Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 4 de março de 2014

Funkeiros animam o baile de Carnaval com o 'pancadão' das marchinhas

Resenha de CD
Título: Pancadão das marchinhas
Artista: vários
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * *

A ideia não é original, pois já houve um Bonde das marchinhas, mas a produção atual, além de bem realizada, sai em disco no momento em que o funk ganha contorno mais pop, gerando ídolos populares como Anitta e Naldo Benny. Aposta da gravadora Som Livre para o Carnaval de 2014, o CD Pancadão das marchinhas dá peso aos bailes - os de Momo - com releituras de marchinhas clássicas por funkeiros. O resultado é bom porque a inserção do batidão nas 19 músicas carnavalescas foi feita com respeito às melodias e letras originais. Primorosa, a seleção vai de 1899 - ano de Ô abre alas (Chiquinha Gonzaga, 1899), tema pioneiro ouvido com Mc Leozinho - a 1987, ano d'A pipa do vovô (Manoel Ferreira, Ruth Amaral e Silvio Santos, 1987), tema regravado por Mr. Catra em tons endurecidos que diluem a malícia da marchinha mais recente do CD. Em contrapartida, Catra põe a dose certa de  malícia em Índio quer apito (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, 1961). Recorrente no disco, a reverência dos funkeiros aos clássicos da folia fica nítida já na abertura do disco, feita com a abordagem da Mulata yê yê yê (João Roberto Kelly, 1964) por Koringa. Mas é claro que os funkeiros põem no salão ingredientes típicos dos bailes da pesada, com o rap improvisado por Mc Tarapi em Ta-hí (Pra você gostar de mim) (Joubert de Carvalho, 1930). Ou os cacos - como "Prepara, Chiquita!" - postos por Anitta na Chiquita Bacana (João de Barro e Alberto Ribeiro, 1949). A Chiquita, aliás, ficou realmente bacana na voz pop de Anitta. Em ascensão neste ano de 2014 por conta de sua música Beijinho no ombro, Valeska Popozuda desanima o baile, soando sem graça em Mamãe, eu quero (Jararaca e Vicente Paiva, 1937) - faixa aberta com choro de neném - e Maria Sapatão (João Roberto Kelly, Leleco, Chacrinha e Don Carlos, 1980). Embora correto na interpretação de duas das 19 marchinhas do bonde, Naldo Benny também parece ligeiramente fora do clima carnavalesco em Me dá um dinheiro aí (Homero Ferreira, Ivan Ferreira e Glauco Ferreira, 1960) e O teu cabelo não nega (Lamartine Babo e Irmãos Valença, 1932). Mesmo não sendo cantor, o promoter David Brasil entra mais no clima da brincadeira quando regrava Cabeleira do Zezé (João Roberto Kelly e Roberto Faisal, 1963) e A vizinha (Pega ela peru) (Paulinho Durena e Alfredo Melodia, 1980). O bonde também conduz Aurora (Mário Lago e Roberto Roberti, 1940) ao baile na pegada soft de Buchecha. Projeto idealizado para ouvidos que escutam funk sem pré-conceitos, o CD Pancadão das marchinhas anima o salão com temas carnavalescos que soam inocentes, quase pueris, face aos proibidões dos bailes pesados.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

A ideia não é original, pois já houve um Bonde das marchinhas, mas a produção atual, além de bem realizada, sai em disco no momento em que o funk ganha contorno mais pop, gerando ídolos populares como Anitta e Naldo Benny. Aposta da gravadora Som Livre para o Carnaval de 2014, o CD Pancadão das marchinhas dá peso aos bailes - os de Momo - com releituras de marchinhas clássicas por funkeiros. O resultado é bom porque a inserção do batidão nas 19 músicas carnavalescas foi feita com respeito às melodias e letras originais. Primorosa, a seleção vai de 1899 - ano de Ô abre alas (Chiquinha Gonzaga, 1899), tema pioneiro ouvido com Mc Leozinho - a 1987, ano d'A pipa do vovô (Manoel Ferreira, Ruth Amaral e Silvio Santos, 1987), tema regravado por Mr. Catra em tons endurecidos que diluem a malícia da marchinha mais recente do CD. Em contrapartida, Catra põe a dose certa de malícia em Índio quer apito (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, 1961). Recorrente no disco, a reverência dos funkeiros aos clássicos da folia fica nítida já na abertura do disco, feita com a abordagem da Mulata yê yê yê (João Roberto Kelly, 1964) por Koringa. Mas é claro que os funkeiros põem no salão ingredientes típicos dos bailes da pesada, com o rap improvisado por Mc Tarapi em Ta-hí (Pra você gostar de mim) (Joubert de Carvalho, 1930). Ou os cacos - como "Prepara, Chiquita!" - postos por Anitta na Chiquita Bacana (João de Barro e Alberto Ribeiro, 1949). A Chiquita, aliás, ficou realmente bacana na voz pop de Anitta. Em ascensão neste ano de 2014 por conta de sua música Beijinho no ombro, Valeska Popozuda desanima o baile, soando sem graça em Mamãe, eu quero (Jararaca e Vicente Paiva, 1937) - faixa aberta com choro de neném - e Maria Sapatão (João Roberto Kelly, Leleco, Chacrinha e Don Carlos, 1980). Embora correto na interpretação de duas das 19 marchinhas do bonde, Naldo Benny também parece ligeiramente fora do clima carnavalesco em Me dá um dinheiro aí (Homero Ferreira, Ivan Ferreira e Glauco Ferreira, 1960) e O teu cabelo não nega (Lamartine Babo e Irmãos Valença, 1932). Mesmo não sendo cantor, o promoter David Brasil entra mais no clima da brincadeira quando regrava Cabeleira do Zezé (João Roberto Kelly e Roberto Faisal, 1963) e A vizinha (Pega ela peru) (Paulinho Durena e Alfredo Melodia, 1980). O bonde também conduz Aurora (Mário Lago e Roberto Roberti, 1940) ao baile na pegada soft de Buchecha. Projeto idealizado para ouvidos que escutam funk sem pré-conceitos, o CD Pancadão das marchinhas anima o salão com temas carnavalescos que soam inocentes, quase pueris, face aos proibidões dos bailes pesados.

ADEMAR AMANCIO disse...

Vale pela reverência às gravações originais.