Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Catto baixa o tom na celebração do DVD sem perdas da paixão e da precisão

Resenha de show - Gravação de DVD
Título: Filipe Catto ao vivo
Artista: Filipe Catto (em foto de Diego Ciarlariello)
Local: Auditório Ibirapuera (São Paulo, SP)
Data: 3 de fevereiro de 2013
Cotação: * * * 1/2

 Cantor de tons inflamados, Filipe Catto abrandou o fogo do canto no primeiro registro ao vivo de show sem jamais comprometer a paixão, a precisão e a intensidade de suas interpretações. Foi um Catto de tons mais suaves que entrou em cena, no palco do Auditório Ibirapuera (SP), cantando Alazão (Clarões) (Ednardo e Brandão, 1974). Sob a direção de Ricky Scaff, Catto apresentou diante das câmeras - orquestradas por Willand Pinsdorf  - uma versão revista e atualizada de Fôlego, o show que estreou no segundo semestre de 2011. Viabilizada por conta de parceria da gravadora Universal Music com o Canal Brasil, a gravação ao vivo - feita em 3 de fevereiro de 2013 para originar CD e DVD programados para junho deste ano de 2013 - foi uma celebração, como o próprio Filipe Catto caracterizou em cena logo após cantar o samba Roupa do corpo (Filipe Catto, 2009). No caso, a celebração do sucesso de um artista vocacionado para o palco que soube conquistar público ao longo de 2012. Típicas das gravações ao vivo, as interrupções e repetições por vezes esfriaram o show. Mas não o canto caloroso deste intérprete seguro, de forte presença cênica. Os aplausos no meio de 2 Perdidos (Dadi e Arnaldo Antunes, 2006) - linda balada que pareceu destoar do tom ardente do CD Fôlego (2011), mas que ganhou força e sentido no show - atestaram tal segurança. Que soa até precoce na voz de um cantor de 25 anos. Aliás, 20 e poucos anos (Fábio Jr., 1979) também fez sentido no roteiro e na voz de Catto, funcionando, mesmo no bis, como carta de intenções deste intérprete apaixonado e determinado, capaz de conciliar o romantismo de Pélico com o da dupla Roberto Carlos & Erasmo Carlos. De Pélico, Catto trouxe para o roteiro Sem medida, bonita canção que o compositor lançou no segundo álbum, Que isso fique entre nós (2011). Da obra do Rei com o Tremendão, Catto deu voz a Eu te amo, versão de singela balada de Lennon & McCartney, And I love her (1964), traduzida por Roberto & Erasmo com fidelidade ao espírito puro e ingênuo da Jovem Guarda. Gravada por Roberto em álbum de 1984, a versão pode injetar doses adicionais de popularidade ao canto de Catto se vier a se tornar a faixa promocional do DVD e CD ao vivo produzidos por Paul Ralphes sob a direção musical capitaneada pelo próprio Catto com a banda boa formada por Fabá Jimenez (guitarra e violão), Caio Andrade (guitarra e violão), Fabio Sá (baixo), Adriano Grineberg (piano e teclados), Peo Fiorin (bateria) e Lucas Vargas (acordeom). Eventualmente na guitarra e/ou no violão, Catto é tão bom cantor que um tema que soara mediano no álbum Fôlego  - caso de Redoma (Filipe Catto, 2011) - ganha peso e beleza no show por conta de sua interpretação irretocável. Única convidada da gravação, a cantora e compositora paulista Blubell pôs sensualidade em Johnny, Jack & Jameson (Filipe Catto, 2011), número jazzy ambientado em clima de cabaré, com toques de blues. O jogo de sedução armado por Blubell com Catto funcionou e deu vivacidade à gravação. Veículo para a contenção experimentada pelo cantor na gravação, a inédita canção autoral À sós (Filipe Catto, 2013) foi outro toque de novidade do roteiro do show. Mesmo já estando no roteiro desde meados de 2012, Mergulho (Alzira Espíndola e Alice Ruiz, 2008) conservou o frescor e a cara deste cantor de fôlego que vai ao fundo do que pode sem medo de parecer kitsch quando canta Rima rica / Frase feita (1988), tema do conterrâneo gaúcho Nei Lisboa, ao lado de um coração iluminado. Cada lance ou gesto parece pensado para o jogo de cena, explicitado em Puro teatro (Catalino Curet Alonso, 1968), tema conhecido na voz da cantora cubana La Lupe (1939 - 1992). Nessa cena, Luz negra (Nelson Cavaquinho e Amâncio Cardoso, 1961) ilumina - mais uma vez - a precisão do canto do artista em releitura moderna que tira o tema da redoma do samba. Como de praxe, Ave de prata (Zé Ramalho, 1979) também se impõe como outro voo alto que confirma o fôlego do intérprete, hábil também ao realçar a melancolia da toada A sorte é cega (Luiz Gonzaga e Luiz Guimarães, 1967) em belo número alocado no bis. Enfim, mesmo em tons mais brandos, Filipe Catto jamais suaviza a paixão com que solta a voz. É intérprete feito para o palco e, por isso mesmo, no caso, a gravação de um DVD já se fazia necessária para que a presença do cantor se eternizasse em cena.

♪ Notas Musicais viajou à cidade de São Paulo (SP) a convite da gravadora Universal Music

6 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Cantor de tons inflamados, Filipe Catto abrandou o fogo de seu canto no seu primeiro registro ao vivo de show, mas sem comprometer a paixão, a precisão e a intensidade de suas interpretações. Foi um Catto de tons mais suaves que entrou em cena, no palco do Auditório Ibirapuera (SP), cantando Alazão (Clarões) (Ednardo e Brandão, 1974). Sob a direção de Ricky Scaff, Catto apresentou diante das câmeras - orquestradas por Willand Pinsdorf - uma versão revista e atualizada de Fôlego, o show que estreou no segundo semestre de 2011. Viabilizada por conta de parceria da gravadora Universal Music com o Canal Brasil, a gravação ao vivo - feita em 3 de fevereiro de 2013 para dar origem a CD e DVD programados para junho (um blu-ray está previsto para o segundo semestre) - foi uma celebração, como o próprio Catto caracterizou em cena após cantar o samba Roupa do corpo (Filipe Catto). No caso, a celebração do sucesso de um artista vocacionado para o palco que soube conquistar público ao longo de 2012. Típicas das gravações ao vivo, as interrupções e repetições por vezes esfriaram o show. Mas não o canto caloroso deste intérprete seguro, de forte presença cênica. Os aplausos no meio de 2 Perdidos (Dadi e Arnaldo Antunes, 2007) - linda balada que pareceu destoar do tom ardente do CD Fôlego (2011), mas que ganhou força e sentido no show - atestaram tal segurança. Que soa até precoce na voz de um cantor de 25 anos. Aliás, 20 e poucos anos (Fábio Jr., 1979) também fez sentido no roteiro e na voz de Catto, funcionando, mesmo no bis, como uma carta de intenções deste intérprete apaixonado e determinado, capaz de conciliar o romantismo de Pélico com o da dupla Roberto Carlos & Erasmo Carlos. De Pélico, Catto trouxe para o roteiro Sem medida, bonita canção que o compositor lançou em seu segundo álbum, Que isso fique entre nós (2011). Da obra do Rei com o Tremendão, Catto escolheu Eu te amo, versão de singela balada de Lennon & McCartney, And i love her (1964), traduzida por Roberto & Erasmo com fidelidade ao espírito puro e ingênuo da Jovem Guarda. Gravada por Roberto em seu álbum de 1984, a versão pode injetar doses adicionais de popularidade no canto de Catto se vier a se tornar a faixa promocional do DVD e CD ao vivo produzidos por Paul Ralphes sob a direção musical capitaneada pelo próprio Catto com a banda formada por Fabá Jimenez (guitarra e violão), Caio Andrade (guitarra e violão), Fabio Sá (baixo), Adriano Grineberg (piano e teclados), Peo Fiorin (bateria) e Lucas Vargas (acordeom).

Mauro Ferreira disse...

Eventualmente na guitarra e/ou no violão, Catto é tão bom cantor que um tema que soara mediano no álbum Fôlego - caso de Redoma (Filipe Catto, 2011) - ganha peso e beleza no show por conta de sua interpretação irretocável. Única convidada da gravação, a cantora e compositora paulista Blubell pôs sensualidade em Johnny, Jack & Jameson (Filipe Catto, 2011), número jazzy ambientado em clima de cabaré, com toques de blues. O jogo de sedução armado por Blubell com Catto funcionou e deu vivacidade à gravação. Veículo para a contenção experimentada pelo cantor na gravação, a inédita canção autoral À sós (Filipe Catto, 2013) foi outro toque de novidade do roteiro do show. Mesmo já estando no roteiro desde meados de 2012, Mergulho (Alzira Espíndola e Alice Ruiz, 2013) conservou o frescor e a cara deste cantor de fôlego que vai ao fundo do que pode sem medo de parecer kitsch quando canta Rima rica / Frase feita (1988), tema do conterrâneo gaúcho Nei Lisboa, ao lado de um coração iluminado. Cada lance ou gesto parece pensado para o jogo de cena, explicitado em Puro teatro (Catalino Curet Alonso, 1968), tema conhecido na voz da cantora cubana La Lupe (1939 - 1992). Nessa cena, Luz negra (Nelson Cavaquinho e Amâncio Cardoso, 1961) ilumina mais uma vez a precisão do canto do artista em releitura moderna que tira o tema da redoma do samba. Como de praxe, Ave de prata (Zé Ramalho, 1979) também se impõe como outro voo alto que confirma o fôlego do intérprete, hábil também ao realçar a melancolia da toada A sorte é cega (Luiz Gonzaga e Luiz Guimarães, 1967) em belo número alocado no bis. Enfim, mesmo em tons mais brandos, Filipe Catto jamais suaviza a paixão com que solta a voz. É um intérprete feito para o palco e, por isso mesmo, no seu caso, a gravação de um DVD se fazia necessária.

Rafael disse...

Tudo para ser um sucesso este DVD. Dá-lhe, Catto!!! Continue cantando e nos encantando.

Fabio disse...

Pena ser em "tons mais brandos". Seria a mesma coisa se a Tetê Espindola cantasse sem seus agudos, Cássia Eller não gritasse.

Victor Moraes, disse...

Eu não sei porque os cantores tendem a atenuar suas vozes e interpretações em gravações de DVD. Isso acontece mais ainda quando o registro gera CD só com o áudio. Mas, de qualquer forma, posso crer que o Filipe Catto contido ainda permanece um melhor interprete e cantor que todos os últimos que apareceram no cenário da música nas duas últimas décadas.

Concordo com o Mauro quando diz que a Catto merece um registro de DVD. Ele, e outros artistas como a Maria Rita, foram criados pelos Deuses para serem apreciados juntos com suas interpretações.

Vísceras Filipe. E tome Fôlego e vá até o fundo do que pode.

Victor Moraes, disse...

Eu não sei porque os cantores tendem a atenuar suas vozes e interpretações em gravações de DVD. Isso acontece mais ainda quando o registro gera CD só com o áudio. Mas, de qualquer forma, posso crer que o Filipe Catto contido ainda permanece um melhor interprete e cantor que todos os últimos que apareceram no cenário da música nas duas últimas décadas.

Concordo com o Mauro quando diz que a Catto merece um registro de DVD. Ele, e outros artistas como a Maria Rita, foram criados pelos Deuses para serem apreciados juntos com suas interpretações.

Vísceras Filipe. E tome Fôlego e vá até o fundo do que pode.