Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Com voz dadivosa, Ná Ozzetti bisa no show 'Embalar' a maestria do disco

Resenha de show
Título: Embalar
Artista: Ná Ozzetti (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Teatro Rival (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 18 de novembro de 2013
Cotação: * * * * 1/2

"Vocês já conhecem isso, não?", perguntou Ná Ozzetti para a plateia que foi ao Teatro Rival na noite de 18 de novembro de 2013 assistir à estreia do show Embalar no Rio de Janeiro (RJ). Isso era o gestual feito pela artista paulista enquanto repetia o verso "A luz cheia reduz nós dois a pedacinhos", da letra de Sutil, música que seu compositor Itamar Assumpção (1949 - 2003) lançou em álbum de 1988 e que a cantora tornou sua ao regravá-la em seu segundo disco solo, (1994). Sim, o reduzido público - formado basicamente por cantores e músicos habituados às virtuosas performances da cantora - já conhecia o gestual de Sutil, destaque de roteiro construído com todas as 11 músicas inéditas do recém-lançado CD Embalar (Circus / Ná Records, 2013). Egressa do Grupo Rumo, Ná sempre esteva alinhada com as modernidades da lira paulistana que arejou a cena de São Paulo (SP) no início dos anos 80. Geração que continua em plena atividade sem dar sinais de cansaço. Embalar, o disco, conecta Ná a nomes da nova geração paulistana como Tulipa Ruiz - parceria da cantora e compositora na roqueira Pra começo de conversa - e Kiko Dinnucci, compositor (em parceria com Jonathan Silva) de Lizete, espirituosa crônica de amor lésbico que curiosamente se parece com as músicas do Grupo Rumo. Mesmo apresentado no Rio de Janeiro sem as projeções em vídeo da cenografia idealizada por Teresa Maita, Embalar, o show, bisa a maestria do disco por conta da voz dadivosa de Ná e da total sintonia da cantora com a banda também dadivosa formada por Dante Ozzetti (violão), Mário Manga (guitarra e violoncelo), Sérgio Reze, (bateria e gongos melódicos) e Zé Alexandre Carvalho (contrabaixo acústico). Por mais que a ausência de Mônica Salmaso em Minha voz (Déa Trancoso, 2013) seja sentida, para citar somente um exemplo em que o show fica impossibilitado de reproduzir com fidelidade o que se ouve no disco, o canto preciso de Ná compensa essa ausência. Música do já citado álbum (1994), Atração fatal (Ná Ozzetti e Luiz Tatit) reitera no show que, mesmo com a obra de Ná em incessante movimento, as composições antigas se afinam com as novas em amostra de rara coerência. À vontade nesse universo musical pautado por inusitados caminhos melódicos, a banda harmoniza em cena a eletricidade injetada pelas guitarra de Mário Manga em Os enfeites de cunhã (Ná Ozzetti e Joãozinho Gomes, 2013) - música adornada com termos do Norte do Brasil, efeito de o parceiro de Ná na composição, Joãozinho Gomes, ser de Macapá (AP) - com o clima lírico que pontua Olhos de Camões, melodia de contorno mais clássico, criada por Ná para musicar poema feito por Alice Ruiz com colagem de versos do poeta português Luis de Camões (1524 - 1680). A reconstrução de Mutante (Rita Lee e Roberto de Carvalho, 1981) - música a que Ná deu voz em seu disco LoveLeeRita (1996), tributo à cantora e compositora paulista Rita Lee - mostra que é até possível revisitar uma música batida desde que a abordagem seja realmente nova, com outro andamento, outra atmosfera. Bem cuidada, a iluminação do show contribui para o realce de climas. Basta uma mudança na luz, como na introdução de A velha fiando (Dante Ozzetti e Luiz Tatit, 2011), para acentuar o ganho de ritmo e colorido do show após número (a já citada Minha voz) de tonalidade intencionalmente mais pálida. Música do CD Estopim (1999), Ultrapássaro (Dante Ozzetti e José Miguel Wisnik) volta alto com Ná elevando os tons na exploração das regiões mais agudas de sua voz dadivosa. Sim, Ná Ozzetti também é dona do dom, como prova ao sair de cena ao som de inebriante releitura de Adeus, batucada (Synval Silva, 1935), o samba a que Ná deu voz em seu discos Show (2001) e Balangandãs (2009), este gravado em tributo a Carmen Miranda (1909 - 1955). Enfim, Embalar é show à altura do disco que o inspirou. No caso, grande disco que já figura entre os melhores de 2013.

12 comentários:

Fabio disse...

Uma pena Ná ser ouvida por poucos, pelo pessoal indie. Ná merece maior projeção, mas acho que ela nao precisa e não quer isso.

Mauro Ferreira disse...

"Vocês já conhecem isso, não?", perguntou Ná Ozzetti para a plateia que foi ao Teatro Rival na noite de 18 de novembro de 2013 assistir à estreia do show Embalar no Rio de Janeiro (RJ). Isso era o gestual feito pela artista paulista enquanto repetia o verso "A luz cheia reduz nós dois a pedacinhos", da letra de Sutil, música que seu compositor Itamar Assumpção (1949 - 2003) lançou em álbum de 1988 e que a cantora tornou sua ao regravá-la em seu segundo disco solo, Ná (1994). Sim, o reduzido público - formado basicamente por cantores e músicos habituados às virtuosas performances da cantora - já conhecia o gestual de Sutil, destaque de roteiro construído com todas as 11 músicas inéditas do recém-lançado CD Embalar (Circus / Ná Records, 2013). Egressa do Grupo Rumo, Ná sempre esteva alinhada com as modernidades da lira paulistana que arejou a cena de São Paulo (SP) no início dos anos 80. Geração que continua em plena atividade sem dar sinais de cansaço. Embalar, o disco, conecta Ná a nomes da nova geração paulistana como Tulipa Ruiz - parceria da cantora e compositora na roqueira Pra começo de conversa - e Kiko Dinnucci, compositor (em parceria com Jonathan Silva) de Lizete, espirituosa crônica de amor lésbico que curiosamente se parece com as músicas do Grupo Rumo. Mesmo apresentado no Rio de Janeiro sem as projeções em vídeo da cenografia idealizada por Teresa Maita, Embalar, o show, bisa a maestria do disco por conta da voz dadivosa de Ná e da total sintonia da cantora com a banda também dadivosa formada por Dante Ozzetti (violão), Mário Manga (guitarra e violoncelo), Sérgio Reze, (bateria e gongos melódicos) e Zé Alexandre Carvalho (contrabaixo acústico). Por mais que a ausência de Mônica Salmaso em Minha voz (Déa Trancoso, 2013) seja sentida, para citar somente um exemplo em que o show fica impossibilitado de reproduzir com fidelidade o que se ouve no disco, o canto preciso de Ná compensa essa ausência. Música do já citado álbum Ná (1994), Atração fatal (Ná Ozzetti e Luiz Tatit) reitera no show que, mesmo com a obra de Ná em incessante movimento, as composições antigas se afinam com as novas em amostra de rara coerência. À vontade nesse universo musical pautado por inusitados caminhos melódicos, a banda harmoniza em cena a eletricidade injetada pelas guitarra de Mário Manga em Os enfeites de cunhã (Ná Ozzetti e Joãozinho Gomes, 2013) - música adornada com termos do Norte do Brasil, efeito de o parceiro de Ná na composição, Joãozinho Gomes, ser de Macapá (AP) - com o clima lírico que pontua Olhos de Camões, melodia de contorno mais clássico, criada por Ná para musicar poema feito por Alice Ruiz com colagem de versos do poeta português Luis de Camões (1524 - 1680). A reconstrução de Mutante (Rita Lee e Roberto de Carvalho, 1981) - música a que Ná deu voz em seu disco LoveLeeRita (1996), tributo à cantora e compositora paulista Rita Lee - mostra que é até possível revisitar uma música batida desde que a abordagem seja realmente nova, com outro andamento, outra atmosfera. Bem cuidada, a iluminação do show contribui para o realce de climas. Basta uma mudança na luz, como na introdução de A velha fiando (Dante Ozzetti e Luiz Tatit, 2011), para acentuar o ganho de ritmo e colorido do show após número (a já citada Minha voz) de tonalidade intencionalmente mais pálida. Música do CD Estopim (1999), Ultrapássaro (Dante Ozzetti e José Miguel Wisnik) volta alto com Ná elevando os tons na exploração das regiões mais agudas de sua voz dadivosa. Sim, Ná Ozzetti também é dona do dom, como prova ao sair de cena ao som de inebriante releitura de Adeus, batucada (Synval Silva, 1935), o samba a que Ná deu voz em seu discos Show (2001) e Balangandãs (2009), este gravado em tributo a Carmen Miranda (1909 - 1955). Enfim, Embalar é show à altura do disco que o inspirou. No caso, grande disco que já figura entre os melhores de 2013.

Alex Abreu disse...

grande Ná Ozetti, amo sua arte, os álbuns citados são pra lá de prazerosos de se ouvir, discaços.
Parabéns Mauro por esse belo registro do show no Teatro Rival, me senti por lá também, a aplaudir cada número.

Unknown disse...

Estive lá. Ná tem voz divina. Pena que não zaz questão de ampliar seu público. Sorte dos poucos que conhecem sua obra.

Douglas Carvalho disse...

Ná Ozzetti é absolutamente divina. Mestra absoluta do controle sobre a voz belíssima que tem.

Uma das 5 maiores cantoras vivas do Brasil, com absoluta certeza.

Unknown disse...

Obrigado, Mauro, pela linda resenha! Uma observação a todos que escreveram: A Ná faz sim, questão de ampliar seu público. Abraços!!!! Dante Ozzetti

Unknown disse...

Obrigado, Mauro, pela linda resenha. A todos que comentaram: A Ná faz questão sim, de ampliar o seu público!
Dante Ozzetti

Mauro Ferreira disse...

Imagina, Dante! Não há de que! O show foi tudo de bom! Abs, MauroF

Sedjedo disse...

Todo artista quer que sua obra seja conhecida e divulgada. O fato de Ná não fazer concessões em sua carreira só demonstra sua integridade artística. A culpa é do mercado mesmo, que não está aberto o suficiente para contemplar cantoras de estirpe como Ná Ozzetti.

Unknown disse...

Dante, quando falei que a Ná naõ faz questão de ampliar seu público quis dizer que ela não se rende aos apelos fáceis da mídia e da indústria cultutal. Ela prima pela qualidade musical e por uma carreira mais autoral. É visão que tenho da carreira dela. Sempre que posso divulgo e comento o trabalho dela. Para mim, ela está entre as 5 melhores da atualidade da MPB.

Klaudia Alvarez disse...

Acompanho Ná Ozzetti desde o grupo Rumo e foi maravilhoso ter tido o privilégio de estar nesse show e ver de tão pertinho o talento dessa grande intérprete.Amo de paixão!

Klaudia Alvarez disse...

Acompanho a carreira de Ná Ozzetti desde os tempos do Grupo Rumo. Foi um privilégio ter estado no Rival e visto de tão pertinho o talento dessa grande intérprete. Amo de paixão!