Mauro Ferreira no G1

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sábado, 15 de março de 2014

Robertinho Silva descortina os bastidores do meio musical em biografia ágil

Resenha de livro
Título: Se a minha bateria falasse...
Autores: Robertinho Silva e Miguel Sá
Editora: H. Sheldon
Cotação: * * * 1/2

 Da bateria de Robertinho Silva, ouve-se somente os sons tirados por este extraordinário músico carioca, diplomado nos bailes da Zona Oeste do Rio de Janeiro (RJ), porta de entrada para o mundo da música e da Bossa Nova. Mas Robertinho Silva fala muito - sem papas na língua afiada - em sua biografia, Se a minha bateria falasse... (2013). Escrita com o jornalista carioca Miguel Sá, filho do cantor e compositor Luiz Carlos Sá (autor do prefácio, tão sucinto quanto convidativo à leitura do livro), a biografia transcorre fluente, ágil e interessante, indo direto aos pontos. E o primeiro ponto crucial na brilhante trajetória musical do baterista e percussionista foi sua entrada, em 1970, no então nascente conjunto Som Imaginário. No grupo, Robertinho Silva exercitou uma maior liberdade no toque de seu instrumento e iniciou relevante parceria profissional com Milton Nascimento que se estenderia por 28 anos, indo até 1998. Ao tocar em grandes discos e shows do cantor e compositor carioca (de alma mineira), Robertinho encontrou um amigo para toda a vida e um artista sempre aberto ao exercício da liberdade musical e das experimentações. Liberdade que irritou o temperamental Tim Maia (1942 - 1998) quando o cantor e compositor carioca requisitou a bateria de Robertinho para um dos muitos discos que gravou nos anos 1990 pela sua gravadora Seroma (para alívio de Tim, Robertinho encaminhou para a vaga um de seus filhos que seguiram o pai no caminho da música). Em tom sempre coloquial, Se a minha bateria falasse... reconstitui os principais passos profissionais de Robertinho, que viajou o mundo no exercício de sua profissão em rota que vai dos terreiros de umbanda do bairro carioca de Realengo (nos quais fazia ressoar os tambores em sessões promovidas por sua mãe, Dona Justina) até os estúdios mais disputados de Los Angeles (EUA), passando pelas boates de Copacabana que cultuavam o samba-jazz derivado da Bossa Nova. Ao mesmo tempo em que documenta a história do baterista, o livro descortina os bastidores do meio musical com sinceridade rara, sem diplomacias. Estão relatados nas páginas de Se a minha bateria falasse... os perrengues enfrentados em viagem a África feita como integrante de banda de Gilberto Gil - com destaque para a briga feia de Robertinho com o percussionista Djalma Correa, que se recusou a emprestar pratos para a então incompleta bateria do colega - e  as rivalidades recorrentes no meio. A biografia deixa o leitor entrever, por exemplo, o ciúme sentido por Milton Nascimento ao ver Robertinho tocando com Ivan Lins em show na extinta casa carioca Jazzmania, na década de 1990. Pelos relatos, fica nítido também o temperamento esquentado de Robertinho Silva, músico do tipo que nunca leva desaforo para casa. Mas que sempre deixou a marca de sua inventividade como músico nos discos e shows nos quais tocou.  Para quem se interessa somente por música, a bateria de Robertinho Silva fala por si só...

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Da bateria de Robertinho Silva, ouve-se somente os sons tirados por este extraordinário músico carioca, diplomado nos bailes da Zona Oeste do Rio de Janeiro (RJ), porta de entrada para o mundo da música e da Bossa Nova. Mas Robertinho Silva fala muito - sem papas na língua afiada - em sua biografia, Se a minha bateria falasse... (2013). Escrita com o jornalista carioca Miguel Sá, filho do cantor e compositor Luiz Carlos Sá (autor do prefácio, tão sucinto quanto convidativo à leitura do livro), a biografia transcorre fluente, ágil e interessante, indo direto aos pontos. E o primeiro ponto crucial na brilhante trajetória musical do baterista e percussionista foi sua entrada, em 1970, no então nascente conjunto Som Imaginário. No grupo, Robertinho exercitou uma maior liberdade no toque de seu instrumento e iniciou uma parceria profissional com Milton Nascimento que se estenderia por 28 anos, indo até 1998. Ao tocar em discos e shows do cantor e compositor carioca (de alma mineira), Robertinho encontrou um amigo para toda a vida e um artista sempre aberto ao exercício da liberdade musical e das experimentações. Liberdade que irritou o temperamental Tim Maia (1942 - 1998) quando o cantor e compositor carioca requisitou a bateria de Robertinho para um dos muitos discos que gravou nos anos 1990 pela sua gravadora Seroma (para alívio de Tim, Robertinho encaminhou para a vaga um de seus filhos que seguiram o pai no caminho da música). Em tom sempre coloquial, Se minha bateria falasse... reconstitui os principais passos profissionais de Robertinho, que viajou o mundo no exercício de sua profissão em rota que vai dos terreiros de umbanda do bairro carioca de Realengo (nos quais fazia ressoar os tambores em sessões promovidas por sua mãe, Dona Justina) até os estúdios mais disputados de Los Angeles (EUA), passando pelas boates de Copacabana que cultuavam o samba-jazz derivado da Bossa Nova. Ao mesmo tempo em que documenta a história do baterista, o livro descortina os bastidores do meio musical com sinceridade rara, sem diplomacias. Estão relatados nas páginas de Se minha bateria falasse... os perrengues enfrentados em viagem a África feita como integrante de banda de Gilberto Gil - com destaque para a briga feia de Robertinho com o percussionista Djalma Correa, que se recusou a emprestar pratos para a então incompleta bateria do colega - e as rivalidades recorrentes no meio. A biografia deixa o leitor entrever, por exemplo, o ciúme sentido por Milton Nascimento ao ver Robertinho tocando com Ivan Lins em show na extinta casa carioca Jazzmania, nos anos 1990. Pelos relatos, fica nítido também o temperamento esquentado de Robertinho Silva, músico do tipo que nunca leva desaforo para casa. Mas que sempre deixou a marca de sua inventividade nos discos e shows nos quais tocou. Para quem se interessa por música, sua bateria fala por si só...