Mauro Ferreira no G1

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domingo, 27 de julho de 2014

'Summertime', disco ora reeditado por Cida, irradia calor de voz ainda quente

Resenha de reedição de CD
Título: Summertime
Artista: Cida Moreira
Gravadora da edição original de 1981: Áudio Patrulha / Lira Paulistana
Gravadora da reedição de 2014: Edição independente da artista / Tratore
Cotação do álbum original de 1981: * * * * *
Cotação da reedição em CD de 2014: * * 1/2

 Em 2011, a carreira da cantora paulista Cida Moreira ganhou impulso com a edição do álbum A dama indigna (Joia Moderna, 2011). Uma nova geração descobriu, embevecido, o canto dessa intérprete digna de representar no Brasil o gênero de cantoras conhecidas nos Estados Unidos e na Europa como saloon singers. Cida - até por ser também atriz - personifica com perfeição a cantora de cabaré. Um piano é o que normalmente lhe basta para pôr em ação sua voz de tons operísticos e sua emoção. O sucesso do show e disco A dama indigna revigorou a agenda de shows da artista, atualmente dividida em vários espetáculos. Um deles está calcado em seu primeiro álbum, Summertime, lançado originalmente em 1981 em edição viabilizada por parceria da Áudio Patrulha com a Lira Paulistana. Em Summertime, o disco ora reeditado por Cida, estão a origem e a base d'A dama indigna. O repertório pode ser diverso, mas a atmosfera e as intenções são as mesmas. O que torna mais do que oportuna em 2014 a primeira reedição em CD deste disco gravado ao vivo em apresentação do show Summertime captada em 30 de agosto de 1980 no Teatro Lira Paulistana. Infelizmente, o som da reedição não está à altura da qualidade do álbum. Além de dar a impressão de ter sido extraído de vinil, o som do disco chega ao formato digital sem ter passado por processo de remasterização. O fato de ser um álbum de voz e piano ameniza a desatenção na questão técnica, evidenciado pelo fato de a música Geni e o zepelim (Chico Buarque, 1978) ser repetida nas faixas oito e nove, levando o CD a ter 15 faixas em vez das 14 do LP original. Para colecionadores de disco, o apuro da esperada reedição em CD de Summertime - por ora vendida por Cida somente em shows - reside mais no encarte, que traz breve texto da artista (..."Summertime, o verão que se tornou eterno... Um desejo, um desabafo, uma alma exposta... Assim foi", diz um trecho do texto) e que reproduz as letras das 13 músicas do show dirigido e roteirizado por José Possi Neto. Algumas - Gota de sangue (Ângela RoRo, 1979), Summertime (George Gerswin e DuBose Heyward, 1935) e a já mencionada Geni e o zepelim - permaneceram recorrentes no repertório da cantora. Outras se dissociaram da voz da intérprete ao longo dos decorridos 33 anos - casos de She's leaving home (John Lennon e Paul McCartney, 1967) - cuja abordagem exemplifica o alcance da voz de Cida na época - e de Vapor barato (Jards Macalé e Waly Salomão, 1971). Mas o fato é que o tempo correu a favor de Cida, que na época de Summertime assinava o sobrenome Moreira com y. Se a voz perdeu naturalmente alguma potência, as interpretações se depuraram com o decorrer dos anos. Por ter sido desde sempre intérprete hábil na exposição dos textos (e subtextos) das canções, Cida oferece em Summertime abordagens sedutoras de standards da música norte-americana como Good morning heartache (Dan Fischer, Ervin Drake e Irene Higginbothan, 1946), Mercedez Benz (Janis Joplin, Michael McClure e Bob Neuwirth, 1970) - a música que mais parece ambientada em clima de cabaré - e My man (Maurice Yvain e Channing Pollock, 1928). Mas atualmente a voz da dama é mais precisa, expondo o que chamam de maturidade. Summertime, o álbum, foi realmente o início de verão de noites quentes que ainda irradiam o calor da voz da (talentosa) artista, digníssima dama da canção e dos cabarés.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Em 2011, a carreira da cantora paulista Cida Moreira ganhou impulso com a edição do álbum A dama indigna (Joia Moderna, 2011). Uma nova geração descobriu, embevecido, o canto dessa intérprete digna de representar no Brasil o gênero de cantoras conhecidas nos Estados Unidos e na Europa como saloon singers. Cida - até por ser também atriz - personifica com perfeição a cantora de cabaré. Um piano é o que normalmente lhe basta para pôr em ação sua voz de tons operísticos e sua emoção. O sucesso do show e disco A dama indigna revigorou a agenda de shows da artista, atualmente dividida em vários espetáculos. Um deles está calcado em seu primeiro álbum, Summertime, lançado originalmente em 1981 em edição viabilizada por parceria da Áudio Patrulha com a Lira Paulistana. Em Summertime, o disco ora reeditado por Cida, estão a origem e a base d'A dama indigna. O repertório pode ser diverso, mas a atmosfera e as intenções são as mesmas. O que torna mais do que oportuna em 2014 a primeira reedição em CD deste disco gravado ao vivo em apresentação do show Summertime captada em 30 de agosto de 1980 no Teatro Lira Paulistana. Infelizmente, o som da reedição não está à altura da qualidade do álbum. Além de dar a impressão de ter sido extraído de vinil, o som do disco chega ao formato digital sem ter passado por processo de remasterização. O fato de ser um álbum de voz e piano ameniza a desatenção na questão técnica, evidenciado pelo fato de a música Geni e o zepelim (Chico Buarque, 1978) ser repetida nas faixas oito e nove, levando o CD a ter 15 faixas em vez das 14 do LP original. Para colecionadores de disco, o apuro da esperada reedição em CD de Summertime - por ora vendida por Cida somente em shows - reside mais no encarte, que traz breve texto da artista (..."Summertime, o verão que se tornou eterno... Um desejo, um desabafo, uma alma exposta... Assim foi", diz um trecho do texto) e que reproduz as letras das 13 músicas do show dirigido e roteirizado por José Possi Neto. Algumas - Gota de sangue (Ângela RoRo, 1979), Summertime (George Gerswin e DuBose Heyward, 1935) e a já mencionada Geni e o zepelim - permaneceram recorrentes no repertório da cantora. Outras se dissociaram da voz da intérprete ao longo dos decorridos 33 anos - casos de She's leaving home (John Lennon e Paul McCartney, 1967) - cuja abordagem exemplifica o alcance da voz de Cida na época - e de Vapor barato (Jards Macalé e Waly Salomão, 1971). Mas o fato é que o tempo correu a favor de Cida, que na época de Summertime assinava o sobrenome Moreira com y. Se a voz perdeu naturalmente alguma potência, as interpretações foram se depurando com o decorrer dos anos. Por ter sido desde sempre intérprete hábil na exposição dos textos (e subtextos) das canções, Cida oferece em Summertime abordagens sedutoras de standards da música norte-americanas como Good morning heartache (Dan Fischer, Ervin Drake e Irene Higginbothan, 1946), Mercedez Benz (Janis Joplin, Michael McClure e Bob Neuwirth, 1970) - a música que mais parece ambientada em clima de cabaré - e My man (Maurice Yvain e Channing Pollock, 1928), mas atualmente a voz da dama é mais precisa, expondo o que muitos chamam de maturidade. Summertime, o álbum, foi realmente o início de um verão de noites quentes que ainda irradiam o calor da voz dessa talentosa artista, digníssima dama da canção e dos cabarés.

Bussab disse...

Olá Mauro só um pequeno reparo. A Maximus é um escritorio de fabricação. O relançamento foi custeado 100% pela propria Cida. Entao a gravadora é "independente" e a distribuição se voce quiser mencionar, é da Tratore.

Mauro Ferreira disse...

Tem razão, Bussab. Abs, grato pelo toque, MauroF