Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Jeff evolui como compositor no passo percussivo de seu belo CD 'Dança'

Resenha de CD
Título: Dança
Artista: Jeff
Gravadora: Mills
Cotação: * * * * 1/2

Fora do mundinho hype que projeta e incensa na mídia nomes sem real talento, o cantor e compositor carioca Jeff Chagas mostra inspiração suficiente para se impor entre as gratas revelações deste ano de 2013 - mesmo que Dança seja, a rigor, o segundo álbum solo de trajetória que já ultrapassa uma década. Afinal, lá se vão onze anos desde que Jeff gravou em 2002 seu primeiro disco - ainda como integrante da banda Balaio - e já faz três desde que o artista lançou seu primeiro CD solo, Eu Rio (2009). Contudo, é com Dança que Jeff cresce e aparece como compositor talentoso. O artista evolui no passo percussivo de Dança, CD pontuado pelo baticum encorpado pelo toque de virtuoses dos tambores como Robertinho Silva e Marcos Suzano. Formatados em parte com o auxílio de alunos do Rio Maracatu e do Jongo da Serrinha, os arranjos percussivos soam leves e harmoniosos. Mas o que impressiona mesmo em Dança é a excelente qualidade da safra de composições autorais de Jeff - inspiração percebida já na primeira das 12 músicas do disco, Ritual (Jeff), cujo toque nordestino é sublinhado pela rabeca de Marcos Moletta, enfatizando a influência árabe na moldagem do cancioneiro da Nação Nordestina, país que gerou os cearenses Belchior, Fagner e Fausto Nilo, compositores parceiros de Romanza, única sagaz regravação do disco (a música foi lançada por Fagner no álbum Orós, de 1977). A sagacidade vem do fato de a poética passional e meio épica de Romanza reverberar nos versos de temas autorais de Jeff como Ouça (Jeff) e a Canção do bem (Jeff, Frango e Paulo Maurício). Mote do disco anterior de Jeff, o molho da música caribenha tempera o início da música-título Dança (Jeff), faixa que desemboca no samba quase aos dois minutos para depois retomar a levada original. O samba também manda chamar Jeff em Água da mina (Jeff e Caio César) e em O poeta das quadras (Jeff). É quando Dança se deixa levar pelo suingue do Rio. Com prosódia que ecoa o canto de Raul Seixas (1945 - 1989), Jeff traça o mapa musical de sua cidade natal em Noite carioca (Jeff e Petrônio). Já São João (Jeff) desloca Dança para o salão nordestino com abordagem quase clichê do universo junino, mas sem perder a inspiração melódica, abundante também na canção Eu no sofá (Jeff, Petrônio e Sérgio Verastogui). Cantor eficaz, Jeff defende bem em Dança repertório que merece atenção de público e cantores em busca de músicas inspiradas. Produzido pelo próprio Jeff Chagas, seu segundo disco solo desmente a tese preguiçosa de que já não se faz (boa) música brasileira como antigamente. Dança transcende o mundinho hype.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Fora do mundinho hype que projeta e incensa na mídia nomes sem real talento, o cantor e compositor carioca Jeff Chagas mostra inspiração suficiente para se impor entre as gratas revelações deste ano de 2013 - mesmo que Dança seja, a rigor, o segundo álbum solo de trajetória que já ultrapassa uma década. Afinal, lá se vão onze anos desde que Jeff gravou em 2002 seu primeiro disco - ainda como integrante da banda Balaio - e já faz três desde que o artista lançou seu primeiro CD solo, Eu Rio (2009). Contudo, é com Dança que Jeff cresce e aparece como compositor talentoso. O artista evolui no passo percussivo de Dança, CD pontuado pelo baticum encorpado pelo toque de virtuoses dos tambores como Robertinho Silva e Marcos Suzano. Formatados em parte com o auxílio de alunos do Rio Maracatu e do Jongo da Serrinha, os arranjos percussivos soam leves e harmoniosos. Mas o que impressiona mesmo em Dança é a excelente qualidade da safra de composições autorais de Jeff - inspiração percebida já na primeira das 12 músicas do disco, Ritual (Jeff), cujo toque nordestino é sublinhado pela rabeca de Marcos Moletta, enfatizando a influência árabe na moldagem do cancioneiro da Nação Nordestina, país que gerou os cearenses Belchior, Fagner e Fausto Nilo, compositores parceiros de Romanza, única sagaz regravação do disco (a música foi lançada por Fagner no álbum Orós, de 1977). A sagacidade vem do fato de a poética passional e meio épica de Romanza reverberar nos versos de temas autorais de Jeff como Ouça (Jeff) e a Canção do bem (Jeff, Frango e Paulo Maurício). Mote do disco anterior de Jeff, o molho da música caribenha tempera o início da música-título Dança (Jeff), faixa que desemboca no samba quase aos dois minutos para depois retomar a levada original. O samba também manda chamar Jeff em Água da mina (Jeff e Caio César) e em O poeta das quadras (Jeff). É quando Dança se deixa levar pelo suingue do Rio. Com prosódia que ecoa o canto de Raul Seixas (1945 - 1989), Jeff traça o mapa musical de sua cidade natal em Noite carioca (Jeff e Petrônio). Já São João (Jeff) desloca Dança para o salão nordestino com abordagem quase clichê do universo junino, mas sem perder a inspiração melódica, abundante também na canção Eu no sofá (Jeff, Petrônio e Sérgio Verastogui). Cantor eficaz, Jeff defende bem em Dança repertório que merece atenção de público e cantores em busca de músicas inspiradas. Produzido pelo próprio Jeff Chagas, seu segundo disco solo desmente a tese preguiçosa de que já não se faz (boa) música brasileira como antigamente. Dança transcende o mundinho hype.

Denilson Santos disse...

Jeff é um excelente compositor e cantor.

Concordo totalmente com a sua crítica, Mauro.

Parabéns ao Jeff e à música brasileira.

abração,
Denilson