Mauro Ferreira no G1

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domingo, 21 de julho de 2013

Mergulho de Valéria nas águas de Clara tem profundidade variada em CD

Resenha de CD
Título: Em águas claras - Homenagem a Clara Nunes
Artista: Valéria Oliveira
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * 1/2

Se as 18 faixas do CD Em águas claras - Homenagem a Clara Nunes forem ouvidas na ordem disposta no oitavo álbum de Valéria Oliveira, a impressão inicial é a de que o tributo da cantora potiguar à mineira guerreira resultou óbvio. Afinal, sambas como Minha missão (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1981) e Canto das três raças (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, 1976) ressurgem em registros distantes anos-luz das gravações luminosas de Clara. Mesmo favorecida pela produção e pelos arranjos certeiros de Rildo Hora, produtor que domina o idioma do samba desde os anos 70 (embora com trabalho associado às discografias de Beth Carvalho e Martinho da Vila, e não à obra de Clara), a cantora nada acrescenta a um samba-enredo como Portela na avenida (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, 1981) - inclusive por estar distante do samba e do universo carnavalesco do Rio de Janeiro (RJ) - ou a um samba como O mar serenou (Candeia, 1975). Contudo, Valéria selecionou repertório que, embora pontuado por sucessos óbvios, também reaviva músicas do repertório de Clara já esquecidas na poeira da estrada. As duas partes da Puxada de rede do xaréu (Maria Rosita Salgado Góes) - gravadas pela mineira em seu álbum de 1971, Clara Nunes - são exemplos de que o disco cresce quanto mais profundo for o mergulho de Valéria nas águas de Clara. Evocando o cancioneiro marítimo de Dorival Caymmi (1914 - 2008), Puxada de rede do xaréu I e II fazem emergir o universo afro-brasileiro que banhou a obra da Guerreira nos anos 70. Outra pérola pescada por Valéria é Jardim da solidão, samba de Monarco que tem sua melancolia realçada pelo bandolim de Alexandre Moreira no registro feito com as presenças ilustres do próprio compositor e de integrantes da Velha Guarda da Portela. O mesmo bandolim de Moreira se harmoniza com o trompete de Jubileu Filho na buarquiana À flor da pele (Maurício Tapajós, Clara Nunes e Paulo César Pinheiro, 1977), outra joia que Valéria pesca nas águas de Clara. Merecem também menção as gravações de Você passa eu acho graça (Ataulfo Alves e Carlos Imperial, 1968) - primeiro sucesso de Clara, revivido por Valéria em arranjo valorizado pelo toque da gaita do produtor Rildo Hora - e Apenas um adeus (Edil Pacheco, Roque Ferreira e Paulinho Diniz, 1979), belo samba que, a título de curiosidade, foi a primeira música de Roque Ferreira a ganhar registro em disco. Já o baião Alvoroço no sertão (Aldair Soares e Raymundo Evangelista, 1966) - gravado por Clara no álbum Canto das três raças (Odeon, 1976) - puxa a rede para o mar do Nordeste, região natal de Valéria Oliveira, cantora menos vocacionada para temas mais dramáticos como Basta um dia (Chico Buarque, 1976). Com delicadeza, a sanfona da Zé Hilton também dá tom nordestino ao lamento exposto em Casinha pequenina, tema de domínio público gravado por Clara em seu álbum A beleza que canta (Odeon, 1969) e revivido com precisa melancolia por Valéria. O tema é outro exemplo da viabilidade de saudar Clara Nunes sem recorrer aos mesmos sucessos de sempre. Valéria Oliveira emerge mais forte dos mergulhos mais fundos que dá no bem-vindo CD Em águas claras. Nos hits, fica no raso...

7 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Se as 18 faixas do CD Em águas claras - Homenagem a Clara Nunes forem ouvidas na ordem disposta no oitavo álbum de Valéria Oliveira, a impressão inicial é a de que o tributo da cantora potiguar à mineira guerreira resultou óbvio. Afinal, sambas como Minha missão (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1981) e Canto das três raças (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, 1976) ressurgem em registros distantes anos-luz das gravações luminosas de Clara. Mesmo favorecida pela produção e pelos arranjos certeiros de Rildo Hora, produtor que domina o idioma do samba desde os anos 70 (embora com trabalho associado às discografias de Beth Carvalho e Martinho da Vila, e não à obra de Clara), a cantora nada acrescenta a um samba-enredo como Portela na avenida (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, 1981) - inclusive por estar distante do samba e do universo carnavalesco do Rio de Janeiro (RJ) - ou a um samba como O mar serenou (Candeia, 1975). Contudo, Valéria selecionou repertório que, embora pontuado por sucessos óbvios, também reaviva músicas do repertório de Clara já esquecidas na poeira da estrada. As duas partes da Puxada de rede do xaréu (Maria Rosita Salgado Góes) - gravadas pela mineira em seu álbum de 1971, Clara Nunes - são exemplos de que o disco cresce quanto mais profundo for o mergulho de Valéria nas águas de Clara. Evocando o cancioneiro marítimo de Dorival Caymmi (1914 - 2008), Puxada de rede do xaréu I e II fazem emergir o universo afro-brasileiro que banhou a obra da Guerreira nos anos 70. Outra pérola pescada por Valéria é Jardim da solidão, samba de Monarco que tem sua melancolia realçada pelo bandolim de Alexandre Moreira no registro feito com as presenças ilustres do próprio compositor e de integrantes da Velha Guarda da Portela. O mesmo bandolim de Moreira se harmoniza com o trompete de Jubileu Filho na buarquiana À flor da pele (Maurício Tapajós, Clara Nunes e Paulo César Pinheiro, 1977), outra joia que Valéria pesca nas águas de Clara. Merecem também menção as gravações de Você passa eu acho graça (Ataulfo Alves e Carlos Imperial, 1968) - primeiro sucesso de Clara, revivido por Valéria em arranjo valorizado pelo toque da gaita do produtor Rildo Hora - e Apenas um adeus (Edil Pacheco, Roque Ferreira e Paulinho Diniz, 1979), belo samba que, a título de curiosidade, foi a primeira música de Roque Ferreira a ganhar registro em disco. Já o baião Alvoroço no sertão (Aldair Soares e Raymundo Evangelista, 1966) - gravado por Clara no álbum Canto das três raças (Odeon, 1966) - puxa a rede para o mar do Nordeste, região natal de Valéria Oliveira, cantora menos vocacionada para temas mais dramáticos como Basta um dia (Chico Buarque, 1976). Com delicadeza, a sanfona da Zé Hilton também dá tom nordestino ao lamento exposto em Casinha pequenina, tema de domínio público gravado por Clara em seu álbum A beleza que canta (Odeon, 1969) e revivido com precisa melancolia por Valéria. O tema é outro exemplo da viabilidade de saudar Clara Nunes sem recorrer aos mesmos sucessos de sempre. Valéria Oliveira emerge mais forte dos mergulhos mais fundos que dá no bem-vindo CD Em águas claras. Nos hits, fica no raso...

Sandro Mendes disse...

Mariene de Castro, Carla Visi, Fabiana Cozza,Valéria Oliveira, "Fitas-cassete, uma ergométrica, uns restos de rabada". Todo mundo o tempo todo como diz Dan Nakagawa. Nem a tomada de 220v aguenta mais. Com todo o devido respeito a "Santa Clara Nunes" é claro.

ADEMAR AMANCIO disse...

Clara nunes quando morreu ficou no ostracismo por um bom tempo.Hoje tem sido merecidamente bem lembrada e homenageada."Canto das três raças" eu acho que é de 76.

Mauro Ferreira disse...

Grato, Ademar, pelo toque do erro de digitação no ano do 'Canto das três raças'. Abs, obrigado, MauroF

Marcelo Barbosa disse...

Ontem eu comprei o da Carla Visi (Pura Claridade), e, caso eu curta a voz da Valéria também comprarei (infelizmente não a conheço).
A iniciativa da Carla foi excelente em resgatar uma música dos 16 álbuns. As participações não comprometem e o cd é muito bom.
A única ressalva são as músicas de sempre e a escolha dos três primeiros discos da Guerreira que são muito ruins.
Justifica-se a escolha de convidar Paula Fernandes, que canta Dia de Esperança, música esta que pertence a fase pré-samba/brega da saudosa cantora.

PS: O cd que ainda sairá, da que se acha diva, eu DISPENSO.

Pele Preta Produções Artísticas disse...

Quem mais irá gravar Clara Nunes?
Por favor, mudem o foco/o repertório. Tirando um arranjo ou outro é quase tudo a mesma coisa, no mesmo sentimento de homenagem e busca de identidade em cima da Guerreira. Por mais que a Clara mereça todas as homenagens, mas já deu.
Ansioso em ver o trabalho da Fabiana Cozza.

Unknown disse...

Com todo respeito a diferenças de opinião, a impressão que me deu ao ler sua crítica, é que o cd "Em águas claras" de Valéria Oliveira, não foi ouvido com a devida atenção.
Percebe-se que houve uma cuidadosa pesquisa de Valéria para realização deste trabalho. E muito surpresa fiquei quando li sua referência à gravação de "Basta um dia", minha preferida neste primoroso cd, com um belíssimo arranjo da própria cantora.