Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 18 de julho de 2013

Caixa 'Três tons de Rita Lee' expõe três matizes (distintos) da artista mutante

Resenha de caixa de CDs
Título: Três tons de Rita Lee
Artista: Rita Lee
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * *

 Relançada no formato de CD na década de 90, a discografia solo de Rita Lee merece urgente reposição em catálogo em reedições remasterizadas com a tecnologia atual. Com o lançamento da caixa Três tons de Rita Lee, a gravadora Universal Music começa a reparar esse descaso com a obra da cantora e compositora paulista, ícone do rock made in Brazil com linguagem nacional. A caixa embala reedições caprichadas dos três primeiros álbuns da carreira solo de Rita. O mais raro era Atrás do porto tem uma cidade (1974), primeiro álbum lançado pela artista com o Tutti Frutti, grupo que acompanharia Rita até o disco Babilônia (1978). A rigor, Atrás do porto tem uma cidade é o segundo álbum de Rita com o grupo, já que o real primeiro disco da cantora com a banda - gravado em 1973 e intitulado Tutti Frutti - foi arquivado pela gravadora Philips, que considerou o trabalho pouco comercial. Embora relançado em CD nos anos 90, Atrás do porto tem uma cidade nunca tinha merecido reedição decente como a da caixa produzida por Tiago Silva para a Universal Music. O ganho na qualidade do som é expressivo. Produzido por Mazzola, convocado pela gravadora para dar direcionamento pop ao som de Rita em sua fase pós-Mutantes, Atrás do porto tem uma cidade aponta o caminho que seria seguido com mais força pela cantora em sua fase de maior sucesso comercial. Rocks se harmonizam com baladas em coquetel de sabor pop. Mamãe natureza (Rita Lee), De pés no chão (Rita Lee) - rock revivido pela cantora baiana Marcia Castro em seu segundo disco - e a balada Menino bonito (Rita Lee) se impuseram em repertório que ainda destacou Tratos à bola (Rita Lee, Luís Sérgio e Lee Marcucci) e Ando jururu (Rita Lee). Menos raro, pois já alvo de excelente reedição em CD produzida por Ricardo Moreira para a Universal Music em 2005 com textos do pesquisador musical Marcelo Fróes, Hoje é o primeiro dia do resto de sua vida (1972) saiu creditado a Rita Lee, mas, na verdade, é um álbum dos Mutantes. O último do grupo com Rita Lee, ou seja, o derradeiro trabalho do grupo com sua formação original. É que o grupo gravou o disco em julho de 1972, dois meses após ter lançado o álbum Mutantes e seus cometas no País do Baurets, posto nas lojas em maio de 1972. Por questões contratuais, o LP saiu creditado a Rita Lee, já que o contrato dos Mutantes previa somente a edição de um álbum por ano. Sem hits radiofônicos, Hoje é o primeiro dia do resto de sua vida  sinalizou a rota progressiva que seria seguida pelos Mutantes com mais ênfase após a (ainda hoje controversa) saída de Rita Lee - que fundou em 1973 com Lúcia Turnbull a efêmera dupla Cilibrinas do Éden - da banda. Primeiro título da caixa na ordem cronológica, Build up (1970) é o disco que marca a estreia de Rita Lee na carreira solo. Gravado sob a direção de Arnaldo Dias Baptista, o disco foi feito em fase de menor harmonia entre os irmãos Arnaldo e Sérgio Dias Baptista, contrário à ideia de Rita lançar disco individual. Com o sabor da geléia geral tropicalista, Build up é disco que vai do tango (Prisioneira do rock, de Élcio Decário) ao rock (Eu vou me salvar, parceria de Rita com o mesmo Élcio Decário). O sucesso radiofônico foi José, versão em português - curiosamente assinada pela cantora capixaba Nara Leão (1942 - 1989) - de Joseph, canção do compositor francês de origem grega Georges Moustaki (1924 - 2013). Mas a música mais badalada hoje em dia é Sucesso, aqui vou eu (Rita Lee e Arnaldo Baptista), faixa de letra premonitória, pois Rita Lee alcançaria mesmo grande sucesso com seu pop rock carnavalizante ao longo dos anos 70. Três tons de Rita Lee flagra a Ovelha Negra - eterna mutante, no fundo sempre sozinha (apesar da colaboração fundamental de Roberto de Carvalho após 1979) - em três momentos distintos de discografia que precisa ser alvo de outras reedições similares às da caixa produzida com esmero pela Universal Music (sob gerência de Alice Soares)  na oportuna série Tons.

11 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Relançada no formato de CD na década de 90, a discografia solo de Rita Lee merece urgente reposição em catálogo em reedições remasterizadas com a tecnologia atual. Com o lançamento da caixa Três tons de Rita Lee, a gravadora Universal Music começa a reparar esse descaso com a obra da cantora e compositora paulista, ícone do rock made in Brazil com linguagem nacional. A caixa embala reedições caprichadas dos três primeiros álbuns da carreira solo de Rita. O mais raro era Atrás do porto tem uma cidade (1974), primeiro álbum lançado pela artista com o Tutti Frutti, grupo que acompanharia Rita até o disco Babilônia (1978). A rigor, Atrás do porto tem uma cidade é o segundo álbum de Rita com o grupo, já que o real primeiro disco da cantora com a banda - gravado em 1973 e intitulado Tutti Frutti - foi arquivado pela gravadora Philips, que considerou o trabalho pouco comercial. Embora relançado em CD nos anos 90, Atrás do porto tem uma cidade nunca tinha merecido reedição decente como a da caixa produzida por Tiago Silva para a Universal Music. O ganho na qualidade do som é expressivo. Produzido por Mazzola, convocado pela gravadora para dar direcionamento pop ao som de Rita em sua fase pós-Mutantes, Atrás do porto tem uma cidade aponta o caminho que seria seguido com mais força pela cantora em sua fase de maior sucesso comercial. Rocks se harmonizam com baladas em coquetel de sabor pop. Mamãe natureza (Rita Lee), De pés no chão (Rita Lee) - rock revivido pela cantora baiana Marcia Castro em seu segundo disco - e a balada Menino bonito (Rita Lee) se impuseram em repertório que ainda destacou Tratos à bola (Rita Lee, Luís Sérgio e Lee Marcucci) e Ando jururu (Rita Lee). Menos raro, pois já alvo de excelente reedição em CD produzida por Ricardo Moreira para a Universal Music em 2005 com textos do pesquisador musical Marcelo Fróes, Hoje é o primeiro dia do resto de sua vida (1972) saiu creditado a Rita Lee, mas, na verdade, é um álbum dos Mutantes. O último do grupo com Rita Lee, ou seja, o derradeiro trabalho do grupo com sua formação original. É que o grupo gravou o disco em julho de 1972, dois meses após ter lançado o álbum Mutantes e seus cometas no País do Baurets, posto nas lojas em maio de 1972. Por questões contratuais, o LP saiu creditado a Rita Lee, já que o contrato dos Mutantes previa somente a edição de um álbum por ano. Sem hits radiofônicos, Hoje é o primeiro dia do resto de sua vida sinalizou a rota progressiva que seria seguida pelos Mutantes com mais ênfase após a (ainda hoje controversa) saída de Rita Lee - que fundou em 1973 com Lúcia Turnbull a efêmera dupla Cilibrinas do Éden - da banda. Primeiro título da caixa na ordem cronológica, Build up (1970) é o disco que marca a estreia de Rita Lee na carreira solo. Gravado sob a direção de Arnaldo Dias Baptista, o disco foi feito em fase de menor harmonia entre os irmãos Arnaldo e Sérgio Dias Baptista, contrário à ideia de Rita lançar disco individual. Com o sabor da geléia geral tropicalista, Build up é disco que vai do tango (Prisioneira do rock, de Élcio Decário) ao rock (Eu vou me salvar, parceria de Rita com o mesmo Élcio Decário). O sucesso radiofônico foi José, versão em português - curiosamente assinada pela cantora capixaba Nara Leão (1942 - 1989) - de Joseph, canção do compositor francês de origem grega Georges Moustaki (1924 - 2013). Mas a música mais badalada hoje em dia é Sucesso, aqui vou eu (Rita Lee e Arnaldo Baptista), faixa de letra premonitória, pois Rita Lee alcançaria mesmo grande sucesso com seu pop rock carnavalizante ao longo dos anos 70. Três tons de Rita Lee flagra a Ovelha Negra - eterna mutante, no fundo sempre sozinha (apesar da colaboração fundamental de Roberto de Carlos após 1979) - em três momentos distintos de discografia que precisa ser alvo de outras reedições similares às da caixa produzida com esmero pela Universal Music (sob a gerência de Alice Soares) na sua oportuna série Tons.

Insensato Mundo disse...

Olá Mauro,

A série "Tons" é muito bem vinda. Espero que continuem ampliando o leque de lançamentos de tantos outros álbuns que estão fora do mercado.

Uma pequena correção: você trocou o Roberto de Carvalho pelo Roberto Carlos rsrsrs.

Aproveito para parabenizá-lo pelo lançamento do livro "Cantadas" e pelo belo texto de mais um volume da Coleção Folha Tributo a Tom Jobim (Tom, Vinícius, Toquinho, Miúcha - Gravado ao vivo no Canecão).

Cláudio disse...

O box saiu no capricho, mesmo! Até os rótulos dos LPs foram impressos nos CDs (diferente do box de Alceu Valença).
Esta série TONS tá bem legal. O problema é que tá saindo devagar demais. 1 box a cada 45 dias.
Que venham novos tons:
- Emílio Santiago
- Tetê Espíndola
- Tunai
- Dominguinhos
- Quarteto em Cy
- MPB4

Mauro Ferreira disse...

Grato, Insensato Mundo, pelo toque da troca entre os Robertos. E pelos elogios. Abs, MauroF

Qualquer Coisa disse...

Gostaria muito que saísse esse primeiro disco com o TF que o Mauro mencionou (e do qual eu nunca tinha ouvido falar até então) e também o (quase tão raro quanto) disco das Cilibrinas do Éden.

KL disse...

A série Tons está quase tão caprichada quanto as edições japonesas, inclusive até têm vindo com bônus. E que se lembrem, pelo menos, das seguintes trilogias: Wilson Simonal e Claudette Soares. Lógico que cairiam muito bem Quarteto em Cy, MPB4, Dominguinhos, Jackson do Pandeiro, Odair José...incluindo os selos Polydor, Polyfar e Fontana, o acervo sob posse da Universal Music é grande e ainda pouco explorado.

Waldeci Maciel disse...

Não sei se estou enganado, mas a versão 'José' não é de Nalva Aguiar?

Waldeci Maciel disse...

Desculpe se me engano, mas a versão 'José' não é de Nalva Aguiar?

Mauro Ferreira disse...

Não, Waldeci, a Nalva pode até ter gravado, mas a versão - feita pela Nara - foi lançada pela Rita. abs, MauroF

BBbi disse...

A roqueira Rita Lee existiu até o Babilônia. O casamento musical com Roberto enterrou o rock de Rita que conseguiu ainda alguma expressão em discos menos água com açúcar como Saúde e Rita&Roberto (Vírus do Amor.

Adilson disse...

Aguardo ansiosamente pelos discos de Emilio Santiago, do inicio de carreira na Ex Polygram, como os de 1979, 1978, 1982 e 1983.