Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Álbum perdido de 1966, 'The Lost Sessions' embala bem a obra de Valle

Resenha de CD
Título: The Lost Sessions
Artista: Marcos Valle
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * * *
O CD The Lost Sessions está disponível somente na caixa Marcos Valle Tudo (EMI Music)

Em 1966, Marcos Valle tinha começado a gravar o que seria seu terceiro álbum para a Odeon quando a explosão do Samba de Verão nas paradas norte-americanas provocou reviravolta na sua vida. O estouro da música - gravada pelo autor em seu segundo álbum, O Compositor e o Cantor (1965) - fez com que Valle interrompesse as gravações do disco e fosse para os Estados Unidos, onde cuidou da edição de seu samba e gravou para a Warner um álbum instrumental - Braziliance! Marcos Valle and His Music - que sairia no Brasil via Odeon em 1967. Na volta ao Brasil, já em 1968, Valle já tinha em mente o disco que se chamaria Viola Enluarada (1968) e acabou esquecendo aquele álbum inacabado de 1966, cujas sessões de gravações tinha rendido somente quatro faixas finalizadas. Músicas letradas por Paulo Sérgio Valle,  Os Grilos, Batucada Surgiu, É Preciso Cantar e O Amor É Chama seriam lançadas em compacto duplo. Já as outras músicas - nas quais o cantor ainda não tinha posto voz - ficaram guardadas no baú da Odeon (posteriomente incorporado ao acervo da EMI Music) até serem encontradas neste ano de 2011 por Charles Gavin, produtor da caixa Marcos Valle Tudo, que embala os dez álbuns lançados por Valle entre 1963 e 1974 na Odeon. O 11º título da caixa é justamente o CD-bônus The Lost Sessions, disco inédito que apresenta as bases instrumentais (algumas até finalizadas) daquelas músicas gravadas em 1966. A embalagem instrumental é bastante requintada. Basta ouvir as cordas suntuosas que adornam Uma Lágrima (Marcos Valle) e Primeira Solidão (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle), faixas pontuadas por violão de tom bossa-novista. Já Lá Eu Não Vou (Marcos Vasconcellos e Marcos Valle) tende para o balanço do samba-jazz. Aliás, um dos músicos-ícones do gênero, o pianista Dom Salvador, tocou piano em algumas faixas deste álbum perdido. De bela melodia, Pensa (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle) é um dos temas ambientados em atmosfera mais clássica com cordas e sax. O brilho da canção resiste sem os versos de Paulo Sérgio Valle. Pensa exemplifica o requinte que justifica a edição do álbum, assim como Lenda (Marcos Valle e Fernando Freire), canção embalada com leveza por cordas e sopros. Enfim, há unidade em The Lost Sessions, e não remendos de canções. Mesmo inacabados, os temas gravados neste disco de 1966 mostram a exuberância da obra de Marcos Valle - compositor então imerso em seu período de maior produtividade e criatividade.

5 comentários:

KL disse...

o único "defeito" desse álbum é não ter uma capa e vir sem os vocais nas faixas, sobretudo as jamais gravadas, que já tinham letras de Paulo Sergio Valle. Se fosse concluído, seria uma espécie de ápice do monumental "O Compositor E O Cantor", e a ponte para a obra-prima "Viola Enluarada". A voz de Marcos, nessa época, é quase um sopro de efeito fulminante.
Em suma, por essas e outras, o box vale cada centavo e é também uma bíblia para quem hoje chama de música esse amontoado de frases soltas, desarranjadas e infantiloides, que não fazem sentido nem mesmo para os seus próprios "autores".

KL disse...

adendo: a sofisticada canção "Lá eu não vou" é uma das melodias mais complicadas e difíceis de cantar já compostas no Brasil, tanto que só os impecáveis Claudette Soares e Djalma Dias se atreveram a gravá-la. Talvez uma Elis Regina também enfrentasse o desafio. O resto, com certeza, não teria gabarito para a empreitada e, certamente, iria tropeçar em desafinação e no vexame público.
É ouvir para crer, porque "lá" eles não iriam.

Luca disse...

Podiam lançar esse álbum fora da caixa para quem já tem outros discos do Marcos, como eu. Muitos já tinham saído antes.

André Luís disse...

Adoro essas capas meio "informais", digamos. Cheiro de nostalgia no ar... rsrs

antonio disse...

Acabei de chegar em casa com o meu box do Marcos Valle. Só um aspecto negativo: o design do box é muito feio e as edições brasileiras pecam por não incluir material gráfico inedito. No resto é curtir música das boas.