Mauro Ferreira no G1

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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Cariocas estão aí na 10ª formação com CD jovial e fiel às tradições vocais

Resenha de CD
Título: Estamos aí
Artista: Os Cariocas
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *

Ao batizar o seu CD Estamos aí com o nome da composição cheia de bossa (de Maurício Einhorn, Durval Ferreira e Regina Werneck) que também deu nome a álbum lançado por Leny Andrade em 1965, Os Cariocas mandam um recado explícito ao mercado e ao seu público. Sim, o grupo vocal - cuja origem remonta aos anos 40 - ainda está aí, já na décima formação, mas sempre com o resistente Severino Filho na primeira voz. Estamos aí - o CD recém-lançado pela gravadora Biscoito Fino - é o primeiro do quarteto carioca com essa 10ª formação, completada por Fabio Luna (segunda voz), Neil Teixeira (terceira voz) e Eloi Vicente (quarta voz). Mas tem tanto frescor que um ouvinte desavisado poderia supor tratar-se do álbum de grupo vocal iniciante. Ao mesmo tempo, Estamos aí é um disco que se escora nas tradições vocais d'Os Cariocas, identificadas já na introdução de Madame quer sambar, o (razoável) inédito samba que Carlos Lyra, Roberto Menescal e Joyce Moreno fizeram - numa tripla e também inédita parceria - para solucionar a questão proposta no samba Pra que discutir com madame? (Janet de Almeida e Haroldo Barbosa, 1945). A leveza dos vocais do grupo em A felicidade (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959) é tamanha que a gravação soa como a pluma que o vento vai levando pelo ar na letra do poeta. Essa leveza faz com que Eu e a brisa (Johnny Alf, 1969) - canção na qual Os Cariocas recebem a adição de uma quinta voz, a de seu ex-integrante Hernane Castro - seja alvo de uma de suas melhores gravações, em sintonia com o sopro de modernidade da obra do compositor carioca Johnny Alf (1929 - 2010). Os vocais a capella do samba-canção Marina (Dorival Caymmi, 1947) reiteram o frescor d'Os Cariocas neste disco em que o único traço de cansaço aparece na voz de Chico Buarque, convidado a se juntar ao grupo em Januária, música do próprio Chico, lançada pelo compositor em 1967. A faixa é homenagem de Chico e d'Os Cariocas a Antônio José Waghabi Filho (1943 - 2012), o Magro, integrante do grupo MPB-4, falecido em agosto de 2012. Com muito mais jovialidade do que Chico, Os Cariocas harmonizam Que maravilha (1969) - a bissexta parceria de Jorge Ben Jor com Toquinho - com a devida suavidade, mas também se entendem na densidade de Vera Cruz (Milton Nascimento e Márcio Borges, 1967), faixa que ganha toque jazzy na passagem instrumental. No confronto com os clássicos regravados pelos Cariocas em Estamos aí, a inédita canção O amor em movimento - feita para o grupo pelo compositor e guitarrista mineiro Chiquito Braga com o poeta Ronaldo Bastos - soa menos sedutora em disco no qual Os Cariocas remoem os sobressaltos juvenis provocados pela moça perfilada em A noiva da cidade e ora embalados na gravação do quarteto pelo piano límpido e exato de Francis Hime, parceiro de Chico Buarque na linda canção criada por Francis nos anos 60 e letrada posteriormente por Chico para a gravação original de 1976 (A noiva da cidade foi tema do homônimo filme de 1978). No fim, Os Cariocas ainda caem no suingue com Leny Andrade - ainda hábil e veloz nos seus tradicionais scats - na música-título Estamos aí. Enfim, 65 anos após o lançamento de seu primeiro disco, um 78 rotações de 1948, Os Cariocas trocaram de integrantes - sempre com Severino Filho à frente do grupo - mas nunca perderam a identidade vocal, delineada com precisão neste jovial belo CD Estamos aí. Sim, eles estão aí com frescor.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Ao batizar o seu CD Estamos aí com o nome da composição cheia de bossa (de Maurício Einhorn, Durval Ferreira e Regina Werneck) que também deu nome a álbum lançado por Leny Andrade em 1965, Os Cariocas mandam um recado explícito ao mercado e ao seu público. Sim, o grupo vocal - cuja origem remonta aos anos 40 - ainda está aí, já na décima formação, mas sempre com o resistente Severino Filho na primeira voz. Estamos aí - o CD recém-lançado pela gravadora Biscoito Fino - é o primeiro do quarteto carioca com essa 10ª formação, completada por Fabio Luna (segunda voz), Neil Teixeira (terceira voz) e Eloi Vicente (quarta voz). Mas tem tanto frescor que um ouvinte desavisado poderia supor tratar-se do álbum de grupo vocal iniciante. Ao mesmo tempo, Estamos aí é um disco que se escora nas tradições vocais d'Os Cariocas, identificadas já na introdução de Madame quer sambar, o (razoável) inédito samba que Carlos Lyra, Roberto Menescal e Joyce Moreno fizeram - numa tripla e também inédita parceria - para solucionar a questão proposta no samba Pra que discutir com madame? (Janet de Almeida e Haroldo Barbosa, 1945). A leveza dos vocais do grupo em A felicidade (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959) é tamanha que a gravação soa como a pluma que o vento vai levando pelo ar na letra do poeta. Essa leveza faz com que Eu e a brisa (Johnny Alf, 1969) - canção na qual Os Cariocas recebem a adição de uma quinta voz, a de seu ex-integrante Hernane Castro - seja alvo de uma de suas melhores gravações, em sintonia com o sopro de modernidade da obra do compositor carioca Johnny Alf (1929 - 2010). Os vocais a capella do samba-canção Marina (Dorival Caymmi, 1947) reiteram o frescor d'Os Cariocas neste disco em que o único traço de cansaço aparece na voz de Chico Buarque, convidado a se juntar ao grupo em Januária, música do próprio Chico, lançada pelo compositor em 1967. A faixa é homenagem de Chico e d'Os Cariocas a Antônio José Waghabi Filho (1943 - 2012), o Magro, integrante do grupo MPB-4, falecido em agosto de 2012. Com muito mais jovialidade do que Chico, Os Cariocas harmonizam Que maravilha (1969) - a bissexta parceria de Jorge Ben Jor com Toquinho - com a devida suavidade, mas também se entendem na densidade de Vera Cruz (Milton Nascimento e Márcio Borges, 1967), faixa que ganha toque jazzy na passagem instrumental. No confronto com os clássicos regravados pelos Cariocas em Estamos aí, a inédita canção O amor em movimento - feita para o grupo pelo compositor e guitarrista mineiro Chiquito Braga com o poeta Ronaldo Bastos - soa menos sedutora em disco no qual Os Cariocas remoem os sobressaltos juvenis provocados pela moça perfilada em A noiva da cidade e ora embalados na gravação do quarteto pelo piano límpido e exato de Francis Hime, parceiro de Chico Buarque na linda canção criada por Francis nos anos 60 e letrada posteriormente por Chico para a gravação original de 1976 (A noiva da cidade foi tema do homônimo filme de 1978). No fim, Os Cariocas ainda caem no suingue com Leny Andrade - ainda hábil e veloz nos seus tradicionais scats - na música-título Estamos aí. Enfim, 65 anos após o lançamento de seu primeiro disco, um 78 rotações de 1948, Os Cariocas trocaram de integrantes - sempre com Severino Filho à frente do grupo - mas nunca perderam a identidade vocal, delineada com precisão neste jovial belo CD Estamos aí. Sim, eles estão aí com frescor.