2 do Sambabook João Nogueira se une no coro de Clube do Samba (João Nogueira, 1983), partido puxado por Diogo com a autoridade de ser o filho do homem. Arremate festivo para este belo e  oportuno tributo ao poder da criação do compositor João Nogueira  no clube do samba.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Superior ao volume 1 pela qualidade das interpretações do elenco convidado para celebrar o legado de João Nogueira (1941 - 2000), o CD Sambabook João Nogueira 2 reitera a poderosa criatividade do compositor carioca na arte de fazer samba. O ato da criação é o tema de dois sambas antológicos, Súplica (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1979) e Poder da Criação (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1980), primeira e segunda partes, respectivamente, da célebre Trilogia do Alumbramento - defendidas com reverência por Mart'nália e Beth Carvalho neste disco que alinha 12 gravações inéditas da obra do artista. Perfeitamente ambientado em Alô Madureira (João Nogueira, 1972), Arlindo Cruz toma partido deste samba lançado no primeiro álbum de Nogueira. Outro lado B do cancioneiro do compositor, Amor de Fato (João Nogueira e Cláudio Jorge, 1978) é reavivado por Dudu Nobre com a autoridade de assíduo frequentador dos pagodes cariocas que, anos antes, fizeram frutificar a carreira do Fundo de Quintal, grupo que calça o pouco usado Chinelo Novo (João Nogueira e Niltinho Tristeza,1997). Já o sucesso Nó na Madeira (João Nogueira e Eugênio Monteiro, 1975) ganha a voz de Djavan em gravação que remete às incursões no universo do samba feitas pelo compositor alagoano nos anos 70. O rapper sambista Marcelo D2 anima Baile no Elite (João Nogueira e Nei Lopes, 1978) sem a tentação de fazer discurso. Leny Andrade também resiste à tentação de fazer scats ao interpretar Batendo a Porta (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1974), samba que alavancou a carreira fonográfica de João ao ser gravado pelo compositor em seu segundo álbum. Intérprete de grande luminosidade, Mariene de Castro reacende Um Ser de Luz (João Nogueira, Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, 1983) no quintal carioca, sem a pegada afro-baiana da gravação simultânea feita para seu recém-lançado segundo disco de estúdio, Tabaroinha. Confirmado sua evolução como intérprete, Diogo Nogueira acerta o tom melancólico do poético Chorando pelos Dedos (João Nogueira e Cláudio Jorge, 1975) em gravação valorizada pelo bandolim singular de Hamilton de Holanda. No fim do disco produzido por Diogo com Afonso Machado sob a respeitosa direção musical de Alceu Maia, o elenco dos volumes 1 e 2 do Sambabook João Nogueira se une no coro de Clube do Samba (João Nogueira, 1983), partido puxado por Diogo com a autoridade de filho do homem. Arremate festivo para o (belo) tributo ao poder da criação de João Nogueira.

Bruno disse...

Sou fã de Alceu Maia como cavaquinhista... mas já não o considero um bom arranjador ou produtor musical. Tivesse sido comandado por um Rildo Hora ou mesmo por um Paulão 7 Cordas, estes dois discos talvez pudessem ser menos caretas, menos burocráticos. Tudo é bonito, tudo é limpo, tudo é certinho demais. Mas faltou ousadia, criatividade, faltou aquilo que às vezes se ouvia nos Songbooks do Chediak: emoção e arte. É lindo ouvir Alcione, Beth Carvalho, Mart'nália, Teresa Cristina e Mariene de Castro emprestando suas lindas vozes às joias de João Nogueira. Mas faltou aquele momento sublime, aquela coisa que nos emociona, aquela jogada musical que faz a vida valer a pena. Falou aquela coisa que tem faltado em quase todos os discos coletivos de hoje.

Dido Borges disse...

Clara Nunes, a grande ausente!

Anônimo disse...

Só se fosse através de Chico Xavier. Tb ausente.

Alceu disse...

Sobre o comentário do Bruno, acima: agradeço pelas palavras do início do seu "post", mas gostaria de esclarecer algumas coisas sobre o que vc escreveu (talvez vc não esteja informado): os arranjos todos do Samba Book aos quais, segundo vc, faltaram "oudadia e arte", são transcrições dos arranjos originais adaptados à formação da banda do Samba Book. Não se pode comparar aos arranjos dos Song Books do Chediak, que são releituras das obras dos homenageados.