Mauro Ferreira no G1

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domingo, 21 de agosto de 2011

Livro revisa shows e histórias do Rock in Rio com fluência de almanaque

Resenha de livro
Título: Rock in Rio - A História do Maior Festival de Música do Mundo
Autor: Luiz Felipe Carneiro
Editora: Globo
Cotação: * * * *

Em 1985, sem saber, o grupo australiano AC/DC entrou em cena na primeira histórica edição do festival Rock in Rio com réplica em isopor e gesso do sino que integrava o mastodôntico cenário de seu show. Foi a única (secreta) saída encontrada pelo cenógrafo do festival, Mário Monteiro, para que houvesse a apresentação da banda. O sino verdadeiro pesava quase duas toneladas e afundaria o palco erguido na Cidade do Rock, em Jacarepaguá (RJ). O grupo soube do truque somente após o show e acabou levando o sino falso ao sair do Brasil para dar continuidade à sua turnê mundial. Essa é somente uma das muitas histórias saborosas ora recontadas pelo jornalista carioca Luiz Felipe Carneiro em seu livro Rock in Rio - A História do Maior Festival de Música do Mundo, aperitivo para a quarta edição carioca do festival, agendada para setembro e outubro de 2011. Com centenas de fotos e com texto estruturado nos moldes dos almanaques, com muitos tópicos e bossas no projeto gráfico de epizzo, o livro resulta fluente. Em ordem cronológica, o autor revisa todos os shows das três edições anteriores do festival no Rio de Janeiro (RJ) - realizadas em 1985, em 1991 e em 2001 - enquanto enfileira deliciosas histórias de bastidores, relacionando cada edição do evento com o contexto sócio-político do Brasil na época. Uma das maiores estrelas da primeira edição do festival, tendo feito duas apresentações que ficariam na memória por conta dos coros de 200 mil e 250 mil vozes (respectivamente) na balada Love of my Life, o grupo inglês Queen protagonizou algumas dessas histórias nos bastidores do Rock in Rio de 1985 por causa dos pitis de seu vocalista Freddie Mercury (1946 - 1991).  Já ao chegar, com ares de Prima Donna, Mercury exigiu que Elba Ramalho, Erasmo Carlos e Ney Matogrosso fossem retirados dos corredores que davam acesso ao seu camarim. Carneiro recorda também a consagração dos Paralamas do Sucesso no festival enquanto ressalta que Roger Moreira, líder do grupo paulista Ultraje a Rigor (presente nos bastidores, mas ausente do primeiro Rock in Rio), ficou insatisfeito com a homenagem do trio carioca às bandas paulistas esquecidas pela organização do festival. "Se (Herbert) Vianna queria homenagear as bandas paulistas, por que não me convidou para cantar, já que eu estava atrás do palco?", teria questionado Roger, esquecido da estrutura rígida a que os artistas brasileiros foram submetidos naquela edição. A propósito, através de entrevistas realizadas pelo autor, o livro elucida também a suposta superioridade do som destinado aos artistas estrangeiros. E, a julgar pelos depoimentos de nomes como o produtor e engenheiro de som Moogie Canazio, tal diferença de tratamento nunca existiu. O que teria existido foi a inabilidade dos técnicos brasileiros para lidar com os equipamentos de última geração, até então desconhecidos pelo staff nacional. Técnicas à parte, o livro lembra que Prince foi o artista-problema da segunda edição do Rock in Rio, mas que fez show perfeito no Maracanã em 1991. Em contrapartida, Santana foi o Mister Simpatia da mesma edição, tendo feito um show tão empolgante quanto o de Prince. Proeza que o então aguardado grupo inglês Oasis não conseguiu fazer na terceira (e menos memorável) edição do evento. Enfim, Rock in Rio, o livro, cumpre sua função de entreter o leitor com histórias recolhidas ao longo desses 26 anos. Como a fonte foram milhares de reportagens e dezenas de livros, há eventualmente dados contratidórios, como a quantidade de público que comparaceu à Cidade do Rock em 17 de janeiro de 1985 para ver os shows de Alceu Valença, Elba Ramalho, Al Jarreau e Yes. Na abertura do capítulo (cada dia do festival é tema de um capítulo do livro), o autor sustenta que apenas 20 mil pessoas foram ao festival naquele dia para três páginas depois afirmar que o show do grupo Yes - descrito como primoroso - foi presenciado por 25 mil pessoas. Detalhes pequenos que não comprometem o sabor da leitura, delicioso aperitivo para o próximo Rock in Rio, quando então novos capítulos serão adicionados a essa bonita história.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Em 1985, sem saber, o grupo australiano AC/DC entrou em cena na primeira histórica edição do festival Rock in Rio com réplica em isopor e gesso do sino que integrava o mastodôntico cenário de seu show. Foi a única (secreta) saída encontrada pelo cenógrafo do festival, Mário Monteiro, para que houvesse a apresentação da banda. O sino verdadeiro pesava quase duas toneladas e afundaria o palco erguido na Cidade do Rock, em Jacarepaguá (RJ). O grupo soube do truque somente após o show e acabou levando o sino falso ao sair do Brasil para dar continuidade à sua turnê mundial. Essa é somente uma das muitas histórias saborosas ora recontadas pelo jornalista carioca Luiz Felipe Carneiro em seu livro Rock in Rio - A História do Maior Festival de Música do Mundo, aperitivo para a quarta edição carioca do festival, agendada para setembro e outubro de 2011. Com centenas de fotos e com texto estruturado nos moldes dos almanaques, com muitos tópicos e bossas no projeto gráfico de epizzo, o livro resulta fluente. Em ordem cronológica, o autor revisa todos os shows das três edições anteriores do festival no Rio de Janeiro (RJ) - realizadas em 1985, em 1991 e em 2001 - enquanto enfileira deliciosas histórias de bastidores, relacionando cada edição do evento com o contexto sócio-político do Brasil na época. Uma das maiores estrelas da primeira edição do festival, tendo feito duas apresentações que ficariam na memória por conta dos coros de 200 mil e 250 mil vozes (respectivamente) na balada Love of my Life, o grupo inglês Queen protagonizou algumas dessas histórias nos bastidores do Rock in Rio de 1985 por causa dos pitis de seu vocalista Freddie Mercury (1946 - 1991). Já ao chegar, com ares de Prima Donna, Mercury exigiu que Elba Ramalho, Erasmo Carlos e Ney Matogrosso fossem retirados dos corredores que davam acesso ao seu camarim. Carneiro recorda também a consagração dos Paralamas do Sucesso no festival enquanto ressalta que Roger Moreira, líder do grupo paulista Ultraje a Rigor (presente nos bastidores, mas ausente do primeiro Rock in Rio), ficou insatisfeito com a homenagem do trio carioca às bandas paulistas esquecidas pela organização do festival. "Se (Herbert) Vianna queria homenagear as bandas paulistas, por que não me convidou para cantar, já que eu estava atrás do palco?", teria questionado Roger, esquecido da estrutura rígida a que os artistas brasileiros foram submetidos naquela edição. A propósito, através de entrevistas realizadas pelo autor, o livro elucida também a suposta superioridade do som destinado aos artistas estrangeiros. E, a julgar pelos depoimentos de nomes como o produtor e engenheiro de som Moogie Canazio, tal diferença de tratamento nunca existiu. O que teria existido foi a inabilidade dos técnicos brasileiros para lidar com os equipamentos de última geração, até então desconhecidos pelo staff nacional. Técnicas à parte, o livro lembra que Prince foi o artista-problema da segunda edição do Rock in Rio, mas que fez show perfeito no Maracanã em 1991. Em contrapartida, Santana foi o Mister Simpatia da mesma edição, tendo feito um show tão empolgante quanto o de Prince. Proeza que o então aguardado grupo inglês Oasis não conseguiu fazer na terceira (e menos memorável) edição do evento. Enfim, Rock in Rio, o livro, cumpre sua função de entreter o leitor com histórias recolhidas ao longo desses 26 anos. Como a fonte foram milhares de reportagens e dezenas de livros, há eventualmente dados contratidórios, como a quantidade de público que comparaceu à Cidade do Rock em 17 de janeiro de 1985 para ver os shows de Alceu Valença, Elba Ramalho, Al Jarreau e Yes. Na abertura do capítulo (cada dia do festival é tema de um capítulo do livro), o autor sustenta que apenas 20 mil pessoas foram ao festival naquele dia para três páginas depois afirmar que o show do grupo Yes - descrito como primoroso - foi presenciado por 25 mil pessoas. Detalhes pequenos que não comprometem o sabor da leitura, delicioso aperitivo para o próximo Rock in Rio, quando então novos capítulos serão adicionados a essa bonita história.