Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 17 de maio de 2012

Mesmo fora da ordem, Amelinha alcança bons momentos ao gravar DVD

Resenha de show - Gravação de DVD
Título: Janelas do Brasil
Artista: Amelinha (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Fecap (São Paulo, SP)
Data: 16 de maio de 2012
Cotação: * * *

Alguma coisa esteve fora da ordem na gravação do primeiro DVD de Amelinha, captado em show feito pela cantora no Teatro Fecap, em São Paulo (SP), em 16 de maio de 2012. Foi o roteiro originalmente estruturado pela cantora com o produtor Thiago Marques Luiz, mentor da gravação ao vivo do DVD bancado pelo próprio Marques Luiz para ter seu lançamento negociado posteriormente no mercado fonográfico. Para poder atender a solicitação de Toquinho para gravar sua participação no início do show (o artista assumira outro compromisso naquela noite), o roteiro foi alterado - como Amelinha, falante ao extremo, explicou ao público no decorrer do show. Tal alteração provavelmente provocou tensões e insegurança na cantora, visivelmente nervosa ao entrar em cena para entoar as músicas Galos, Noites e Quintais (Belchior, 1977) e Terral (Ednardo, 1973), estrategicamente repetidas ao fim da apresentação, quando a maior parte do público já havia deixado o teatro. Mesmo sem reeditar a magia vista na estreia do show Janelas do Brasil no teatro do Sesc Belenzinho (SP) em janeiro, a gravação ao vivo teve bons momentos que reiteraram o êxito do projeto. Amelinha continua cantando bem. O primeiro bom momento veio após a participação de Toquinho, que tocou violão protocolar em Valsinha (Vinicius de Moraes e Chico Buarque, 1971), reeditando o encontro promovido originalmente no terceiro álbum da cantora, Porta Secreta (1980). Esse momento foi quando Amelinha cantou Ai Quem Me Dera, rara música assinada somente por Vinicius de Moraes (1913 - 1980), padrinho artístico da cantora. Nesse número, a voz começou a exibir o viço que pareceu escassear nas primeiras músicas. Na sequência, Sol de Primavera (Beto Guedes e Ronaldo Bastos, 1979) iluminou a opção de Amelinha de cantar em tons mais serenos. A (bela) luz vinha também dos refletores orquestrados por Silvestre Junior. Emoldurada por primoroso cenário de Paulo Neto, arquiteto dos sete arbustos que evocam a aridez do sertão nordestino ao mesmo tempo em que remetem ao tom interiorano do repertório cantado por Amelinha no CD Janelas do Brasil ( Joia Moderna, 2011), a cantora errou feio no figurino preto que sugeria inadequada conexão com o universo metaleiro (o vestido floral da estreia era mais adequado). Gostos à parte, Felicidade (Marcelo Jeneci e Chico César, 2010) abriu janela pop e arejou o roteiro seguido por Amelinha com as cordas dos violonistas Dino Barioni (virtuoso, mas por vezes prolixo nos solos) e Emiliano Castro. Cantora e violonistas acertaram o exato tom melancólico de O Silêncio, tema de Zeca Baleiro, convidado de Asa Partida (Fagner e Abel Silva, 1976). Hábil intérprete de obras alheias, Baleiro se ambientou com facilidade no clima denso da música, brilhando especialmente no segundo take (no primeiro, Baleiro tropeçou em algumas palavras da letra - o que empanou um pouco o brilho de sua interpretação). Nessa cantoria, como Amelinha caracteriza o show, a intérprete seguiu Légua Tirana (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1949) com firmeza infelizmente não percebida quando a cantora adentrou os caminhos melódicos e poéticos de Pra Seguir um Violeiro (Amaro Penna, 2011). Surpresa do repertório, o baião Eu no Mundo (Rubens Lisboa, 2011) - que teve o ritmo marcado pelas palmas descompassadas do público em clima de folia de reis - sinalizou a intenção da artista de abordar outros universos e compositores. Na sequência, a entrada de um piano - tocado com precisão por Alex Viana - preparou o clima para uma pungente Ave Maria (Vicente Paiva e Jayme Redondo, 1951), número em que o canto de Amelinha teve feitio de oração. No fim, a participação de Fagner em Depende (parceria do compositor com Abel Silva, lançada em 1977 por Amelinha) e em Flor da Paisagem (Robertinho de Recife e Fausto Nilo, 1977) - esta desabrochada de improviso com a adesão de Zeca Baleiro - reiterou o saldo positivo do show. O DVD pode até vir a resultar excelente se - na edição - forem eliminados os focos de tensão da atribulada gravação ao vivo.

O blog Notas Musicais viajou a São Paulo (SP) a convite da produção do show de Amelinha

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ADEMAR AMANCIO disse...

Taí uma cantora que merece meu apreço.