Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 15 de julho de 2014

Com Unidade, Saulo cruza os sons do Norte e da América Central em 'Quente'

Resenha de CD
Título: Quente
Artista: Saulo Duarte e a Unidade
Gravadora: YB Music
Cotação: * * *

 Saulo Duarte foi criado em Fortaleza (CE) e há cinco anos está radicado na cidade de São Paulo (SP). Mas a origem nortista deste cantor, compositor e guitarrista nascido em Belém (PA) prevalece em Quente, segundo (bom) álbum de Saulo Duarte com o grupo Unidade. Diferentemente do antecessor Saulo Duarte e a Unidade (YB Music / Baritone Records, 2013), pautado por combinação do suingue do Norte com o brega dos anos 1970, Quente está centrado no cruzamento dos ritmos do Brasil amazônico com os sons da América Latina. Ritmos como reggae - entranhado na levada de Me dei conta (Saulo Duarte), faixa gravada com a adesão da voz, dos clavinetes e do MPC do baterista Curumin - e cumbia se harmonizam com levadas de carimbó e lambada em repertório autoral que destaca Flores pelo ar (Saulo Duarte) e Zonzon (Saulo Duarte). As guitarras de Manoel Cordeiro - ícone da guitarrada paraense - pontuam Quente, álbum de temperatura amena, que varia conforme o grau de inspiração do compositor. Mas é curiosamente numa faixa em que Cordeiro não toca - a instrumental Lambada do anel (Saulo Duarte, João Leão, Beto Gibbs e Klaus Sena) - que a atmosfera da guitarrada mais fica perceptível. Dentro desse coquetel latino, Na companhia dos seus (Saulo Duarte) e Massafera (Saulo Duarte) embutem o tempero do rock em algumas passagens. Já Yo vengo (Saulo Duarte) tangencia o formato mais tradicional da canção em gravação feita por Saulo com a cantora Vera Souza. E por falar em cantora, a paraense Luê figura na faixa mais sedutora de Quente: a graciosa regravação de Tô que tô... saudade (Eudes Fraga). Lembrança afetiva da infância do artista, o sucesso do cantor e compositor paraense Nilson Chaves na década de 1980 norteia Saulo neste disco que desencava raízes afro-brasileiras no toque do tambor embutido em No coração da mata (Saulo Duarte). "Eu canto para tornar felizes os outros / Que cantarão meu sonho", diz Saulo, ao fim da vinheta escondida que fecha verdadeiramente o álbum com a declamação do Poema xavante no toque da guitarra de Felipe Cordeiro. Com um pé no Norte e o outro no universo pop cosmopolita, Saulo Duarte sabe interagir com as tribos que moldam o universo pop e, em especial, o som do artista.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Saulo Duarte foi criado em Fortaleza (CE) e há cinco anos está radicado em São Paulo (SP). Mas a origem nortista deste cantor, compositor e guitarrista nascido em Belém (PA) prevalece em Quente, segundo álbum de Saulo Duarte com o grupo Unidade. Diferentemente do antecessor Saulo Duarte e a Unidade (YB Music / Baritone Records, 2013), pautado por combinação do suingue do Norte com o brega dos anos 1970, Quente está centrado no cruzamento dos ritmos do Brasil amazônico com os sons da América Latina. Ritmos como reggae - entranhado na levada de Me dei conta (Saulo Duarte), faixa gravada com a adesão da voz, dos clavinetes e do MPC do baterista Curumim - e cumbia se harmonizam com levadas de carimbó e lambada em repertório autoral que destaca Flores pelo ar (Saulo Duarte) e Zonzon (Saulo Duarte). As guitarras de Manoel Cordeiro - ícone da guitarrada - pontuam Quente, álbum de temperatura amena, que varia conforme o grau de inspiração do compositor. Mas é curiosamente numa faixa em que Cordeiro não toca - a instrumental Lambada do anel (Saulo Duarte, João Leão, Beto Gibbs e Klaus Sena) - que a atmosfera da guitarrada mais fica perceptível. Dentro desse coquetel latino, Na companhia dos seus (Saulo Duarte) e Massafera (Saulo Duarte) embutem o tempero do rock em algumas passagens. Já Yo vengo (Saulo Duarte) tangencia o formato mais tradicional da canção em gravação feita por Saulo com a cantora Vera Souza. E por falar em cantora, a paraense Luê figura na faixa mais sedutora de Quente: a graciosa regravação de Tô que tô... saudade (Eudes Fraga). Lembrança afetiva da infância do artista, o sucesso do cantor e compositor paraense Nilson Chaves na década de 1980 norteia Saulo neste disco que desencava raízes afro-brasileiras no toque do tambor embutido em No coração da mata (Saulo Duarte). "Eu canto para tornar felizes os outros / Que cantarão meu sonho", diz Saulo, ao fim da vinheta escondida que fecha verdadeiramente o álbum com a declamação do Poema xavante no toque da guitarra de Felipe Cordeiro. Com um pé no Norte e o outro no universo pop cosmopolita, Saulo Duarte sabe interagir com sua tribo.