Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 24 de maio de 2012

Quando Ney chega, todo mundo se agita no erotizado show 'Infernynho'

Resenha de show
Título: Infernynho
Artistas: Marília Bessy e Ney Matogrosso (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Teatro Rival (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 23 de maio de 2012
Cotação: * * * 1/2

"Quando ele chega / Todo mundo se agita / Quando ele canta / Todo mundo canta com ele / E todo mundo sabe quem ele", deu a senha Marília Bessy, dando a pista de que Ney Matogrosso iria entrar no palco do Teatro Rival para a partir de então dividir a cena com a cantora no show Infernynho. De fato, Ney apareceu no meio do número e dançou no palco enquanto Bessy terminava de cantar Quem É Ele? (Betto Gouglas e Fernando Santos), sucesso nacional em 1978, em pleno apogeu da disco music, na voz efêmera da cantora cearense Miss Lene. A sacação de usar o hit de Miss Lene para pontuar a entrada do cantor - ideia do diretor e roteirista do show, Rodrigo Faour - foi perfeita porque, sim, todo mundo se agitou no Infernynho quando Ney chegou e fez o show bombar. Majoritariamente senhoril, o público que lotou o Teatro Rival na noite de 23 de maio de 2012 estava ali somente para ver Ney cantar músicas sensuais, às vezes até erotizadas, revivendo de certa forma a postura libertária dos históricos shows que fez entre a segunda metade dos anos 70 e a primeira dos 80. Isso fez com que o set individual de Bessy - cantora de alma e postura roqueira - fosse recebido com frieza. Nem quando recorreu a sucessos do rock brasileiro dos anos 80 como Louras Geladas (Paulo Ricardo e Luiz Schiavon, 1985), degustado em (ótimo) arranjo que alternou ambiências, indo de clima inicialmente lânguido até a pegada frenética de um ragga, Bessy conseguiu contagiar a plateia. Diretora musical e idealizadora do show, a cantora somente conseguiu alguma interação com o público quando acendeu Fogo e Paixão (Wando e Rose, 1985) e fez parte desse público fazer coro no sucesso de Wando (1945 - 2012), cantor popularizado a partir da segunda metade da década de 80 por repertório de tom erotizado que se ajusta bem ao clima acalorado de Infernynho. Até que Ney Matogrosso chegou e acendeu o fogo da plateia apaixonada por ele. À beira dos 71 anos, mas com um corpinho de 20 e a voz dos 30 e poucos anos, Ney reiterou sua força cênica desde que pisou no palco do Teatro Rival. Após dançar com ar sedutor em Quem É Ele?, o cantor assumiu o microfone e interpretou Amor Objeto - delícia pop de Rita Lee e Roberto de Carvalho - no mesmo tom da gravação original de 1981. Hábeis na junção de amor e sexo em seu pop rock, o casal Rita & Roberto é não por acaso nome recorrente no roteiro de Infernynho. São deles Bem-me-Quer (1980) e Banho de Espuma (1981), joias cantadas em tom esfuziante por Ney e Bessy no carnavalizante medley final feito bem depois de, na sequência de Amor Objeto, Ney ter rebobinado - com Bessy na guitarra - O Que Você Quer de Mim? (Marília Bessy, Rodrigo Santos e Mauro Stª Cecília, 2011), música a que deu voz em recente CD da artista, Doce Devassa (2011). Neste dueto, os cantores esboçaram um tom teatral que atingiria seu ápice em Meu Sangue Ferve por Você (M. Pancol, Jack Arel, C. Carrere e Freddie Meyer em versão em português de Serafim Costa Almeida, 1976), sucesso do amante latino Sidney Magal nos anos 70. No fervido número, o hit de Magal é revivido com Bessy aos pés de Ney. Fã assumido do cancioneiro kitsch nacional, Faour concilia  no roteiro desde sucesso da rebolativa Gretchen - Conga Conga Conga (Mister Sam, 1980), solado por Bessy em ralentado ritmo jazzy enquanto se roça no corpo de Ney, que permanece sentado em todo o erotizado número - até (insosso) tema dançante e malicioso gravado pelo grupo Roupa Nova em 1982, Vira de Lado (Mariozinho Rocha, Serginho e Ricardo Feghali). Contudo, o grande poder de sedução de Infernynho reside no fato de fazer Ney voltar a um repertório que não cantava há cerca de 30 anos. Originalmente gravado pelo cantor em 1982 em clima forrozeiro, Por Debaixo dos Panos (Cecéu, 1978) ganha pegada roqueira. O número mostra que, mesmo quando lê as letras, o cantor não deixa que a necessidade dessas leituras atrapalhe suas interpretações, habitualmente sedutoras. Em Trepa no Coqueiro (Ary Kerner), o cantor ressalta a malícia da música que gravou no álbum Bandido (1976) enquanto chega ao ponto de simular orgasmo ao fim de Açúcar Candy (Sueli Costa e Tite de Lemos, 1975), tema de versos como "Tua pistola dispara baunilha na minha boca", ousados para a época. Sim, em plena era ditatorial, Ney gozou na cara de seus opressores com gravação de 1975 que gerou número igualmente ousado de show dos anos 70. "Um pouco de indecência é sempre necessário", pregara Marília Bessy ao abrir seu set com A Indecência (Paula Toller e George Israel, 1991), tema obscuro de um disco em que o trio carioca Kid Abelha sentenciou que tudo é permitido. Em Infernynho, show que inspirou rock composto por Bessy com Eduardo Dussek e apresentado no bis, Ney se permite correr riscos para evocar o período mais libertário de sua carreira. Veículo para o exercício da vaidade do diretor, a aparição de Faour no palco para apresentar o show - na abertura das cortinas - teria feito mais sentido se, nesse momento, ele se valesse de texto que contextualizasse esse repertório sensual na trajetória de Ney. É Ney Matogrosso quem esquenta o Infernynho e é por ele que Infernynho chega ao céu.

6 comentários:

Mauro Ferreira disse...

"Quando ele chega / Todo mundo se agita / Quando ele canta / Todo mundo canta com ele / E todo mundo sabe quem ele", deu a senha Marília Bessy, dando a pista de que Ney Matogrosso iria entrar no palco do Teatro Rival para a partir de então dividir a cena com a cantora no show Infernynho. De fato, Ney apareceu no meio do número e dançou no palco enquanto Bessy terminava de cantar Quem É Ele? (Betto Gouglas e Fernando Santos), sucesso nacional em 1978, em pleno apogeu da disco music, na voz efêmera da cantora cearense Miss Lene. A sacação de usar o hit de Miss Lene para pontuar a entrada do cantor - ideia do diretor e roteirista do show, Rodrigo Faour - foi perfeita porque, sim, todo mundo se agitou no Infernynho quando Ney chegou e fez o show bombar. Majoritariamente senhoril, o público que lotou o Teatro Rival na noite de 23 de maio de 2012 estava ali somente para ver Ney cantar músicas sensuais, às vezes até erotizadas, revivendo de certa forma a postura libertária dos históricos shows que fez entre a segunda metade dos anos 70 e a primeira dos 80. Isso fez com que o set individual de Bessy - cantora de alma e postura roqueira - fosse recebido com frieza. Nem quando recorreu a sucessos do rock brasileiro dos anos 80 como Louras Geladas (Paulo Ricardo e Luiz Schiavon, 1985), degustado em (ótimo) arranjo que alternou ambiências, indo de clima inicialmente lânguido até a pegada frenética de um ragga, Bessy conseguiu contagiar a plateia. Diretora musical e idealizadora do show, a cantora somente conseguiu alguma interação com o público quando acendeu Fogo e Paixão (Wando e Rose, 1985) e fez parte desse público fazer coro no sucesso de Wando (1945 - 2012), cantor popularizado a partir da segunda metade da década de 80 por repertório de tom erotizado que se ajusta bem ao clima acalorado de Infernynho. Até que Ney Matogrosso chegou e acendeu o fogo da plateia apaixonada por ele. À beira dos 71 anos, mas com um corpinho de 20 e a voz dos 30 e poucos anos, Ney reiterou sua força cênica desde que pisou no palco do Teatro Rival. Após dançar com ar sedutor em Quem É Ele?, o cantor assumiu o microfone e interpretou Amor Objeto - delícia pop de Rita Lee e Roberto de Carvalho - no mesmo tom da gravação original de 1981. Hábeis na junção de amor e sexo em seu pop rock, o casal Rita & Roberto é não por acaso nome recorrente no roteiro de Infernynho. São deles Bem-me-Quer (1980) e Banho de Espuma (1981), joias cantadas em tom esfuziante por Ney e Bessy no carnavalizante medley final feito bem depois de, na sequência de Amor Objeto, Ney ter rebobinado - com Bessy na guitarra - O Que Você Quer de Mim? (Marília Bessy, Rodrigo Santos e Mauro Stª Cecília, 2011), música a que deu voz em recente CD da artista, Doce Devassa (2011). Neste dueto, os cantores esboçaram um tom teatral que atingiria seu ápice em Meu Sangue Ferve por Você (M. Pancol, Jack Arel, C. Carrere e Freddie Meyer em versão em português de Serafim Costa Almeida, 1976), sucesso do amante latino Sidney Magal nos anos 70. No fervido número, o hit de Magal é revivido com Bessy aos pés de Ney.

Mauro Ferreira disse...

Fã assumido do cancioneiro kitsch nacional, Faour concilia no roteiro desde sucesso da rebolativa Gretchen - Conga Conga Conga (Mister Sam, 1980), solado por Bessy em ralentado ritmo jazzy enquanto se roça no corpo de Ney, que permanece sentado em todo o erotizado número - até (insosso) tema dançante e malicioso gravado pelo grupo Roupa Nova em 1982, Vira de Lado (Mariozinho Rocha, Serginho e Ricardo Feghali). Contudo, o grande poder de sedução de Infernynho reside no fato de fazer Ney voltar a um repertório que não cantava há cerca de 30 anos. Originalmente gravado pelo cantor em 1982 em clima forrozeiro, Por Debaixo dos Panos (Cecéu, 1978) ganha pegada roqueira. O número mostra que, mesmo quando lê as letras, o cantor não deixa que a necessidade dessas leituras atrapalhe suas interpretações, habitualmente sedutoras. Em Trepa no Coqueiro (Ary Kerner), o cantor ressalta a malícia da música que gravou no álbum Bandido (1976) enquanto chega ao ponto de simular orgasmo ao fim de Açúcar Candy (Sueli Costa e Tite de Lemos, 1975), tema de versos como "Tua pistola dispara baunilha na minha boca", ousados para a época. Sim, em plena era ditatorial, Ney gozou na cara de seus opressores com gravação de 1975 que gerou número igualmente ousado de show dos anos 70. "Um pouco de indecência é sempre necessário", pregara Marília Bessy ao abrir seu set com A Indecência (Paula Toller e George Israel, 1991), tema obscuro de um disco em que o trio carioca Kid Abelha sentenciou que tudo é permitido. Em Infernynho, show que inspirou rock composto por Bessy com Eduardo Dussek e apresentado no bis, Ney se permite correr riscos para evocar o período mais libertário de sua carreira. Veículo para o exercício da vaidade do diretor, a aparição de Faour no palco para apresentar o show - na abertura das cortinas - teria feito mais sentido se, nesse momento, ele se valesse de texto que contextualizasse esse repertório sensual na trajetória de Ney. É Ney Matogrosso quem esquenta o Infernynho e é por ele que Infernynho chega ao céu.

aguiar_luc disse...

Tem agenda de shows já?

Mauro Ferreira disse...

Aguiar, deverá haver outra apresentação em julho e há planos de gravação de DVD. Mas não há data, por ora. Abs, MauroF

aguiar_luc disse...

Brigadinho Mauro, estou na esperança desse show vir ao Recife ou quem sabe pro Festival de Inverno de Garanhuns, seria ótimo!

Anônimo disse...

Mauro o Ney vai dirigir o novo show de Ana Cañas...