Mauro Ferreira no G1

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sexta-feira, 28 de março de 2014

Ao ensaiar para DVD, Beth remexe em obra repleta de sambas que ficam

Resenha de show
Título: Ensaio aberto
Artista: Beth Carvalho (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Centro Cultural João Nogueira - Imperator (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 26 de março de 2014
Cotação: * * * 1/2

"Essa fica", avalizou o público após Beth Carvalho cantar Pandeiro e viola, samba de Gracia do Salgueiro que deu título ao seu quarto álbum, o último dos três LPs lançados pela cantora carioca pela gravadora brasileira Tapecar entre 1973 e 1975. A plateia do Imperator - casa de shows do Centro Cultural João Nogueira, situada no subúrbio do Rio de Janeiro (RJ) - queria dizer que Pandeiro e viola, segundo dos 36 números do show feito por Beth na casa em 26 de março de 2014, deveria ficar no repertório do DVD que a sambista ia gravar três dias depois, em 29 de março, no Parque de Madureira, também no subúrbio carioca. A apresentação do Imperator se chamava Ensaio aberto justamente porque, nela, Beth testava junto ao (seu) público o roteiro que pretendia eternizar no quinto registro audiovisual de sua carreira. A ideia (boa) era evitar os sucessos batidos, já registrados em seu primeiro DVD de caráter retrospectivo, A madrinha do samba ao vivo convida (Indie Records, 2004). Mas foi difícil eleger o que de fato vai entrar no seu próximo DVD. De acordo com a sentença do público, quase todos os 36 números do longo roteiro tinham que ficar. O que também tinha sua razão de ser, pois Beth estava remexendo em obra repleta de sambas que ficaram na memória popular. Mesmo os (aparentemente) esquecidos - como Senhora rezadeira (Dedé da Portela e Dia, 1979) e o partido alto Ô Isaura (Rubens da Mangueira, 1978) - são sambas de qualidade perene. Sob a direção musical do maestro Ivan Paulo, criador dos arranjos tão funcionais quanto convencionais, Beth passou em revista uma discografia das mais dignas e coerentes da música brasileira, com justa ênfase nas músicas de seu último disco de inéditas, Nosso samba tá na rua (EMI Music, 2011), e na produção autoral do compositor carioca, autor de pérolas do pagode como Coisa de pele (Jorge Aragão e Acyr Marques, 1986), Lucidez (Jorge Aragão e Cleber Augusto, 1991), Tendência (Ivone Lara e Jorge Aragão, 1991) e do carnavalesco Toque de malícia (Jorge Aragão, 1984). Novidade na voz de Beth, O meu lugar (Arlindo Cruz e Mauro Diniz, 2005) tinha mesmo lugar no roteiro por ser samba que celebra Madureira, bairro carioca escolhido para ser o cenário da gravação do DVD. Das duas inéditas, Se a fila andar (Toninho Geraes e Paulinho Rezende) - número pontuado pelo clarinete de Dirceu Leite - é samba triste que versa sobre o fim de um caso de amor. Também para baixo, Parada errada (Serginho Meriti, Rogê e Rodrigo Leite) - escrito sob a ótica de mãe esperançosa de tirar o filho do vício do crack - é samba com letra mais forte do que a melodia. Já Estranhou o quê? - samba de Moacyr Luz que, embora apresentado como inédito por Beth, já ganhou registro fonográfico no CD / DVD Moacyr Luz e Samba do Trabalhador - Ao vivo no Renascença Clube (Lua Music, 2013) - é o provável futuro sucesso da gravação ao vivo que vai ter Zeca Pagodinho em Arrasta a sandália (Dayse do Banjo e Luana Carvalho, 2011) e Lu Carvalho, sobrinha de Beth. O refrão "Estranhou o quê? / Preto pode ter o mesmo que você" é curto, grosso e contagiante. No mais, Beth cantou samba à moda baiana de Ivone Lara, Alguém me avisou (1980), entre sucessos acumulados em (49) anos de carreira que vai ficar para sempre.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

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Marcelo Barbosa disse...

Maravilha de resenha! Faço votos de que todas as músicas entrem no dvd e que venha um disco duplo ou separado em dois volumes. Abs