Mauro Ferreira no G1

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domingo, 6 de outubro de 2013

Livro com histórias de canções expõe a singularidade do plural Vinicius

Resenha de livro
Título: Vinicius de Moraes - Histórias de canções
Autor: Wagner Homem & Bruno de la Rosa
Editora: Leya
Cotação: * * * 

Vinicius de Moraes (1913 - 1980) foi um artista de atuação plural e profícua na cena cultural brasileira. "Fosse um só, seria Viniciu de Moral", chegou a brincar o cronista carioca Sérgio Porto (1923 - 1980), na pele de seu heterônimo Stanislaw Ponte Preta. Contudo, Vinicius de Moraes foi também um artista de atuação singular, por conta de espontaneidade que fugia aos padrões comportamentais vigentes em sua(s) época(s). Ao contar causos sobre a criação das músicas mais importantes do compositor, o fluente livro Vinicius de Moraes - Histórias de canções expõe essa singularidade do parceiro de Antonio Carlos Jobim (1913 - 1980), Baden Powell (1937 - 2000), Carlos Lyra, Chico Buarque, Edu Lobo e Toquinho, entre outros nomes da linha de frente da música brasileira. O quinto volume da série Histórias de canções revela que, ao mostrar Chega de saudade (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958) para sua então mulher Lila Bôscoli, ouviu críticas à rima de peixinhos com beijinhos. "Ora, mulher, deixe de ser sofisticada", rebateu de imediato o poeta letrista, ciente dos caminhos da popularidade que seria obtida por suas letras de tom coloquial que se ajustaram com perfeição à leveza da Bossa Nova. Através das histórias das canções, contadas em breves relatos pelos autores Wagner Homem e Bruno de la Rosa, o livro deixa entrever também o ciúme que regia a relação de Vinicius com seus parceirinhos. Por insistência do poeta, Chico Buarque contribuiu com apenas quatro versos para uma (a rigor) já finalizada Gente humilde (Garoto, Vinicius de Moraes e Chico Buarque, 1970). É que então Vinicius queria a todo custo se tornar parceiro de Chico para poder fazer frente a Tom Jobim, que já se tornara parceiro de Chico em 1968. Em contrapartida, Toquinho - parceiro mais constante de Vinicius na última década de vida do compositor - correu para criar melodia para Tarde em Itapoã (Toquinho e Vinicius de Moraes, 1971). Escrita sob a inspiração da paisagem do bucólico e praieiro bairro de Salvador (BA), a letra seria endereçada por Vinicius ao baiano Dorival Caymmi (1914 - 2008) se Toquinho não tivesse sido tão rápido - e inspirado, dando bela forma uma das obras-primas da dupla. Causos e ciúmes à parte, o livro mostra também como Vinicius foi singular em seu talento plural para transitar por variados universos musicais. Mesmo não sendo profundo conhecedor das tradições do Candomblé, o poeta se enturmou com os termos dos orixás para escrever as letras dos célebres afro-sambas criados com Baden Powell. Enfim, Vinicius de Moraes foi plural de forma absolutamente singular. Stanislaw Ponte Preta tinha lá razão: Vinicius não foi somente um só.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Vinicius de Moraes (1913 - 1980) foi um artista de atuação plural e profícua na cena cultural brasileira. "Fosse um só, seria Viniciu de Moral", chegou a brincar o cronista carioca Sérgio Porto (1923 - 1980), na pele de seu heterônimo Stanislaw Ponte Preta. Contudo, Vinicius de Moraes foi também um artista de atuação singular, por conta de espontaneidade que fugia aos padrões comportamentais vigentes em sua(s) época(s). Ao contar causos sobre a criação das músicas mais importantes do compositor, o fluente livro Vinicius de Moraes - Histórias de canções expõe essa singularidade do parceiro de Antonio Carlos Jobim (1913 - 1980), Baden Powell (1937 - 2000), Carlos Lyra, Chico Buarque, Edu Lobo e Toquinho, entre outros nomes da linha de frente da música brasileira. O quinto volume da série Histórias de canções revela que, ao mostrar Chega de saudade (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958) para sua então mulher Lila Bôscoli, ouviu críticas à rima de peixinhos com beijinhos. "Ora, mulher, deixe de ser sofisticada", rebateu de imediato o poeta letrista, ciente dos caminhos da popularidade que seria obtida por suas letras de tom coloquial que se ajustaram com perfeição à leveza da Bossa Nova. Através das histórias das canções, contadas em breves relatos pelos autores Wagner Homem e Bruno de la Rosa, o livro deixa entrever também o ciúme que regia a relação de Vinicius com seus parceirinhos. Por insistência do poeta, Chico Buarque contribuiu com apenas quatro versos para uma (a rigor) já finalizada Gente humilde (Garoto, Vinicius de Moraes e Chico Buarque, 1970). É que Vinicius queria a todo custo se tornar parceiro de Vinicius para fazer frente a Tom Jobim, que já se tornara parceiro de Chico em 1968. Em contrapartida, Toquinho - parceiro mais constante de Vinicius na última década de vida do compositor - correu para criar melodia para Tarde em Itapoã (Toquinho e Vinicius de Moraes, 1971). Escrita sob a inspiração da paisagem do bucólico e praieiro bairro de Salvador (BA), a letra seria endereçada por Vinicius ao baiano Dorival Caymmi (1914 - 2008) se Toquinho não tivesse sido tão rápido - e inspirado, dando bela forma uma das obras-primas da dupla. Causos e ciúmes à parte, o livro mostra também como Vinicius foi singular em seu talento plural para transitar por variados universos musicais. Mesmo não sendo profundo conhecedor das tradições do Candomblé, o poeta se enturmou com os termos dos orixás para escrever as letras dos célebres afro-sambas criados com Baden Powell. Enfim, Vinicius de Moraes foi plural de forma absolutamente singular. Stanislaw Ponte Preta tinha lá razão: Vinicius não foi somente um só.

Anônimo disse...

O ciumezinho faz parte das parceriazinhas, que, aliás, são uma espécie de namorinho.
A vida é um eterno Tempo de Amor - para os que têm sorte.

PS: Mauro, já que lhe é tão caro os erros de digitação...
Na parte:
É que Vinicius queria a todo custo se tornar parceiro de Vinicius para fazer frente a Tom Jobim...

Se tornar parceiro de Chico...

Mauro Ferreira disse...

Grato pelo toque, Zé Henrique. Abs, MauroF

paulo sergio disse...

Não há mais o que não se sabe sobre Vinícius! Como não vi nada, que não já tivesse sido jogado ao vento, nas "Histórias de canções" anteriores!