Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 9 de maio de 2012

Vivências interioranas dão o (belo) tom sertanejo de 'Chão de Aquarela'

Resenha de CD
Título: Chão de Aquarela
Artista: Simone Guimarães e Cristina Saraiva
Gravadora: Tiê
Cotação: * * * * 

Em seu sétimo (estupendo) CD, Casa de Morar, Renato Braz segue com inspiração a trilha do Brasil rural, pavimentando caminho melódico e poético que beira o sublime em Relento, parceria de Simone Guimarães e Cristina Saraiva, cantoras e compositoras que seguem a mesma trilha interiorana em seu recém-lançado álbum Chão de Aquarela, idealizado para celebrar os 15 anos da parceria das artistas, autoras de todas as 12 faixas do disco. Sintomaticamente, Relento e Braz figuram no CD produzido por Cristina Saraiva sob a direção musical de Mario Gil (habitante fundamental da Casa de Morar do cantor), de Simone Guimarães e da própria Cristina. Música lançada por Simone em seu álbum Aguapé (1999), Relento aparece em Chão de Aquarela em registro mais singelo, pontuado pela viola de Julio Santin. Braz terça voz com Simone em Estrela da Noite, tema de cores mais densas que exemplifica a sofisticação harmônica, melódica e poética de repertório que combina inéditas com regravações de músicas já gravadas pelas cantoras e compositoras em seus álbuns. Tal refinamento jamais dá tom rebuscado a Chão de Aquarela. Ao contrário. Temas como Ê Saudade e Estrela do Meu Bem Querer foram formatados à moda das rodas que se formam nas noites interioranas do Brasil para dar início a cantorias pontuadas pela viola, instrumento recorrente no disco. Desafios - arranjada por Maurício Maestro, intérprete original do tema - abre o disco com valentia que reitera que o sertanejo é mesmo um forte (Maestro faz vocal em Beijo, outra faixa que tem arranjo de sua autoria). Força que transparece inclusive na arquitetura de melodias e letras como as criadas por Simone e Cristina com base em suas vivências interiorana. As compositoras cruzam as estradas do sertão brasileiro falando de amor e da religiosidade - assuntos costurados com poesia em Um Canto de Amor, uma das belas inéditas deste disco que tangencia também o universo forrozeiro no xote Na Trilha do Amor. Tratado de forma sagrada e poética no cancioneiro reunido em Chão de Aquarela, o amor é o mote da inédita Fronteira e da tristonha Fábula do Riacho, recontada no disco com arranjo de tom camerístico orquestrado pelo violonista Luiz Cláudio Ramos. Enfim, com o mais puro dos sentimentos sertanejos, Simone Guimarães e Cristina Saraiva dão fôlego a um gênero hoje banalizado no imaginário popular por conta do baixo nível da produção que chega às paradas. Com cores suaves, Chão de Aquarela repisa a estrada interiorana desbravada por nomes como Renato Teixeira e Almir Sater com apego às tradições musicais do Brasil rural, fazendo "um som que vem nos tempos e corre nas veias da tarde", como poetiza Cristina Saraiva na letra de Canção Para um Pianista 2, faixa de tom mais interiorizado que fecha o disco com síntese da música e do universo pintado com grande beleza pelas artistas parceiras em Chão de Aquarela.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Em seu sétimo (estupendo) CD, Casa de Morar, Renato Braz segue com inspiração a trilha do Brasil rural, pavimentando caminho melódico e poético que beira o sublime em Relento, parceria de Simone Guimarães e Cristina Saraiva, cantoras e compositoras que seguem a mesma trilha interiorana em seu recém-lançado álbum Chão de Aquarela, idealizado para celebrar os 15 anos da parceria das artistas, autoras de todas as 12 faixas do disco. Sintomaticamente, Relento e Braz figuram no CD produzido por Cristina Saraiva sob a direção musical de Mario Gil (habitante fundamental da Casa de Morar do cantor), de Simone Guimarães e da própria Cristina. Música lançada por Simone em seu álbum Aguapé (1999), Relento aparece em Chão de Aquarela em registro mais singelo, pontuado pela viola de Julio Santin. Braz terça voz com Simone em Estrela da Noite, tema de cores mais densas que exemplifica a sofisticação harmônica, melódica e poética de repertório que combina inéditas com regravações de músicas já gravadas pelas cantoras e compositoras em seus álbuns. Tal refinamento jamais dá tom rebuscado a Chão de Aquarela. Ao contrário. Temas como Ê Saudade e Estrela do Meu Bem Querer foram formatados à moda das rodas que se formam nas noites interioranas do Brasil para dar início a cantorias pontuadas pela viola, instrumento recorrente no disco. Desafios - arranjada por Maurício Maestro, intérprete original do tema - abre o disco com valentia que reitera que o sertanejo é mesmo um forte (Maestro faz vocal em Beijo, outra faixa que tem arranjo de sua autoria). Força que transparece inclusive na arquitetura de melodias e letras como as criadas por Simone e Cristina com base em suas vivências interiorana. As compositoras cruzam as estradas do sertão brasileiro falando de amor e da religiosidade - assuntos costurados com poesia em Um Canto de Amor, uma das belas inéditas deste disco que tangencia também o universo forrozeiro no xote Na Trilha do Amor. Tratado de forma sagrada e poética no cancioneiro reunido em Chão de Aquarela, o amor é o mote da inédita Fronteira e da tristonha Fábula do Riacho, recontada no disco com arranjo de tom camerístico orquestrado pelo violonista Luiz Cláudio Ramos. Enfim, com o mais puro dos sentimentos sertanejos, Simone Guimarães e Cristina Saraiva dão fôlego a um gênero hoje banalizado no imaginário popular por conta do baixo nível da produção que chega às paradas. Com cores suaves, Chão de Aquarela repisa a estrada interiorana desbravada por nomes como Renato Teixeira e Almir Sater com apego às tradições musicais do Brasil rural, fazendo "um som que vem nos tempos e corre nas veias da tarde", como poetiza Cristina Saraiva na letra de Canção Para um Pianista 2, faixa de tom mais interiorizado que fecha o disco com síntese da música e do universo pintado pelas artistas parceiras com grande beleza em Chão de Aquarela.

lurian disse...

Apesar do disco vir com metade de regravações a coerência interna, as letras, as harmonias e a escolha dos arranjos fazem dele um passeio pelo ser/tão, uma viagem horas lúdica, horas densa, horas apaixonada ou sofrida, mas sempre intensa... A sensação é realmente em pisar num chão dessas aquarelas (A Simone Guimarães pinta tbm!). Destaco "Olhos de fogo" que ficou linda na voz da dupla, assim como "Ê saudade". Pra mim, esse sim, um dos melhores discos do ano!!!
Vida longa à linda parceria de Simone e Cristina!!!

Jeferson Garcia disse...

De chorar de tão bonito!
Salve Simone e Cristina!

CN disse...

Meu Deus, que noticia otima. Vou atras deste CD. Simone Guimarães é uma DEUSA. Cristina Saraiva é guerreira , ousada e jamais se rendeu ao banal.Parabens a elas!
Carlos Navas