Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 25 de maio de 2011

Livro analisa o canto inusitado das vozes da vanguarda paulista dos 80

Resenha de livro
Título: A Voz na Canção Popular Brasileira - Um Estudo sobre a Vanguarda Paulista
Autoria: Regina Machado
Editora: Ateliê Editorial
Cotação: * * * *

A partir de 1980, intérpretes como Ná Ozzetti, Tetê Espíndola e Vânia Bastos deram voz a um novo tipo de canto na música popular do Brasil. Guiadas por compositores como Arrigo Barnabé e Itamar Assumpação (1949 - 2003), pilares da vanguarda musical paulista surgida naquela década, tais cantoras criaram e desenvolveram padrões vocais até então inusitados no canto popular. É sobre esse período fértil da música paulista que a cantora, compositora e instrumentista Regina Machado se debruça nas 136 páginas de seu livro A Voz na Canção Popular Brasileira - Um Estudo Sobre a Vanguarda Paulista, recém-lançado pelo Ateliê Editorial. Feito com rigores técnicos e linguagem acadêmica (a autora é graduada em Música Popular pela Universidade Estadual de Campinas), o estudo é interessante por abordar em perspectiva um gênero musical pouco lembrado em livros. Os livros sobre a música brasileira dos anos 80 estão habitualmente centrados na explosão do pop rock nacional, mas a década também viu a revolução proposta por Arrigo, Itamar e Luiz Tatit, líder do Rumo, o grupo que projetou Ná Ozzetti. A propósito, uma das partes mais interessantes do livro é quando Regina Machado analisa detalhadamente a gravação da canção Sua Estupidez (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969) feita por Ná em 1988 com arranjo criado por Dante Ozzetti a partir da interpretação da cantora, então iniciando carreira solo. Contemporânea de Ná, Tetê Espíndola também tem sua gravação de Londrina (Arrigo Barnabé) - feita em 1981 - dissecada por Regina Machado. Da mesma forma, o canto inovador de Itamar Assumpção em Nego Dito (Itamar Assumpção, 1981) é estudado com ineditismo neste livro mais indicado para cantores e músicos capazes de entender a linguagem técnica adotada pela autora. A análise é consistente.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

A partir de 1980, intérpretes como Ná Ozzetti, Tetê Espíndola e Vânia Bastos deram voz a um novo tipo de canto na música popular do Brasil. Guiadas por compositores como Arrigo Barnabé e Itamar Assumpação (1949 - 2003), pilares da vanguarda musical paulista surgida naquela década, tais cantoras criaram e desenvolveram padrões vocais até então inusitados no canto popular. É sobre esse período fértil da música paulista que a cantora, compositora e instrumentista Regina Machado se debruça nas 136 páginas de seu livro A Voz na Canção Popular Brasileira - Um Estudo Sobre a Vanguarda Paulista, recém-lançado pelo Ateliê Editorial. Feito com rigores técnicos e linguagem acadêmica (a autora é graduada em Música Popular pela Universidade Estadual de Campinas), o estudo é interessante por abordar em perspectiva um gênero musical pouco lembrado em livros. Os livros sobre a música brasileira dos anos 80 estão habitualmente centrados na explosão do pop rock nacional, mas a década também viu a revolução proposta por Arrigo, Itamar e Luiz Tatit, líder do Rumo, o grupo que projetou Ná Ozzetti. A propósito, uma das partes mais interessantes do livro é quando Regina Machado analisa detalhadamente a gravação da canção Sua Estupidez (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969) feita por Ná em 1988 com arranjo criado por Dante Ozzetti a partir da interpretação da cantora, então iniciando carreira solo. Contemporânea de Ná, Tetê Espíndola também tem sua gravação de Londrina (Arrigo Barnabé) - feita em 1981 - dissecada por Regina Machado. Da mesma forma, o canto inovador de Itamar Assumpção em Nego Dito (Itamar Assumpção, 1981) é estudado com ineditismo neste livro mais indicado para cantores e músicos capazes de entender a linguagem técnica adotada pela autora. A análise é consistente.

KL disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
KL disse...

Tetê Espíndola é a última grande cantora surgida no Brasil desde 1979, quando ela gravou o primeiro álbum ao lado dos irmãos. É frequentemente - e erroneamente - comparada a Kate Bush pela semelhança dos timbres agudos, mas, em uma gravação de 1972 (seis anos antes da estreia de Kate), temos a prova de que ela já cantava assim. Não há nenhum outro trabalho de voz e composição feminina que passe perto do que ela já produziu e produz. Está 50 anos à frente do seu tempo e é um fenômeno de pureza e afinação vocal, pois, em mais de 30 anos de carreira, a voz continua cristalina e cada vez mais envolvente. Mereceria estar num Rock in Rio, e não apenas em pequenos teatros. Se tivesse a divulgação e o sucesso merecidos, o público de Tetê agregaria também crianças e adolescentes à pequena parcela madura que a acompanha desde os anos 1980. Até hoje, porém, falta-lhe uma boa produção, direção artística, figurino, seleção de repertório adequada, espaço na mídia etc, mas, em seus melhores momentos no palco, o ouvinte tem a nítida certeza de estar diante de um verdadeiro fenômeno musical.