Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 16 de julho de 2013

Belo disco ao vivo com Kent mostra que o som de Valle continua demais

Resenha de CD
Título: Marcos Valle & Stacey Kent ao vivo
Artistas: Marcos Valle e Stacey Kent
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * *

A caminho dos 70 anos, a serem completados em 14 de setembro, Marcos Valle também festeja 50 anos de carreira neste ano de 2013. As duas efemérides poderiam servir de pretexto para a gravação de projeto retrospectivo para dar origem a um DVD como tantos despejados cotidianamente no mercado fonográfico com repertório requentado. Entretanto, em vez de tomar o caminho do óbvio, o cantor e compositor carioca se uniu à cantora norte-americana de jazz Stacey Kent em série de shows que ganha registro ao vivo em CD recém-lançado pela gravadora Sony Music. Marcos Valle & Stacey Kent ao vivo não evita os hits mais expressivos do compositor do Samba de verão (1964) - ora revivido em registro bilíngue que remodela o samba com passagens instrumentais à moda do jazz - mas tampouco se revela um greatest hits ao vivo de Valle. Há vários temas menos ouvidos do cancioneiro dos irmãos Marcos Valle & Paulo Sérgio Valle - caso de The white puma (Puma branco, 1973), que mostra de cara o requinte instrumental da gravação ao abrir o disco - e há até balada inédita, Drift away, que exemplifica bem o tom por vezes introspectivo e cool da gravação captada em abril de 2012 em apresentação de Valle e Kent na casa Miranda, no Rio de Janeiro (RJ). Embora de início associada à Bossa Nova, a música de Marcos Valle extrapola rótulos, abarcando ritmos como samba, funk, jazz e pop. A releitura do samba Batucada surgiu (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1965) ilustra a mistura com suingue funky que não descarta passagens de tom jazzy. Gravado com a participação do saxofonista Jim Tomlinson, marido de Stacey Kent, o disco tende por vezes para o pop jazz pela natureza do canto de Kent. Mas também cai no samba. Apropriada para o clima íntimo da bossa, a voz da cantora se ajusta bem ao cancioneiro dos Valle em temas como a balada Dia de vitória (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1969) e a valsa La petite valse (Marcos Valle, 2004), tema cantado em francês por Kent no qual o compositor expõe influência da canção francesa. Mesmo quando parece menos natural, como quando arrisca versos em português na balada cool Passa por mim (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1965), a cantora não sai do tom da música de Valle. Contudo, Marcos Valle & Stacey Kent ao vivo está longe de ser um disco na linha Stacey Kent canta Marcos Valle. Orquestrador das 14 faixas, arranjadas em parceria com o trompetista Jessé Sadoc, Valle tem voz ativa no disco. Não somente porque canta em dueto com Kent músicas como The face I love (Seu encanto) (Marcos Valle, Paulo Sérgio Valle e Pingarilho, 1965), mas também - e sobretudo - porque o toque de seu piano e o suingue de sua obra estão no d.n.a. dos arranjos renovadores. Basta perceber a exuberância instrumental do samba The answer (A resposta) (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1965) para entender que a alma de Valle está em todos os sulcos do disco. Assim como Preciso aprender a ser só (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1965) e como a instrumental Gente (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1965), veículo para a apresentação da boa banda que inclui virtuoses como o saxofonista Marcelo Martins e o violonista Luzi Brasil, A resposta é uma das seis músicas extraídas do repertório do álbum que sedimentou a obra autoral dos irmãos Valle, O compositor e o cantor Marcos Valle (Odeon, 1965). Obra que resiste bem ao tempo, diga-se. Faz 50 anos que Marcos Valle lançou seu primeiro álbum, Samba demais (Odeon, 1963). Decorridas cinco décadas, o CD Marcos Valle & Stacey Kent ao vivo mostra que o som do compositor continua demais - novo e com bossa.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

A caminho dos 70 anos, a serem completados em 14 de setembro, Marcos Valle também festeja 50 anos de carreira neste ano de 2013. As duas efemérides poderiam servir de pretexto para a gravação de projeto retrospectivo para dar origem a um DVD como tantos despejados cotidianamente no mercado fonográfico com repertório requentado. Entretanto, em vez de tomar o caminho do óbvio, o cantor e compositor carioca se uniu à cantora norte-americana de jazz Stacey Kent em série de shows que ganha registro ao vivo em CD recém-lançado pela gravadora Sony Music. Marcos Valle & Stacey Kent ao vivo não evita os hits mais expressivos do compositor do Samba de verão (1964) - ora revivido em registro bilíngue que remodela o samba com passagens instrumentais à moda do jazz - mas tampouco se revela um greatest hits ao vivo de Valle. Há vários temas menos ouvidos do cancioneiro dos irmãos Marcos Valle & Paulo Sérgio Valle - caso de The white puma (Puma branco, 1973), que mostra de cara o requinte instrumental da gravação ao abrir o disco - e há até balada inédita, Drift away, que exemplifica bem o tom por vezes introspectivo e cool da gravação captada em abril de 2012 em apresentação de Valle e Kent na casa Miranda, no Rio de Janeiro (RJ). Embora de início associada à Bossa Nova, a música de Marcos Valle extrapola rótulos, abarcando ritmos como samba, funk, jazz e pop. A releitura do samba Batucada surgiu (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1965) ilustra a mistura com suingue funky que não descarta passagens de tom jazzy. Gravado com a participação do saxofonista Jim Tomlinson, marido de Stacey Kent, o disco tende por vezes para o pop jazz pela natureza do canto de Kent. Mas também cai no samba. Apropriada para o clima íntimo da bossa, a voz da cantora se ajusta bem ao cancioneiro dos Valle em temas como a balada Dia de vitória (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1969) e a valsa La petite valse (Marcos Valle, 2004), tema cantado em francês por Kent no qual o compositor expõe influência da canção francesa. Mesmo quando parece menos natural, como quando arrisca versos em português na balada cool Passa por mim (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1965), a cantora não sai do tom da música de Valle. Contudo, Marcos Valle & Stacey Kent ao vivo está longe de ser um disco na linha Stacey Kent canta Marcos Valle. Orquestrador das 14 faixas, arranjadas em parceria com o trompetista Jessé Sadoc, Valle tem voz ativa no disco. Não somente porque canta em dueto com Kent músicas como The face I love (Seu encanto) (Marcos Valle, Paulo Sérgio Valle e Pingarilho, 1965), mas também - e sobretudo - porque o toque de seu piano e o suingue de sua obra estão no d.n.a. dos arranjos renovadores. Basta perceber a exuberância instrumental do samba The answer (A resposta) (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1965) para entender que a alma de Valle está em todos os sulcos do disco. Assim como Preciso aprender a ser só (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1965) e como Gente (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1965), veículo para a apresentação da banda que inclui virtuoses como o saxofonista Marcelo Martins e o violonista Luzi Brasil, A resposta é uma das seis músicas extraídas do repertório do álbum que sedimentou a obra autoral dos irmãos Valle, O compositor e o cantor Marcos Valle (Odeon, 1965). Obra que resiste bem ao tempo, diga-se. Faz 50 anos que Marcos Valle lançou seu primeiro álbum, Samba demais (Odeon, 1963). Decorridas cinco décadas, o CD Marcos Valle & Stacey Kent ao vivo mostra que o som do compositor continua demais, novo e com bossa.

Unknown disse...

Não consigo parar de ouvir. É muito bacana! Tudo perfeito: repertório,o canto delicioso de Stacey Kent, os arranjos incríveis. Certamente um dos melhores de 2013, junto com TUDO de Joyce Moreno. Altamente recomendável.
Belo cd.

KL disse...

surpreendeu!

Marcelo disse...

O cd é uma delicia... Não paro de ouvir também... :)