Mauro Ferreira no G1

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domingo, 13 de maio de 2012

Eva sobe e desce ladeira com 'CNRT', mas brilha no CD 'Conexão Nagô'

Resenha de CD
Título: CNRT - Conexão Nagô Rede Tambor
Artista: Eva
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * * 

Álbum duplo posto no mercado nacional pela gravadora Som Livre neste primeiro semestre de 2012, CNRT  é o mais ambicioso trabalho fonográfico da banda Eva. Na contramão dos banais registros ao vivo de shows que dominam a produção fonográfica do gênero rotulado como axé music, a banda - alavanca nos anos 90 para a projeção nacional de Ivete Sangalo - põe em cena dois CDs de repertório inédito que, juntos, apresentam 30 músicas de lavra essencialmente autoral. O capricho da produção é detectado até no encarte, formatado como um caderno de anotações, um diário. De tom afro-baiano, Conexão Nagô - o melhor dos dois discos - reconecta Eva a ritmos como frevo (De Beco em Beco e Dia de Frevo) e samba de roda à moda do Recôncavo Baiano (Bate Paó Bahia), incluindo no repertório Circulou (Magary Lord, Fábio Alcântara e Leonardo Reis), o maior sucesso do Carnaval da Bahia em 2012. De tom (em tese) mais globalizado, Rede Tambor aposta em reggaes de cepa pop (Gratidão, Papel Crepom) e em temas românticos (como a trivial balada Sobre o Amor, na qual Adelmo Casé figura como convidado), surpreendendo na canção camerística Lá do Alto Céu e na boa faixa de abertura, Balanço Rede Mar, que evoca o toque do ijexá. Contudo, a irregularidade do repertório de Rede Tambor faz CNRdescer a ladeira galgada com brilho por Conexão Nagô. Ainda que seja salutar a ambição da  Eva de produzir um álbum duplo (proeza somente realizada no universo do axé por Netinho com CD de 2000 intitulado Corpo Cabeça), fica nítida a falta de inspiração para reunir músicas à altura do conceito dos discos. Mesmo assim, nesse movimento de subir ladeira (a reboque de Conexão Nagô) para depois descê-la (por conta da fraca conexão de Rede Tambor), a Eva tem seus momentos de brilho hoje bissexto na produção da axé music. O samba Bom te Ver, que abre Conexão Nagô, honra o legado de gênero que tem  influências sintetizadas no mais relevantes dos discos que compõem CNRT. Bahia com P, por exemplo, tem seu groove aditivado com a presença de Márcio Victor, vocalista do Psirico, grupo-ícone do pagode baiano. Pena que Rede Tambor impediu a Eva de se manter no alto da ladeira. Mas antes pecar pelo excesso de inéditas do que pela falta delas.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Álbum duplo posto no mercado nacional pela gravadora Som Livre neste primeiro semestre de 2012, CNRT é o mais ambicioso trabalho fonográfico da banda Eva. Na contramão dos banais registros ao vivo de shows que dominam a produção fonográfica do gênero rotulado como axé music, a banda - alavanca nos anos 90 para a projeção nacional de Ivete Sangalo - põe em cena dois CDs de repertório inédito que, juntos, apresentam 30 músicas de lavra essencialmente autoral. O capricho da produção é detectado até no encarte, formatado como um caderno de anotações, um diário. De tom afro-baiano, Conexão Nagô - o melhor dos dois discos - reconecta Eva a ritmos como frevo (De Beco em Beco e Dia de Frevo) e samba de roda à moda do Recôncavo Baiano (Bate Paó Bahia), incluindo no repertório Circulou (Magary Lord, Fábio Alcântara e Leonardo Reis), o maior sucesso do Carnaval da Bahia em 2012. De tom (em tese) mais globalizado, Rede Tambor aposta em reggaes de cepa pop (Gratidão, Papel Crepom) e em temas românticos (como a trivial balada Sobre o Amor, na qual Adelmo Casé figura como convidado), surpreendendo na canção camerística Lá do Alto Céu e na boa faixa de abertura, Balanço Rede Mar, que evoca o toque do ijexá. Contudo, a irregularidade do repertório de Rede Tambor faz CNRT descer a ladeira galgada com brilho por Conexão Nagô. Ainda que seja salutar a ambição da Eva de produzir um álbum duplo (proeza somente realizada no universo do axé por Netinho com CD de 2000 intitulado Corpo Cabeça), fica nítida a falta de inspiração para reunir músicas à altura do conceito dos discos. Mesmo assim, nesse movimento de subir ladeira (a reboque de Conexão Nagô) para depois descê-la (por conta da fraca conexão de Rede Tambor), a Eva tem seus momentos de brilho hoje bissexto na produção da axé music. O samba Bom te Ver, que abre Conexão Nagô, honra o legado de gênero que tem influências sintetizadas no mais relevantes dos discos que compõem CNRT. Bahia com P, por exemplo, tem seu groove aditivado com a presença de Márcio Victor, vocalista do Psirico, grupo-ícone do pagode baiano. Pena que Rede Tambor impediu a Eva de se manter no alto da ladeira. Mas antes pecar pelo excesso de inéditas do que pela falta delas.

Eduardo Cáffaro disse...

Eu adorei esses Cds ! Para mim foi o trabalho de Banda mais legal que ouvi nessa linha Baiana, dos últimos anos. Ãs letras, arranjos, tudo de ótimo gosto, sem apelações. Multi platinado parabéns para Banda Eva, que eu nem estava curtindo mais. Tomara que sirva de exemplo e inspiração para outras Bandas.

André Luís disse...

Concordo com o Cáffaro. Trabalho excelente da Banda Eva! Ótimos arranjos (a banda é incrível!), boas letras, grooves e mais grooves, além da bela voz do Saulo, claro. Aliás, o grande barato desse trabalho é o Saulo e sua banda estarem renovando não apenas a Eva, mas a cara (deformada) da chamada Axé Music. Não quero rótulos! É boa música acima de qualquer coisa!

Mauro, só achei que você poderia ter sido um pouco mais específico sobre grandes faixas, principalmente do ótimo "Conexão Nagô". Concordo com você: o primeiro CD é bem melhor que o "Rede Tambor", o qual ficou um pouco destoante do trabalho como um todo, mesmo assim ainda há ótimas faixas.

Trabalho caprichado, encarte bacana e vida longa ao Saulo e à Banda Eva, salvando um pouco a Axé Music. Espero que sirva de exemplo à maioria dos artistas baianos com produções horrendas. A carapuça também serve pra muita gente de outros gêneros...

* Mauro, uma pequena correção: não seria "alavancada" (onde tem "alavanca")?? Ah! Já estava estranhando você não resenhar sobre esse trabalho duplo da Eva. rsrsrs ABRAÇO!

Mauro Ferreira disse...

oi, André, grato pela observação, mas não. Quis dizer que a banda foi uma alavanca para a carreira de Ivete, não que foi alavancada por Ivete. Embora de certa forma isso também seja verdade. Abs, obrigado, MauroF

Unknown disse...

Mauro nunca vai falar bem da música feita na Bahia pra Carnaval... ele gosta de Recife e OLinda onde o Governo banca o Carnaval dele