Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


terça-feira, 29 de maio de 2012

Com ou sem a engrenagem sinfônica, máquina de ritmo de Gil funciona

Resenha de show - Gravação de DVD
Evento: Série MPB & Jazz 2012
Título do show: Gilberto Gil Sinfônico - Concerto de Cordas e Máquinas de Ritmo
Artista: Gilberto Gil (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Theatro Municipal do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 28 de maio de 2012
Cotação: * * * *

Com ou sem a engrenagem sinfônica da Orquestra Petrobrás, a máquina de ritmos de Gilberto Gil - em atividade ininterrupta há 50 anos - funcionou muito bem na gravação ao vivo do espetáculo Gilberto Gil Sinfônico - Concerto de Cordas e Máquinas de Ritmo. Feito para edição em CD ao vivo e em  DVD filmado sob a direção do Andrucha Waddington, o registro do concerto aconteceu em apresentação aberta ao público no Theatro Municipal do Rio de Janeiro (RJ) na noite de ontem, 28 de maio de 2012. Autossuficiente, a máquina rítmica do artista mostrou que nem precisa de tanto aparato quando, a sós com seu violão, Gil extraiu sons percussivos do instrumento e esboçou soturno registro vocal para tocar nas questões transcendentais da letra da canção Não Tenho Medo da Morte (Gilberto Gil), um dos números mais sedutores do roteiro que enfileirou 21 músicas de lavra própria e alheia. Aliás, até a máquina vocal - que andou dando sinais de desgaste nos últimos anos - estava azeitada, viçosa. Ao longo de duas horas de concerto, o cantor alternou números feitos somente com sua Banda Quatro - Bem Gil (violão), Gustavo Di Dalva (percussão), Jaques Morelenbaum (violoncelo) e Nicolas Krassik (violino), quarteto ao qual se juntou em cena Eduardo Manso, responsável pelos (sutis) efeitos eletrônicos - e outros feitos com a adição da Orquestra Petrobrás Sinfônica, todos apresentados sob a direção musical do próprio Gil e sob as regências (também alternadas) dos maestros Carlos Prazeres e Jaques Morelenbaum. Dos números orquestrais, o maior destaque foi Domingo no Parque (Gilberto Gil), revivido com arranjo introduzido pelo berimbau de Gustavo Di Dalva. A majestosa orquestração de Jaques Morelenbaum aproveitou bem as cordas da Sinfônica ao mesmo tempo em que preservou a pulsação original da música de 1967 e reverenciou o antológico arranjo (de natureza já orquestral) criado pelo maestro tropicalista Rogério Duprat (1932 - 2006). Houve ecos das orquestrações de Duprat também no arranjo de Panis et Circensis (Gilberto Gil e Caetano Veloso), outro tema emblemático da era tropicalista. E cabe ressaltar que o arranjo orquestral de La Renaissance Africaine (Gilberto Gil) também foi show à parte no espetáculo programado dentro da série MPB & Jazz, criada por Giselle Goldoni Tiso e Wagner Tiso. Em roteiro corajoso, Gil evitou redundâncias e, em vez de enfileirar hits, optou por revisitar canções autorais de menor empatia popular como Quanta (Gilberto Gil) - faixa-título do álbum duplo editado em 1997 - e Futurível (Gilberto Gil), uma das quatro músicas que compôs na prisão, em 1969, como o cantor contou ao público. Fora da seara autoral, Gil celebrou compositores cujas obras prepararam o terreno para a arquitetura da música popular brasileira e para que ele, Gilberto Gil, erguesse sua própria construção, de proporções monumentais no universo da MPB. Do seminal Dorival Caymmi (1914 - 2008), Gil caiu no samba Saudade da Bahia (1957) com manemolência diluída pela própria natureza do arranjo orquestral. Do centenário Luiz Gonzaga (1912 - 1989), compositor cuja obra é um dos sustentáculos da música popular brasileira, Gil pescou Juazeiro (1949), baião da lavra inicial da parceria do mestre Lua com Humberto Teixeira (1915 - 1979). De Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994), outro compositor-base, Gil escolheu lindo samba da fase pré-Bossa Nova,  Outra Vez, de 1954. Mas a bossa, de certa forma, esteve representada na alma de várias canções e, por vias indiretas, no bis, quando o cantor tocou choro instrumental de 1997, Um Abraço no João, composto por Gil com inspiração em Um Abraço no Bonfá (1960), tema da lavra do papa do gênero, João Gilberto, tributado no choro de Gil. Coerente com o espírito globalizado de sua obra tropicalista, o cantor extrapolou as fronteiras brasileiras e inseriu também no roteiro tema de Jimi Hendrix (1942 - 1970) - Up From The Skies, música lançada pelo trio The Jimi Hendrix Experience em seu segundo álbum, Axis: Bold as Love (1967), que não funcionou bem na máquina de ritmo de Gil - e bolero de lavra refinada do compositor cubano Osvaldo Ferrés (1903 - 1985), Tres Palabras, envolto de forma mais clássica na moldura sinfônica. Somente com o acionamento das máquinas de ritmos da banda de Gil, o Expresso 2222 circulou vibrante, elétrico, eletrônico, já no bloco final, quando Andar com Fé (Gilberto Gil) caminhou bem com o arranjo orquestral e com as palmas do público, reiterando o êxito do concerto sinfônico de Gilberto Gil. Já à beira dos 70 anos, o artista ainda cruza o tempo com maestria.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Com ou sem a engrenagem sinfônica da Orquestra Petrobrás, a máquina de ritmos de Gilberto Gil - em atividade ininterrupta há 50 anos - funcionou muito bem na gravação ao vivo do espetáculo Gilberto Gil Sinfônico - Concerto de Cordas e Máquinas de Ritmo. Feito para edição em CD ao vivo e em DVD filmado sob a direção do Andrucha Waddington, o registro do concerto aconteceu em apresentação aberta ao público no Theatro Municipal do Rio de Janeiro (RJ) na noite de ontem, 28 de maio de 2012. Autossuficiente, a máquina rítmica do artista mostrou que nem precisa de tanto aparato quando, a sós com seu violão, Gil extraiu sons percussivos do instrumento e esboçou soturno registro vocal para tocar nas questões transcendentais da letra da canção Não Tenho Medo da Morte (Gilberto Gil), um dos números mais sedutores do roteiro que enfileirou 21 músicas de lavra própria e alheia. Aliás, até a máquina vocal - que andou dando sinais de desgaste nos últimos anos - estava azeitada, viçosa. Ao longo de duas horas de concerto, o cantor alternou números feitos somente com sua Banda Quatro - Bem Gil (violão), Gustavo Di Dalva (percussão), Jaques Morelenbaum (violoncelo) e Nicolas Krassik (violino), quarteto ao qual se juntou em cena Eduardo Manso, responsável pelos (sutis) efeitos eletrônicos - e outros feitos com a adição da Orquestra Petrobrás Sinfônica, todos apresentados sob a direção musical do próprio Gil e sob as regências (também alternadas) dos maestros Carlos Prazeres e Jaques Morelenbaum. Dos números orquestrais, o maior destaque foi Domingo no Parque (Gilberto Gil), revivido com arranjo introduzido pelo berimbau de Gustavo Di Dalva. A majestosa orquestração de Jaques Morelenbaum aproveitou bem as cordas da Sinfônica ao mesmo tempo em que preservou a pulsação original da música de 1967 e reverenciou o antológico arranjo (de natureza já orquestral) criado pelo maestro tropicalista Rogério Duprat (1932 - 2006). Houve ecos das orquestrações de Duprat também no arranjo de Panis et Circensis (Gilberto Gil e Caetano Veloso), outro tema emblemático da era tropicalista. E cabe ressaltar que o arranjo orquestral de La Renaissance Africaine (Gilberto Gil) também foi show à parte no espetáculo programado dentro da série MPB & Jazz, criada por Giselle Goldoni Tiso e Wagner Tiso. Em roteiro corajoso, Gil evitou redundâncias e, em vez de enfileirar hits, optou por revisitar canções autorais de menor empatia popular como Quanta (Gilberto Gil) - faixa-título do álbum duplo editado em 1997 - e Futurível (Gilberto Gil), uma das quatro músicas que compôs na prisão, em 1969, como o cantor contou ao público.

Mauro Ferreira disse...

Fora da seara autoral, Gil celebrou compositores cujas obras prepararam o terreno para a arquitetura da música popular brasileira e para que ele, Gil, erguesse sua própria construção, de proporções monumentais no universo da MPB. Do seminal Dorival Caymmi (1914 - 2008), Gil caiu no samba Saudade da Bahia (1957) com manemolência diluída pela própria natureza do arranjo orquestral. Do centenário Luiz Gonzaga (1912 - 1989), compositor cuja obra é um dos sustentáculos da música popular brasileira, Gil pescou Juazeiro (1949), baião da lavra inicial da parceria do mestre Lua com Humberto Teixeira (1915 - 1979). De Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994), outro compositor-base, Gil escolheu samba da fase pré-Bossa Nova, Outra Vez, de 1954. Mas a bossa, de certa forma, esteve representada na alma de várias canções e, por vias indiretas, no bis, quando o cantor tocou choro instrumental de 1997, Um Abraço no João, composto por Gil com inspiração em Um Abraço no Bonfá (1960), tema da lavra do papa do gênero, João Gilberto, tributado no choro de Gil. Coerente com o espírito globalizado de sua obra tropicalista, o cantor extrapolou as fronteiras brasileiras e inseriu também no roteiro tema de Jimi Hendrix (1942 - 1970) - Up From The Skies, música lançada pelo trio The Jimi Hendrix Experience em seu segundo álbum, Axis: Bold as Love (1967), que não funcionou bem na máquina de ritmo de Gil - e bolero de lavra refinada do compositor cubano Osvaldo Ferrés (1903 - 1985), Tres Palabras, envolto de forma mais clássica na moldura sinfônica. Somente com o acionamento das máquinas de ritmos da banda de Gil, o Expresso 2222 circulou vibrante, elétrico, eletrônico, já no bloco final, quando Andar com Fé (Gilberto Gil) caminhou bem com o arranjo orquestral e com as palmas do público, reiterando o êxito do concerto sinfônico de Gilberto Gil. Já à beira dos 70 anos, o artista ainda cruza tempos com maestria.

Maria disse...

Showzaço deve ter sido! Gil é mestre.

Luca disse...

o repertório foge do óbvio, isso é bom, mas espero que Gil faça logo o cd de sambas que disse que ia gravar

ADEMAR AMANCIO disse...

Orquestração sinfônica geralmente melhora qualquer música,se a arte é de gil,então,só vendo.