Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Sol interior de Flávio brilha em 'Venturini', arejado e pop disco de inéditas

Resenha de CD
Título: Venturini
Artista: Flávio Venturini
Gravadora: MP,B Discos
Cotação: * * * 1/2

Flávio Venturini tem o dom de criar melodias. Uma de suas músicas mais belas - Nascente, parceria com Murilo Antunes, lançada por Beto Guedes no álbum A página do relâmpago elétrico (1977) - está novamente em alta rotação nacional na trilha sonora da novela Joia rara (TV Globo, 2013) na sublime gravação feita por Milton Nascimento (com a participação do próprio Venturini) para o disco Clube da esquina 2 (1978). Venturini - o 14º título da discografia solo do cantor e compositor mineiro - reitera o dom deste artista influenciado tanto pelo rock progressivo dos anos 70 como pelo pop das Geraes. As melódicas canções Sol interior e Fotografia de um amor - ótimas parcerias com Márcio Borges e Murilo Antunes, respectivamente - se impõem de cara como os destaques da safra autoral de Venturini, primeiro disco de inéditas de Flávio desde Canção sem fim (2006). São canções típicas da obra do artista. Tarde solar - parceria de Venturini com Alexandre Blasifera, lançada em 2008 pela cantora paulista Patrícia Talem -  já se revela menos típica por conta da refinada aura bossa-novista clareada pela voz e o piano de Ivan Lins, convidado da faixa. Já Me leva (Flávio Venturini e Aggeu Marques) é pop rock de leve textura progressiva que poderia figurar em qualquer álbum lançado pelo grupo 14 Bis em tempos idos. Verso do refrão cita, inclusive, Todo azul do mar, parceria de Venturini com Ronaldo Bastos lançada pelo 14 Bis no álbum A idade da luz (1984) e, após várias regravações, revivida por Flávio em Venturini. Em que pese o fato de o arranjo ser novo, com destaque para o toque do saxofone de Marcelo Martins, a lembrança de Todo azul do mar soa dispensável. Aliás, Venturini cresce quando Flávio anda para frente - como ao abrir parceria com o conterrâneo mineiro Vander Lee em Idos janeiros, samba-reggae de tonalidade suave, gravado sem o forte baticum habitualmente associado ao gênero - e se apequena quando o artista olha o passado. As triviais regravações de Leãozinho (Caetano Veloso, 1977) e Hino ao amor - versão em português de Hymne à l'amour (Edith Piaf e Marguerite Monnot, 1950) - nada acrescentam às músicas e ao álbum propriamente dito. O fato de o disco ter sido parcialmente formatado em Salvador (BA) - houve também sessões de gravação em Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP) - justifica a vibe pop baiana de Um dia de verão (Flávio Venturini), música que seduz mais pelo ritmo leve (realçado pelo toque do bandolim de Flávio) do que pela melodia. Venturini, a propósito, é disco arejado, pop, ensolarado - tom perceptível já nos títulos de músicas como a citada bossa Tarde solar e como Beijo solar (Flávio Venturini), tema cuja leveza pop é turbinada ao fim da faixa por solo de guitarra (de Cláudio Venturini) que não nega a origem progressiva deste artista que, antes de liderar o 14 Bis, integrou o grupo O Terço. A vibe pop de Venturini é reafirmada na abordagem de Saiba, música de Maurício Oliveira e Barbara Mendes. Muitas letras falam em mar, céu, sol. E, por mais que uma ou outra música, caso de Até outro dia (Flávio Venturini e Cacá Raymundo), estejam aquém do histórico autoral do compositor, Venturini areja o cancioneiro de Flávio e injeta novidade em sua obra, como o sofisticado piano de André Mehmari, toque jazzy de Enquanto você não vem, parceria de Mehmari com Murilo Antunes. Mesmo nublado pelas desnecessárias regravações, o sol interior de Flávio brilha em Venturini.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Flávio Venturini tem o dom de criar melodias. Uma de suas músicas mais belas - Nascente, parceria com Murilo Antunes, lançada por Beto Guedes no álbum A página do relâmpago elétrico (1977) - está novamente em alta rotação nacional na trilha sonora da novela Joia rara (TV Globo, 2013) na sublime gravação feita por Milton Nascimento (com a participação do próprio Venturini) para o disco Clube da esquina 2 (1978). Venturini - o 14º título da discografia solo do cantor e compositor mineiro - reitera o dom deste artista influenciado tanto pelo rock progressivo dos anos 70 como pelo pop das Geraes. As melódicas canções Sol interior e Fotografia de um amor - ótimas parcerias com Márcio Borges e Murilo Antunes, respectivamente - se impõem de cara como os destaques da safra autoral de Venturini, primeiro disco de inéditas de Flávio desde Canção sem fim (2006). São canções típicas da obra do artista. Tarde solar - parceria de Venturini com Alexandre Blasifera, lançada em 2008 pela cantora paulista Patrícia Talem - já se revela menos típica por conta da refinada aura bossa-novista clareada pela voz e o piano de Ivan Lins, convidado da faixa. Já Me leva (Flávio Venturini e Aggeu Marques) é pop rock de leve textura progressiva que poderia figurar em qualquer álbum lançado pelo grupo 14 Bis em tempos idos. Verso do refrão cita, inclusive, Todo azul do mar, parceria de Venturini com Ronaldo Bastos lançada pelo 14 Bis no álbum A idade da luz (1984) e, após várias regravações, revivida por Flávio em Venturini. Em que pese o fato de o arranjo ser novo, com destaque para o toque do sax de Marcelo Martins, a lembrança de Todo azul do mar soa dispensável. Aliás, Venturini cresce quando Flávio anda para frente - como ao abrir parceria com o conterrâneo mineiro Vander Lee em Idos janeiros, samba-reggae de tonalidade suave, gravado sem o baticum habitualmente associado ao gênero - e se apequena quando o artista olha o passado. As triviais regravações de Leãozinho (Caetano Veloso, 1977) e Hino ao amor - versão em português de Hymne à l'amour (Edith Piaf e Marguerite Monnot, 1950) - nada acrescentam às músicas e ao álbum propriamente dito. O fato de o disco ter sido parcialmente formatado em Salvador (BA) - houve também sessões de gravação em Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP) - justifica a vibe pop baiana de Um dia de verão (Flávio Venturini), música que seduz mais pelo ritmo leve (realçado pelo toque do bandolim de Flávio) do que pela melodia. Venturini, a propósito, é disco arejado, pop, ensolarado - tom perceptível já nos títulos de músicas como a citada bossa Tarde solar e como Beijo solar (Flávio Venturini), tema cuja leveza pop é turbinada ao fim da faixa por solo de guitarra (de Cláudio Venturini) que não nega a origem progressiva deste artista que, antes de liderar o 14 Bis, integrou o grupo O Terço. A vibe pop de Venturini é reafirmada na abordagem de Saiba, música de Maurício Oliveira e Barbara Mendes. Muitas letras falam em mar, céu, sol. E, por mais que uma ou outra música, caso de Até outro dia (Flávio Venturini e Cacá Raymundo), estejam aquém do histórico autoral do compositor, Venturini areja o cancioneiro de Flávio e injeta novidade em sua obra, como o sofisticado piano de André Mehmari, toque jazzy de Enquanto você não vem, parceria de Mehmari com Murilo Antunes. Mesmo nublado pelas desnecessárias regravações, o sol interior de Flávio brilha em Venturini.

Fernanda disse...

Que ótima notícia, aliás esse quase final de ano reservou algumas gratas surpresas. Louca pra ouvir esse cd. Adoro o Venturini, inclusive como cantor. Gostei da capa, traduz bem o frescor e a jovialidade que o artista, felizmente, nunca perdeu.