Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


sexta-feira, 5 de julho de 2013

Além da voz, Ellen Oléria prova ter 'uma certa magia' no segundo álbum solo

Resenha de CD
Título: Ellen Oléria
Artista: Ellen Oléria
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * 1/2

 Mesmo sendo uma das músicas mais gravadas da parceria de Milton Nascimento com Fernando Brant, Maria Maria (1976) faz todo sentido na voz de Ellen Oléria, a cantora e compositora de Brasília (DF) projetada nacionalmente ao vencer a primeira temporada do programa The voice Brasil (TV Globo) em 2012, três anos após ter lançado na cena indie seu primeiro álbum, Peça (Independente, 2009), e um ano após ter editado em CD e DVD um registro de show feito e assinado com o grupo Pret.tu, Ao vivo no Garagem! (Independente, 2011), de alcance limitado. Maria Maria figura no repertório de Ellen Oléria, o terceiro disco dessa artista que, além da voz naturalmente expressiva, mostra neste segundo álbum solo de estúdio que tem uma certa magia e uma ginga que reiteram o poder da raça. A produção de Alexandre Castilho e Torquato Mariano procura linkar Ellen Oléria, o álbum, ao programa que tornou a cantora famosa. E não é por acaso que a releitura quase protocolar de Anunciação (Alceu Valença, 1983) abre o disco e os trabalhos promocionais do CD posto nas lojas pela Universal Music no início deste mês de julho de 2013. Contudo, a personalidade forte de Ellen se esgueira por entre as frestas e acaba se impondo ao lado da banda Pret.utu, colaboradora dos arranjos. Se a cantora tem autoridade para refazer o elo Brasil-África de Zumbi (Jorge Ben Jor, 1973), a compositora se insere na tradição do funk-soul nacional com temas autorais como Linhas de nazca (Ellen Oléria, 2011) - música já registrada no CD/DVD Ao vivo no Garagem! - e Geminiana (Ellen Oléria), ambos com grooves delinenados por metais. Em essência, Ellen Oléria faz a música preta brasileira de que fala (com propriedade) a antecessora Sandra de Sá. Contudo, na aquarela de Oléria, cabe também a cor esverdeada de bela canção de clima bucólico, Córrego rico (Ellen Oléria), que remete ao som de Maria Gadú. Lançada em 2009 no álbum Peça, a balada Não lugar (Ellen Oléria, 2009) também expõe momento mais delicado de voz que vem do gueto e que, oito faixas depois, se aquece na alta velocidade de Testando (Ellen Oléria, 2009), tema trabalhado no suingue, com letra longa que parece ser carta de princípios dessa cantora cheia de ginga. Pela efervescente pulsação, Testando - outra herança do repertório seminal de Peça - se alinha no disco com a releitura de Aqui é o país do futebol (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1970), oportuna em tempos de Copas e protestos pelo fato de o Brasil estar perdendo o jogo em campos como o da saúde, educação e transporte. A faixa é aberta com beat box de Carlinhos Brown, que também toca percussão e faz o papel de MC ao atualizar no compasso discursivo do rap a letra em que Fernando Brant marca gol ao celebrar a paixão do brasileiro pela bola com toques políticos que faziam sentido já em 1970. Bola fora é a regravação de Nuvem passageira (Hermes Aquino, 1976), canção que destoa do tom do repertório do CD por expor fragilidade incoerente com a força que exala do canto de Ellen Oléria. Contudo, Ellen Oléria - o disco - deixa impressão positiva (apesar das evidentes intromissões da gravadora) e a certeza de que a cantora é mais do que uma voz. Ellen Oléria faz o som, tem a cor e exala o suor dos que têm raça, manha e a estranha mania de ter fé na vida. Uma certa magia que, se não for diluída na selva do mercado da música, vai consolidar a boa voz da artista neste populoso país de cantoras.

10 comentários:

Mauro Ferreira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marcelo Barbosa disse...

Mauro, quando você fará a resenha do cd da Lu Carvalho?
Esses dias descobri uma cantora que soube escolher um repertório ótimo, meio Jovelina Pérola Negra, chama-se: Nãnãnã da Mangueira. Vale a pena dar um crédito! Mais uma amadrinhada por Elisabeth.
Felizmente minha cantora nunca me coloca em roubadas.
Abs e quanto à Oléria, gosto muito! Ainda não ouvi, mas com certeza devo adquirir.

Estação da Boa Musica disse...

Amigo posta uma noticia sobre o estado de saude do Dominguinhos.

Estação da Boa Musica disse...

Amigo posta uma noticia sobre o estado de saude do dominguinhos !!!

Mauro Ferreira disse...

O Blog Notas Musicais versa exclusivamente sobre a produção fonográfica dos artistas e, portanto, não noticia nada que não tenha a ver com CDs e DVDs. Abs, MauroF

Fabio Gomes disse...

'Córrego Rico' foi lançada por Emília Monteiro no CD 'Cheia de Graça' http://musicadonorte.blogspot.com.br/2013/06/disco-do-mes-cheia-de-graca.html

maroca disse...

Augusto Flávio (Petrolina-Pe/Juazeiro-Ba)

Não achei Nuvem passageira, bola fora. Ficou gostosinha pra se ouvir.

SE UM DIA ME QUISERES... disse...

Um disco lindo! Parabéns á Ellen ! comprei dois discos e presenteei um amigo querido.. ;)

SE UM DIA ME QUISERES... disse...

lindo disco! Salve Ellen ...

Antenor Leopoldino disse...

Nuvem Passageira, bola fora?? Só pq ela n grita?? Adorei. Mostra que ela é versátil. Bota a tal Gadu no chinelo.