Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Voz popular de um romantismo erotizado, Wando sai de cena aos 66 anos

Wando (1945 - 2012) vai ficar na lembrança do Brasil como o cantor das calcinhas, a voz popular de um repertório erotizado que aplicou injeção de ânimo e vendas em sua carreira fonográfica, na segunda metade dos anos 80. Mas Vanderlei Alves dos Reis - morto nesta quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012, na cidade de Nova Lima (MG) - se revelou artista mais multifacetado no início da década de 70. Mais precisamente em 1971, ano em que o cantor Jair Rodrigues deu voz ao samba O Importante É Ser Fevereiro, marco inicial da obra fonográfica deste cantor e compositor nascido em 10 de outubro de 1945 no município de Cajuri, cidade da Zona da Mata da mesma Minas Gerais onde Wando ora sai de cena, vítima de complicações decorrentes de problema cardíaco diagnosticado em janeiro. Ao lançar seu primeiro LP em 1973, Glória a Deus no Ceú e Samba na Terra (Beverly, selo da extinta gravadora Copacabana), o artista explicitou logo no título a devoção ao ritmo que identifica o Brasil no imaginário coletivo. No segundo álbum, Wando (1975, Beverly), o samba deu o tom de sucessos como Nega de Obaluaê (Wando). Mas foi uma canção de romantismo melancólico - Moça (Wando), projetada em escala nacional ao ser incluída na trilha sonora da novela Pecado Capital (TV Globo, 1975 / 1976) - que consolidou a carreira de Wando e, de certa forma, o levou a se afastar progressivamente do samba para investir no universo da canção romântica de apelo popular. Os quatro álbuns seguintes feitos na Copacabana - Porta do Sol (1976), Ilusão (1977), Gosto de Maça (1978) e Gazela (1979) - não reeditaram o êxito retumbante de Moça, apesar de o segundo ter emplacado mais um hit noveleiro (Senhorita, Senhorita, sucesso na trilha sonora de Sem Lenço Sem Documento) e de o terceiro ter gerado alguma repercussão pelo velado teor gay da canção Emoções (Wando). Seguiram-se três álbuns de repercussão quase nula - Bem-Vindo (Polydor, 1980), Pelas Noites do Brasil (Polydor, 1981) e Fantasia Noturna (1982, Som Livre) - até que a música-título do LP lançado por Wando em 1983, Coisa Cristalina (Som Livre), recolocou o artista com força nas paradas. A partir daí, a carreira de Wando alcançou outro pico de popularidade. Contratado pela exinta gravadora carioca Arca Som, Wando lançou em 1985 Vulgar e Comum É Não Morrer de Amor, álbum que traria um de seus maiores sucessos, Fogo e Paixão, música composta pelo artista com sua mulher Rose. O álbum seguinte, Ui-Wando Paixão (Arca Som, 1986), não bisou a repercussão do anterior, mas, ainda colhendo os louros do sucesso de Fogo e Paixão, Wando teve abertas novamente para ele as portas da gravadora Polygram, companhia em que o artista consolidou o estilo pornobrega que caracterizaria sua obra fonográfica desde então. A sequência inicial de álbuns gravados por Wando na Polygram - Coração Aceso (1987), Obsceno (1988) e Tenda dos Prazeres (1990) - fez o cantor bater recordes de vendas e bilheterias, em especial com o disco e show Obsceno. Foi nessa época que a imagem de cantor das calcinhas - recebidas e distribuídas por Wando em suas apresentações - começou a se formar nítida, alavancando a popularidade deste inusitado símbolo sexual da canção popular brasileira. A imagem permaneceu e continuou a ser explorada por Wando em série de álbuns de menor apelo popular, casos de Depois da Cama (1992), Dança Romântica (1995) e O Ponto G da História (1996). Com as vendas de discos em curva descendente, Wando migrou para gravadora menor - a Indie Records - e tentou em vão retomar a escalada de sucesso, sempre lançando mão de repertório erotizado, na época já de gosto bem duvidoso. Seu último álbum - Romântico Brasileiro, Sem Vergonha - foi editado em 2005 pela Som Livre com repertório retrospectivo. Nessa altura, Wando já era referência no cancioneiro popular brasileiro. Um ícone! É por isso que sua morte ganha repercussão nacional neste dia triste. Wando era uma das caras do Brasil.

11 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Wando (1945 - 2012) vai ficar na lembrança do Brasil como o cantor das calcinhas, a voz popular de um repertório erotizado que aplicou injeção de ânimo e vendas em sua carreira fonográfica, na segunda metade dos anos 80. Mas Vanderlei Alves dos Reis - morto nesta quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012, na cidade de Nova Lima (MG) - se revelou artista mais multifacetado no início da década de 70. Mais precisamente em 1972, ano em que o cantor Jair Rodrigues deu voz ao samba O Importante É Ser Fevereiro, marco inicial da obra fonográfica deste cantor e compositor nascido em 10 de outubro de 1945 no município de Cajuri, cidade da Zona da Mata da mesma Minas Gerais onde Wando ora sai de cena, vítima de complicações decorrentes de problema cardíaco diagnosticado em janeiro. Ao lançar seu primeiro LP em 1973, Glória a Deus no Ceú e Samba na Terra (Beverly, selo da extinta gravadora Copacabana), o artista explicitou logo no título a devoção ao ritmo que identifica o Brasil no imaginário coletivo. No segundo álbum, Wando (1975, Beverly), o samba deu o tom de sucessos como Nega de Obaluaê (Wando). Mas foi uma canção de romantismo melancólico - Moça (Wando), projetada em escala nacional ao ser incluída na trilha sonora da novela Pecado Capital (TV Globo, 1975 / 1976) - que consolidou a carreira de Wando e, de certa forma, o levou a se afastar progressivamente do samba para investir no universo da canção romântica de apelo popular. Os quatro álbuns seguintes feitos na Copacabana - Porta do Sol (1976), Ilusão (1977), Gosto de Maça (1978) e Gazela (1981) - não reeditaram o êxito retumbante de Moça, apesar de o segundo ter emplacado mais um hit noveleiro (Senhorita, Senhorita, sucesso na trilha sonora de Sem Lenço Sem Documento) e de o terceiro ter gerado alguma repercussão pelo velado teor gay da canção Emoções (Wando). Seguiram-se três álbuns de repercussão quase nula - Bem-Vindo (Polydor, 1980), Pelas Noites do Brasil (Polydor, 1981) e Fantasia Noturna (1982, Som Livre) - até que a música-título do LP lançado por Wando em 1983, Coisa Cristalina (Som Livre), recolocou o artista com força nas paradas. A partir daí, a carreira de Wando alcançou outro pico de popularidade. Contratado pela exinta gravadora carioca Arca Som, Wando lançou em 1985 Vulgar e Comum É Não Morrer de Amor, álbum que traria um de seus maiores sucessos, Fogo e Paixão, música composta pelo artista com sua mulher Rose. O álbum seguinte, Ui-Wando Paixão (Arca Som, 1986), não bisou a repercussão do anterior, mas, ainda colhendo os louros do sucesso de Fogo e Paixão, Wando teve abertas novamente para ele as portas da gravadora Polygram, companhia em que o artista consolidou o estilo pornobrega que caracterizaria sua obra fonográfica desde então. A sequência inicial de álbuns gravados por Wando na Polygram - Coração Aceso (1987), Obsceno (1988) e Tenda dos Prazeres (1990) - fez o cantor bater recordes de vendas e bilheterias, em especial com o disco e show Obsceno. Foi nessa época que a imagem de cantor das calcinhas - recebidas e distribuídas por Wando em suas apresentações - começou a se formar, alavacando a popularidade deste inusitado símbolo sexual da canção popular brasileira. A imagem permaneceu e continuou a ser explorada por Wando em série de álbuns de menor apelo popular, casos de Depois da Cama (1992), Dança Romântica (1995) e O Ponto G da História (1996). Com as vendas de discos em curva descendente, Wando migrou para gravadora menor - a Indie Records - e tentou em vão retomar a escalada de sucesso, sempre lançando mão de repertório erotizado, na época já de gosto bem duvidoso. Seu último álbum - Romântico Brasileiro, Sem Vergonha - foi editado em 2005 pela Som Livre com repertório retrospectivo. Nessa altura, Wando já era referência no cancioneiro popular brasileiro. Um ícone! É por isso que sua morte ganha repercussão nacional neste dia triste. Wando era uma das caras do Brasil.

Luca disse...

Mauro tem razão quando diz que Wando foi a cara do Brasil, só não sei se isso é bom ou ruim,,,

Denilson Santos disse...

Mais um que se vai. E o Brasil vai ficando cada vez mais chato.

abraço,
Denilson

Lui disse...

eu gostava do Wando, uma pena. Ele tinha um carisma fora de série. o Brasil perde.

Marcelo Barbosa disse...

Não curtia muito o gênero, mas quem nunca cantou Fogo e Paixão? Vá com Deus, Wando! Descanse em paz.

Maria disse...

Nunca gostei da música de Wando, mas que ele vá em paz.

Márcio disse...

Pode-se até não gostar, mas Wando é a cara do Brasil. Autêntico como poucos, não deixa herdeiros musicais, ou alguém conhece algum?

Diogo Santos disse...

Pode-se até não gostar, mas Wando é a cara do Brasil. Autêntico como poucos, não deixa herdeiros musicais, ou alguém conhece algum?


E aquela Mauro ?

" Chora coração iêiêiêiêiêiê
Chora coração, passarinho na gaiola, feito gente na prisão ... "

Cláudio disse...

Eu gostava...Vai deixar saudades.

Fez muitíssimo bem aquele a que se propôs.

Foram muitas músicas. E muitos dos que aqui dizem que não gostavam dele, certamente já entoaram "lá vou eu de novo, coração dos sonhos...", "você é luz...", "...eu quero me enrolar aos teus cabelos...", ...

Descanse em paz, Wando!

Anônimo disse...

Humildade e Carisma...eram marcas suas, não gosto de suas músicas mas merece respeito...
Descanse em Paz

Maria disse...

Wando, até pode ter tido uma obra autêntica e tal mas ela não trouxe nada de importante para música brasileira bastou o cara morrer pra imprensa oportunista se aproveitar do fato sendo que quando vivo nunca deram valor.