Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Miranda e Kassin calibram o som pop do terceiro CD de Felipe Cordeiro

Resenha de CD
Título: Se apaixone pela loucura do seu amor
Artista: Felipe Cordeiro
Gravadora: YB Music / Natura Musical
Cotação: * * * 1/2

Nem tão kitsch nem tão cult, o som pop de Felipe Cordeiro é devidamente calibrado por Carlos Eduardo Miranda e Kassin, produtores do segundo álbum do artista paraense. Álbum que pode ser encarado como o terceiro do artista se for posto na conta Banquete (2009), o disco de compositor (cantado por diversos intérpretes) que lançou Cordeiro no mercado fonográfico e que foi ignorado no material promocional de Se apaixone pela loucura do seu amor (2013). Título mais azeitado da discografia do artista, Se apaixone pela loucura do seu amor está sendo vendido como se Cordeiro tivesse debutado no universo pop com o CD Pop kitsch cult, em 2011, no momento em que o Brasil redescobria os sons do Norte. Ou seja, como se Cordeiro somente tivesse passado a existir quando foi percebido pelo olhar egocêntrico do eixo Rio-São Paulo. Seja como for, Se apaixone pela loucura de seu amor é ponto de maturação na obra do filho do guitarrista e produtor musical Manoel Cordeiro, ícone da nação paraense e presença recorrente no disco como músico e como compositor, assinando metade das 12 músicas em parceria com Felipe. Uma delas - Louco desejo (Felipe Cordeiro e Manoel Cordeiro) - remete ao ritmo antilhano do zouk, sendo sustentada por manemolente cama eletrônica em estilo caracterizado jocosamente pelo próprio Cordeiro como "Kraftwerk do Pará". As presenças de Miranda e, sobretudo, de Kassin também se fazem notar pelas programações de iPhone que ligam a esmaecida Trelelê (Felipe Cordeiro e Iva Rothe) ao pop de Rita Lee e pelos sons espaciais que fazem decolar a sagaz releitura de Marcianita (José Imperatore e Galvarino Villota Alderete em versão de Fernando César), sucesso do cantor carioca Sérgio Murilo (1941 - 1992) em 1960 que o baiano Caetano Veloso tropicalizou em 1968 ao lado do grupo paulista Os Mutantes. A sagacidade da única incursão de Cordeiro por seara alheia vem do fato de o brega do Pará também ser herdeiro da Jovem Guarda, evocada no disco em Alta voltagem (Felipe Cordeiro), música não por acaso encerrada com o verso "Minha brasa mora". Elementos proeminentes do brega também são ouvidos em É fogo (Felipe Cordeiro e Saulo Duarte) - faixa turbinada com os sintetizadores pilotados pelo artista capixaba Silva - e Saudade de você (Felipe Cordeiro e Manoel Cordeiro), música que exalam romantismo pop popular. Musicalmente, o disco Se apaixone pela loucura de seu amor apresenta bem acabado mix de brega, lambada, guitarrada, cumbia e ritmos afins. Ritmo que seduziu o Brasil em fins dos anos 1980, a lambada reaparece numa das músicas mais inspiradas do repertório autoral, Problema seu (Felipe Codeiro e Manoel Cordeiro), e no frenético tema instrumental apropriadamente intitulado Lambada alucinada, veículo ideal para a exposição dos dotes de Cordeiro como guitarrista. Lançada por Arnaldo Antunes em Disco (2012), álbum que saiu um mês antes de Se apaixone pela loucura de seu amorEla é tarja preta (Arnaldo Antunes, Betão Aguiar, Luê, Felipe Cordeiro e Manoel Cordeiro) parece ter encontrado seu habitat natural no CD de Cordeiro. Da mesma forma que a (bem) menos inspirada Brea époque (Felipe Cordeiro e Manoel Cordeiro) tem versos que fazem mais sentido para ouvidos paraenses. Mais coeso em sua primeira metade, o disco traz também parceria de Cordeiro com a conterrânea Lia Sophia, Um beijo, em ritmo que flerta com o xote sem apaixonar o ouvinte. Mesmo que perca pique a partir da oitava faixa, Se apaixone pela loucura de seu amor é bom disco que mostra Felipe Cordeiro mais pop do que kitsch ou cult, pronto para ser consumido pelo Brasil.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Nem tão kitsch nem tão cult, o som pop de Felipe Cordeiro é devidamente calibrado por Carlos Eduardo Miranda e Kassin, produtores do segundo álbum do artista paraense. Álbum que pode ser encarado como o terceiro do artista se for posto na conta Banquete (2009), o disco de compositor (cantado por diversos intérpretes) que lançou Cordeiro no mercado fonográfico e que foi ignorado no material promocional de Se apaixone pela loucura do seu amor (2013). Título mais azeitado da discografia do artista, Se apaixone pela loucura do seu amor está sendo vendido como se Cordeiro tivesse debutado no universo pop com o CD Pop kitsch cult, em 2011, no momento em que o Brasil redescobria os sons do Norte. Ou seja, como se Cordeiro somente tivesse passado a existir quando foi percebido pelo olhar egocêntrico do eixo Rio-São Paulo. Seja como for, Se apaixone pela loucura de seu amor é ponto de maturação na obra do filho do guitarrista e produtor musical Manoel Cordeiro, ícone da nação paraense e presença recorrente no disco como músico e como compositor, assinando metade das 12 músicas em parceria com Felipe. Uma delas - Louco desejo (Felipe Cordeiro e Manoel Cordeiro) - remete ao ritmo antilhano do zouk, sendo sustentada por manemolente cama eletrônica em estilo caracterizado jocosamente pelo próprio Cordeiro como "Kraftwerk do Pará". As presenças de Miranda e, sobretudo, de Kassin também se fazem notar pelas programações de iPhone que ligam a esmaecida Trelelê (Felipe Cordeiro e Iva Rothe) ao pop de Rita Lee e pelos sons espaciais que fazem decolar a sagaz releitura de Marcianita (José Imperatore e Galvarino Villota Alderete em versão de Fernando César), sucesso do cantor carioca Sérgio Murilo (1941 - 1992) em 1960 que o baiano Caetano Veloso tropicalizou em 1968 ao lado do grupo paulista Os Mutantes. A sagacidade da única incursão de Cordeiro por seara alheia vem do fato de o brega do Pará também ser herdeiro da Jovem Guarda, evocada no disco em Alta voltagem (Felipe Cordeiro), música não por acaso encerrada com o verso "Minha brasa mora". Elementos proeminentes do brega também são ouvidos em É fogo (Felipe Cordeiro e Saulo Duarte) - faixa turbinada com os sintetizadores pilotados pelo artista capixaba Silva - e Saudade de você (Felipe Cordeiro e Manoel Cordeiro), música que exalam romantismo pop popular. Musicalmente, Se apaixone pela loucura de seu amor apresenta bem acabado mix de brega, lambada, guitarrada, cumbia e ritmos afins. Ritmo que seduziu o Brasil em fins dos anos 1980, a lambada reaparece numa das músicas mais inspiradas do repertório autoral, Problema seu (Felipe Codeiro e Manoel Cordeiro), e no frenético tema instrumental apropriadamente intitulado Lambada alucinada, veículo para a exposição dos dotes de Cordeiro como guitarrista. Lançada por Arnaldo Antunes em Disco (2012), álbum que saiu um mês antes de Se apaixone pela loucura de seu amor, Ela é tarja preta (Arnaldo Antunes, Betão Aguiar, Luê, Felipe Cordeiro e Manoel Cordeiro) parece ter encontrado seu habitat natural no CD de Cordeiro. Da mesma forma que a menos inspirada Brea époque (Felipe Cordeiro e Manoel Cordeiro) tem versos que fazem mais sentido para ouvidos paraenses. Mais coeso em sua primeira metade, o disco traz também parceria de Cordeiro com a conterrânea Lia Sophia, Um beijo, em ritmo que flerta com o xote sem apaixonar o ouvinte. Mesmo que perca pique a partir da oitava faixa, Se apaixone pela loucura de seu amor é bom disco que mostra Felipe Cordeiro mais pop do que kitsch ou cult, pronto para ser consumido pelo Brasil.