Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


domingo, 19 de fevereiro de 2012

Caixa 'Elis Anos 70' reúne sucessão de obras-primas do auge da cantora

Resenha de caixa de CDs
Título: Elis Anos 70
Artista: Elis Regina
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * * *

A caixa Elis Anos 70 - posta nas lojas pela Universal Music neste mês de fevereiro de 2012 simultaneamente com a caixa Elis Anos 60, em projeto fonográfico coordenado por Alice Soares - apresenta o supra-sumo da discografia de Elis Regina Carvalho Costa (1945 - 1982). Nessa década escurecida pela censura e pelos horrores da ditadura que imperava no Brasil, o canto de Elis foi o farol que iluminou a obra de compositores então iniciantes - como Ivan Lins (em 1970), Belchior (em 1972) e a dupla João Bosco & Aldir Blanc (em 1972) - e parte substancial da melhor música brasileira produzida na década. Embora tenha gravado poucas músicas de Caetano Veloso e Chico Buarque, compositores mais associados às vozes de Gal Costa e de Maria Bethânia (as duas únicas cantoras da MPB que fizeram frente a Elis na época), quase tudo de relevante produzido na MPB dos anos 70 foi filtrado pelo canto referencial de Elis. Nessa década, Elis acompanhou as transformações da música e do Brasil. Já nos seus dois primeiros álbuns de estúdio da década, ...Em Pleno Verão (1970) e Ela (1971), ambos com conceitos idealizados por Nelson Motta, a cantora se aproximou do soul que dava o tom negro da música do mundo. Na sequência, já guiada na música e na vida por César Camargo Mariano, a cantora se tornou uma das melhores traduções da MPB a partir do álbum Elis (1972), uma das obras-primas embaladas na caixa. Padrão roçado pelo Elis de 1973 - álbum denso de clima excessivamente cool e interiorizado - e bisado pelo Elis de 1974, álbum enfim reeditado em CD com sua arte gráfica original (com direito ao recorte da capa branca - tal como no LP original). De 1974, um dos anos mais produtivos de Elis, vem também Elis & Tom, outra obra-prima, dividida com ninguém menos do que Antonio Carlos Jobim, já naquela altura e para sempre o maestro soberano da música brasileira, com reconhecimento internacional. Na sequência, Falso Brilhante (1976) representou outro pico de criatividade e perfeição na carreira de Elis - com destaque para as referenciais gravações de Como Nossos Pais (Belchior) e Fascinação (Maurice de Feraudy e Dante Pilade Fermo Marchetti) - enquanto Elis (1977) manteve a cantora nas paradas com Romaria (Renato Teixeira), gravação definitiva que projetou álbum de repertório nem sempre à altura de sua intérprete. Na sequência, o parcial registro ao vivo do controverso show Transversal do Tempo (1978) encerrou a luminosa passagem da cantora pela Philips, já que o último título da caixa, Elis Especial (1979), é a rigor coletânea produzida à revelia da artista com sobras de gravações. Com som límpido, efeito da primorosa remasterização comandada por Luigi Hoffer e Carlos Savalla, a caixa Elis Anos 70 oferece ganho relevante no quesito técnico em relação à caixa Transversal do Tempo (1998), que embalou os 21 álbuns de Elis lançados pela Philips. Da mesma forma, houve real evolução no padrão gráfico, já que as atuais reedições reproduzem capas, contracapas e encartes dos álbuns com fidelidade às artes dos LPs originais. É luxo só!!!

16 comentários:

Mauro Ferreira disse...

A caixa Elis Anos 70 - posta nas lojas pela Universal Music neste mês de fevereiro de 2012 simultaneamente com a caixa Elis Anos 60, em projeto fonográfico coordenado por Alice Soares - apresenta o supra-sumo da discografia de Elis Regina Carvalho Costa (1945 - 1982). Nessa década escurecida pela censura e pelos horrores da ditadura que imperava no Brasil, o canto de Elis foi o farol que iluminou a obra de compositores então iniciantes - como Ivan Lins (em 1970), Belchior (em 1972) e a dupla João Bosco & Aldir Blanc (em 1972) - e parte substancial da melhor música brasileira produzida na década. Embora tenha gravado poucas músicas de Caetano Veloso e Chico Buarque, compositores mais associados às vozes de Gal Costa e de Maria Bethânia (as duas únicas cantoras da MPB que fizeram frente a Elis na época), quase tudo de relevante produzido na MPB dos anos 70 foi filtrado pelo canto referencial de Elis. Nessa década, Elis acompanhou as transformações da música e do Brasil. Já nos seus dois primeiros álbuns de estúdio da década, ...Em Pleno Verão (1970) e Ela (1971), ambos com conceitos idealizados por Nelson Motta, a cantora se aproximou do soul que dava o tom negro da música do mundo. Na sequência, já guiada na música e na vida por César Camargo Mariano, a cantora se tornou uma das melhores traduções da MPB a partir do álbum Elis (1972), uma das obras-primas embaladas na caixa. Padrão roçado pelo Elis de 1973 - álbum denso de clima excessivamente cool e interiorizado - e bisado pelo Elis de 1974, álbum enfim reeditado em CD com sua arte gráfica original (com direito ao recorte da capa branca - tal como no LP original). De 1974, um dos anos mais produtivos de Elis, vem também Elis & Tom, outra obra-prima, dividida com ninguém menos do que Antonio Carlos Jobim, já naquela altura e para sempre o maestro soberano da música brasileira, com reconhecimento internacional. Na sequência, Falso Brilhante (1976) representou outro pico de criatividade e perfeição na carreira de Elis - com destaque para as referenciais gravações de Como Nossos Pais (Belchior) e Fascinação (Maurice de Feraudy e Dante Pilade Fermo Marchetti) - enquanto Elis (1977) manteve a cantora nas paradas com Romaria (Renato Teixeira), gravação definitiva que projetou álbum de repertório nem sempre à altura de sua intérprete. Na sequência, o parcial registro ao vivo do controverso show Transversal do Tempo (1978) encerrou a luminosa passagem da cantora pela Philips, já que o último título da caixa, Elis Especial (1979), é a rigor coletânea produzida à revelia da artista com sobras de gravações. Com som límpido, efeito da primorosa remasterização comandada por Luigi Hoffer e Carlos Savalla, a caixa Elis Anos 70 oferece ganho relevante - no quesito técnico - em relação à caixa Transversal do Tempo (1998), que embalou os 21 álbuns de Elis lançados pela Philips. Luxo só!

Tiago disse...

Mauro, não foi só no quesito técnico que as caixas ganharam da versão de 1998. Os discos da Elis nunca tinham sido reeditados com as respectivas contracapas e encartes. Assim como o Elis 74, o Ela também está com a capa correta - que não tem a foto em close como editado anteriormente.

Mauro Ferreira disse...

Tem razão, Tiago. Achei que essa informação estava no texto, mas não estava. Então acrescentei esse dado (relevante) ao fim da resenha. Abs, obrigado, MauroF

Luca disse...

Mauro, faltou citar o disco da Elis com o Miéle. Pela foto, dá pra ver que ele tá na caixa.

Unknown disse...

Mauro, citamos você em uma crítica do Fita Bruta e gostaríamos de lhe fazer um convite. Como podemos entrar em contato?

Att,
Yuri de Castro
www.fitabruta.com.br

Mauro Ferreira disse...

Yuri, deixe uma mensagem através do Facebook. Abs, MauroF

Rafael disse...

Essas caixas valem demais cada centavo da compra. Rodrigo Faour sempre tem capricho em cada trabalho que ele pega para lançar em CD... Um cara muito organizado e sensível a ponto de suas reedições de raros discos no formato digital sempre primarem pelo primor de qualidade máxima. Que pena que nem todas as gravadoras tem o mesmo capricho que o Rodrigo Faour tem. A Discobertas tá precisando de tomar umas aulinhas com o Faour nesse quesito!

Felipe dos Santos disse...

É isso.

Não adianta: não mudo de opinião. Os álbuns dos '60 são fundamentais para entender Elis, o repertório é bem melhor do que determinadas coisas dos '70, mas... Elis com Cesar é Elis com Cesar.

A mais perfeita simbiose entre cantor e arranjador que a música brasileira já viu. Além de arranjos bem mais frescos e atuais.

Aliás, Universal anda fazendo umas reedições bem bacanas. Como se deve: respeito quase religioso às capas, ao projeto gráfico original...

Mauro e outros blogueiros: recomendariam a compra das caixas a quem já tem "Transversal do Tempo"? Tudo bem, eu até tenho lugar para onde posso doar a caixa (e sempre tem um sebo amigo onde se pode tirar um dinheirinho com ela), mas... passei sete anos namorando-a até comprar, em 2005.

É ruim, projeto gráfico uniforme demais, mas tem um valorzinho sentimental.

Felipe dos Santos Souza

KL disse...

esses dois boxes só não são perfeitos porque os cds não trouxeram as faixas-bônus distribuídas, por época, em cada um. Seria muito interessante e enriquecedor ouvi-los de um modo diferente. Já sei que a Universal decidiu jamais laçar cd com bônus por diversas razões, porém seria apenas uma alternativa diferente para boa parte do mercado consumidor. Com quase toda a certeza, se assim fosse, até os que já possuíam a obra completa comprariam tudo novamente. Mas, como só Deus é perfeito, desfrutemos do novo som e da arte gráfica original recuperada, moldura de luxo para uma artista exemplar.

noca disse...

De certa forma concordo com o Felipe.E muito quando ele fala de importância de César.E não apenas como arranjador,mas principalmente um MUSICO PRODUTOR.Isso é fundamental!Simbioses tanto ou mais que perfeitas foram as de João-Jobim nos primeiros e supremos discos de João e Nana-Dori.Essa ultima responsável pelo melhor e mais criativo disco de cantora da década de 70,Nana1977,RCA.

KL disse...

Noca,

A obra-prima de Nana Caymmi (inclusive é o predileto dela) é o gravado na CID, aquele com a capa azul. Arranjos de Dori Caymmi também. O da RCA é bom, mas, na minha opinião, não supera o da CID em nenhum quesito.

noca disse...

KL,amo esse disco também."Beijo Partido" é revolução.Nunca a nossa musica romântica tinha atingido tal grau de sofisticação.O "Amoroso" de João Gilberto só viria dois anos depois.Gosto muito dessa Nana mais "cool".Mas o disco de 77,se voce escutar com outro ouvido,vai perceber ali algo muito mais além ainda em termos de interpretação,arranjos e repertório também.É tudo muito arrojado.Na gravação da singelíssima e brasileirissima "Fingidor",descortina-se a cada audição,variações caledoscópicas infinitas.O post é da Elis que pode ate ter acertado muito mais que a Nana.Mas a Nana quando acertava esta mudando as coisas,se arriscando muito mais.Não era atoa uma maldita.

Pedro Progresso disse...

Mais uma vez, fico feliz com a divisão dos boxes e com a não inclusão de faixas nos discos, rs. Apesar de gostar dos discos do Fino, do Elis de 66 e de Como & Por que, gosto bem mais dos discos de 70 com César.

Curioso Mauro dar 5 e 4,5 estrelas pros boxes de Elis; 4,5 pra Gal e 4 e 4,5 pra Bethânia. Ainda acho (ainda mais no período que envolve as caixas de todas elas) a discografia de Gal e MB mais... "coerentes", digamos. Embora Elis seja sempre impecável, algumas escolhas de repertório ficam aquém da sua voz. Mas talvez isso não afete o brilho de sua discografia no geral.
...
Concordo com Noca - o disco de 77 de Nana é imbatível (embora o da Cid tb seja excelente). Mas apenas "Dona Olímpia" é uma das melhores interpretações de todas.

ADEMAR AMANCIO disse...

Eu gosto da elis em todas as fases,mas sua grande inovação foi ao lado de nelson motta como produtor,nos discos de 70 e 71.

ADEMAR AMANCIO disse...

Pedro progresso a gal e bethânia só tem importancia até os anos 80,depois só restou mediocridade,ainda bem que a elis morreu no auge,se tivesse viva passaria pelo mesmo fiasco.

Pedro Progresso disse...

Ademar,
por isso ressaltei a data de todas as caixas - "Gal Total" vai de 67 a 83 e "Maria" de MB vai de 66 a 78. É aproximadamente o período dessas caixas de Elis.