Mauro Ferreira no G1

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domingo, 14 de julho de 2013

Evolução de Diogo em cena atenua desnível do roteiro do show 'Mais amor'

Resenha de show
Título: Mais amor
Artista: Diogo Nogueira (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 13 de julho de 2013
Cotação: * * 1/2
Show em cartaz na casa HSBC Brasil, em São Paulo (SP), em 20 de agosto de 2013

É nítida a evolução Diogo Nogueira em cena. O cantor inseguro, de fraseado titubeante, cedeu lugar a um intérprete confiante, com bom domínio de sua voz, capaz de botar na palma da mão o público feminino que o idolatra. O show Mais amor evidencia os progressos do filho de João Nogueira (1941 - 2000) em cena. Ao menos na segunda apresentação da turnê nacional iniciada pelo Rio de Janeiro (RJ) em 12 de julho de 2013, o show transcorreu ágil, fluente, com um roteiro que equilibra sucessos com as músicas inéditas do recém-lançado CD Mais amor. E aí, no repertório, reside o maior problema do show. Por questões mais mercadológicas do que artísticas, Diogo Nogueira está investindo em sambas pautados por um romantismo sensual que nivela o cantor com os grupos de pagode romântico. No show, a evolução cênica do cantor atenua a irregularidade desse repertório, embora fique claro que músicas como Muito mais além (Diogo Nogueira, Inácio Rios e Rafael Richaid, 2013) e Desejo me chama (André Renato e Leandro Fab) estão aquém do potencial de Diogo como cantor. De todo modo, é fato que algumas músicas do fraco disco crescem muito no palco, sobretudo o samba sincopado No sapato (Jorge Aragão, Xande de Pilares e Leandro Fab, 2013) e o buliçoso Partido agarradinho (André Renato e Leandro Fab, 2013). Mais amor é um show quente, concebido dentro de estética popular que combina números de dança - sendo justo ressaltar que as coreografias dos bailarinos da Cia. Carlinhos de Jesus contribuem para realçar a semente de africanidade embutida em Lá de Angola (João Nogueira e Geraldo Vespar, 1980), bem sacado lado B do repertório de João Nogueira - com projeções de vídeos em vários dos 25 números do roteiro. Que apresenta músicas inéditas na voz de Diogo. A maior surpresa é Coisas do Brasil (Guilherme Arantes e Nelson Motta, 1986), trazida para o fundo de quintal, sem a leveza e a aura bossa-novista da gravação original de Arantes, em número que resulta curioso. Sucesso do grupo Malacacheta, Já que tá gostoso deixa (Mata papai) (Jorge Santana e Paulo Santana, 1986) se ajustou bem ao canto de Diogo em leitura que evoca o balanço do kuduro, ritmo de Angola, e que faz sentido no show por estar linkada no roteiro com a supra-citada Lá de Angola. Já o pot-pourri com três sambas de Martinho da Vila pode ficar mais azeitado no decorrer da turnê, pois Canta canta, minha gente (1974) e Casa de bamba (1969) figuram demasiadamente picotadas no show - a rigor, somente com seus respectivos refrãos - enquanto Madalena do Jucu (1989) é cantada na íntegra, surtindo ótimo efeito na plateia. Sucesso de Tim Maia (1942 - 1998) que precede número de sapateado feito por Diogo com o corpo de bailarinos do show, O descobridor dos sete mares (Gilson Mendonça e Michel, 1983) é veículo para a apresentação ágil da big-band que divide o palco com Diogo, embora a música soe quase tão deslocada no roteiro de sambas quanto o Frevo mulher (Zé Ramalho, 1979), fecho do primeiro bis. A propósito, Diogo recorre ao teleprompter para ler a letra do veloz frevo. Tal recurso não dilui a vivacidade do cantor no show Mais amor. Diogo Nogueira tem carisma, vem se aprimorando como cantor e descende da linhagem do samba mais nobre. Por isso mesmo, poderia dispensar certos artifícios - como o de distribuir rosas à moda de Roberto Carlos ao fim do último número do segundo bis, Vou festejar (Jorge Aragão, Neoci Dias e Dida, 1978) - e selecionar seu repertório com maior rigor para fazer jus ao seu sobrenome ilustre.  Afinal, Diogo nasceu em casa de bamba.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

É nítida a evolução Diogo Nogueira em cena. O cantor inseguro, de fraseado titubeante, cedeu lugar a um intérprete confiante, com bom domínio de sua voz, capaz de botar na palma da mão o público feminino que o idolatra. O show Mais amor evidencia os progressos do filho de João Nogueira (1941 - 2000) em cena. Ao menos na segunda apresentação da turnê nacional iniciada pelo Rio de Janeiro (RJ) em 12 de julho de 2013, o show transcorreu ágil, fluente, com um roteiro que equilibra sucessos com as músicas inéditas do recém-lançado CD Mais amor. E aí, no repertório, reside o maior problema do show. Por questões mais mercadológicas do que artísticas, Diogo Nogueira está investindo em sambas pautados por um romantismo sensual que nivela o cantor com os grupos de pagode romântico. No show, a evolução cênica do cantor atenua a irregularidade desse repertório, embora fique claro que músicas como Muito mais além (Diogo Nogueira, Inácio Rios e Rafael Richaid, 2013) e Desejo me chama (André Renato e Leandro Fab) estão aquém do potencial de Diogo como cantor. De todo modo, é fato que algumas músicas do fraco disco crescem muito no palco, sobretudo o samba sincopado No sapato (Jorge Aragão, Xande de Pilares e Leandro Fab, 2013) e o buliçoso Partido agarradinho (André Renato e Leandro Fab, 2013). Mais amor é um show quente, concebido dentro de estética popular que combina números de dança - sendo justo ressaltar que as coreografias dos bailarinos da Cia. Carlinhos de Jesus contribuem para realçar a semente de africanidade embutida em Lá de Angola (João Nogueira e Geraldo Vespar, 1980), bem sacado lado B do repertório de João Nogueira - com projeções de vídeos em vários dos 25 números do roteiro. Que apresenta músicas inéditas na voz de Diogo. A maior surpresa é Coisas do Brasil (Guilherme Arantes e Nelson Motta, 1986), trazida para o fundo de quintal, sem a leveza e a aura bossa-novista da gravação original de Arantes, em número que resulta curioso. Sucesso do grupo Art Popular, Já que tá gostoso deixa (Mata papai) (Jorge Santana e Paulo Santana, 1999) se ajustou bem ao canto de Diogo em leitura que evoca o balanço do kuduro, ritmo de Angola, e que faz sentido no show por estar linkada no roteiro com a supra-citada Lá de Angola. Já o pot-pourri com três sambas de Martinho da Vila pode ficar mais azeitado no decorrer da turnê, pois Canta canta, minha gente (1974) e Casa de bamba (1969) figuram demasiadamente picotadas no show - a rigor, somente com seus respectivos refrãos - enquanto Madalena do Jucu (1989) é cantada na íntegra, surtindo ótimo efeito na plateia. Sucesso de Tim Maia (1942 - 1998) que precede número de sapateado feito por Diogo com o corpo de bailarinos do show, O descobridor dos sete mares (Gilson Mendonça e Michel, 1983) é veículo para a apresentação ágil da big-band que divide o palco com Diogo, embora a música soe quase tão deslocada no roteiro de sambas quanto o Frevo mulher (Zé Ramalho, 1979), fecho do primeiro bis. A propósito, Diogo recorre ao teleprompter para ler a letra do veloz frevo. Tal recurso não dilui a vivacidade do cantor no show Mais amor. Diogo Nogueira tem carisma, vem se aprimorando como cantor e descende da linhagem do samba mais nobre. Por isso mesmo, poderia dispensar certos artifícios - como o de distribuir rosas à moda de Roberto Carlos ao fim do último número do segundo bis, Vou festejar (Jorge Aragão, Neoci Dias e Dida, 1978) - e selecionar seu repertório com maior rigor para honrar o seu sobrenome ilustre.

maroca disse...

Augusto Flávio (Petrolina-Pe/Juazeiro-Ba)

Mauro, a música Já que tá gostoso deixa (Mata papai) foi gravada originalmente pelo grupo Malakaxeta em 1986, a qual fez muito sucesso aqui na Bahia e Pernambuco.

Abs.

Victor Moraes, disse...

Flores?
Isso só pode ser empresário ou gravadora. Não é posível que ele tente dar uma de "galã" com a bagagem de samba que já começou no DNA dele.
Volta ao básico, que tava lindo.