Mauro Ferreira no G1

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sábado, 22 de março de 2014

Voz alegre, Jair experimenta melancolia no volume 1 de 'Samba mesmo'

Resenha de CD
Título: Samba mesmo 1
Artista: Jair Rodrigues
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * *

O canto de Jair Rodrigues sempre foi marcado pela alegria. Essa alegria realçava o tom esfuziante da maior parte das interpretações do cantor paulista. Contudo, aos 75 anos, completados em fevereiro de 2014, o intérprete já se permite imprimir tons mais cinzentos no seu canto de cores vivas. Esse tom outonal salta aos ouvidos em vários momentos do primeiro volume de Samba mesmo, o projeto duplo lançado pela gravadora Som Livre. Produzido por Jair Oliveira, filho do artista, tal projeto está calcado em regravações. Todas as 26 músicas são inéditas na voz de Jair, mas somente duas nunca tinham ganhado registro em disco. Uma delas - Se você deixar, samba dengoso do compositor baiano Roque Ferreira - aparece neste primeiro volume, disco pontuado por certa melancolia. Alvo de uma das melhores interpretações de Jair neste disco, Luz negra (Nelson Cavaquinho e Amâncio Cardoso, 1964) acende até o vislumbre da finitude enquanto o samba-canção Esses moços (Pobres moços) (Lupicínio Rodrigues, 1948) destila amargura e desilusão sobre o amor outrora vivido com ardor. Nessa aquarela, os arranjos de Swami Jr., Nailor Proveta e Paulo Dáfilin injetam certa vivacidade nas músicas, valorizando o clima seresteiro de temas como Serenata (Vicente Celestino, 1940). Entre deliciosa obviedade de Noel Rosa (1910 - 1937) (Fita amarela, 1933) e samba pouco ouvido de Martinho da Vila (Todos os sentidos, 2000), erroneamente relacionado entre as músicas inéditas no texto que apresenta o disco, o cantor ambienta Barracão (Luis Antônio e Oldemar Magalhães, 1953) em clima de gafieira e recebe os filhos Jair Oliveira e Luciana Mello na música No rancho fundo (Ary Barroso e Lamartine Babo, 1931). De certa forma, ao dar voz às 13 músicas desse Samba mesmo 1, Jair Rodrigues está mesmo em casa.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

O canto de Jair Rodrigues sempre foi marcado pela alegria. Essa alegria realçava o tom esfuziante da maior parte das interpretações do cantor paulista. Contudo, aos 75 anos, completados em fevereiro de 2014, o intérprete já se permite imprimir tons mais cinzentos no seu canto de cores vivas. Esse tom outonal salta aos ouvidos em vários momentos do primeiro volume de Samba mesmo, o projeto duplo lançado pela gravadora Som Livre. Produzido por Jair Oliveira, filho do artista, tal projeto está calcado em regravações. Todas as 26 músicas são inéditas na voz de Jair, mas somente duas nunca tinham ganhado registro em disco. Uma delas - Se você deixar, samba dengoso do compositor baiano Roque Ferreira - aparece neste primeiro volume, disco pontuado por certa melancolia. Alvo de uma das melhores interpretações de Jair neste disco, Luz negra (Nelson Cavaquinho e Amâncio Cardoso, 1964) acende até o vislumbre da finitude enquanto o samba-canção Esses moços (Pobres moços) (Lupicínio Rodrigues, 1948) destila amargura e desilusão sobre o amor outrora vivido com ardor. Nessa aquarela, os arranjos de Swami Jr., Nailor Proveta e Paulo Dáfilin injetam certa vivacidade nas músicas, valorizando o clima seresteiro de temas como Serenata (Vicente Celestino, 1940). Entre deliciosa obviedade de Noel Rosa (1910 - 1937) (Fita amarela, 1933) e samba pouco ouvido de Martinho da Vila (Todos os sentidos, 2000), erroneamente relacionado entre as músicas inéditas no texto que apresenta o disco, o cantor ambienta Barracão (Luis Antônio e Oldemar Magalhães, 1953) em clima de gafieira e recebe os filhos Jair Oliveira e Luciana Mello na música No rancho fundo (Ary Barroso e Lamartine Babo, 1931). De certa forma, ao dar voz às 13 músicas desse Samba mesmo 1, Jair Rodrigues está mesmo em casa.