Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 6 de maio de 2014

'Sambabook' mostra que há frutos pouco saboreados no quintal de Zeca

Resenha de CD e DVD
Título: Sambabook Zeca Pagodinho
Artista: Vários
Gravadora: Musickeria / Zeca PagoDiscos / Universal Music
Cotação: * * * *

Projetado em 1983, Zeca Pagodinho vivenciou universo avassalador entre 1985 e 1987, período em que o pagode carioca colou nas rádios como coisa de pele, dominando o mercado fonográfico brasileiro da época. Contudo, ao migrar da extinta gravadora RGE para a BMG-Ariola em 1988, o cantor e compositor carioca amargou fase de menor visibilidade. Situação somente revertida em 1995, ano em que Zeca debutou na gravadora Polygram - encampada em 1999 pela Universal Music - e reconquistou o sucesso popular com o álbum Samba pras moças, produzido por Rildo Hora. Só que, ao longo desse período de menor projeção no mercado e na mídia, o artista lançou bons sambas em discos pouco ouvidos. Alguns desses sambas ganham segunda chance no Sambabook Zeca Pagodinho, projeto no qual podem ser ouvidos em gravações inéditas dispostas entre os 26 fonogramas do terceiro título da série da Musickeria, editado em CD duplo (desmembrado em dois volumes vendidos separadamente) e em DVD no qual são adicionadas histórias de Zeca sobre as músicas. Explorando os tons suaves de sua voz calorosa, a cantora baiana Mariene de Castro ilumina Lua de Ogum (Ratinho e Zeca Pagodinho, 1991) - exemplo de que ainda há frutos a serem colhidos e saboreados como novos no frondoso quintal de Zeca. Samba bonito, Lua de Ogum foi lançado por Zeca no álbum Pixote (BMG-Ariola, 1991), do qual o Sambabook também colhe Em nome da alegria (Almir Guineto, Carlos Senna e Zeca Pagodinho, 1991), bom samba que soaria mais sedutor se tivesse sido gravado com mais viço, sem o cansaço observado na voz de Almir Guineto, parceiro de Zeca Pagodinho na composição. Quem realmente canta em nome da alegria é Jorge Ben Jor, que cai bem no suingue de Depois do temporal (Beto sem Braço e Zeca Pagodinho, 1983), um dos sambas mais antigos da seleção. Foi lançado pelo conjunto Os Originais do Samba em álbum de 1983 e regravado por Zeca em 1995 sem grande repercussão. Como Ben Jor, os cantores em sua maioria ficam à vontade no quintal de Zeca, acomodados pela tradicionalista direção musical de Paulão Sete Cordas. Beth Carvalho confirma que entende tudo de samba com interpretação certeira de Lama nas ruas (Almir Guineto e Zeca Pagodinho, 1986). Partido alto lançado por Beth, Dor de amor (Arlindo Cruz, Acyr Marques e Zeca Pagodinho, 1986) continua grande no registro de Lenine em excelente interpretação que vai surpreender somente quem desconhece que - ao vir para o Rio de Janeiro no início da década de 1980 Rio tentar o sucesso - o artista pernambucano frequentou muito a quadra do bloco Cacique de Ramos, celeiros dos bambas que renovaram o samba carioca ao longo dos anos 1980, após terem sido revelados pela sempre antenada Beth. Bamba de outra esfera, Gilberto Gil é prejudicado pela falta de brilho na voz quando canta Não sou mais disso (Jorge Aragão e Zeca Pagodinho, 1996) com a mesma reverência rítmica à turma do Cacique com que Djavan encara Judia de mim (Wilson Moreira e Zeca Pagodinho, 1986) em raro registro em que o artista alagoano abre mão do balanço e do universo particular de sua música. Na seara das cantoras, Roberta Sá dá voz a Mutirão de amor (Sombrinha, Jorge Aragão e Zeca Pagodinho, 1983) sem dar ao samba - um dos mais belos do cancioneiro autoral de Zeca - a dimensão alcançada por Alcione, intérprete original do samba. Com a voz que Deus lhe deu, a Marrom, a propósito, valoriza o dolente Ter compaixão (Arlindo Cruz, Marquinho China e Zeca Pagodinho, 1989), outro fruto desconhecido do quintal no qual Maria Rita se ambienta com desenvoltura ao cantar Alto lá (Arlindo Cruz, Sombrinha e Zeca Pagodinho, 2000). Já Nilze Carvalho podia ter posto um pouquinho mais de tempero em Já mandei botar dendê (Arlindo Cruz, Maurição e Zeca Pagodinho, 1995), mas está bem ao cantar este saboroso tema do álbum, Samba pras moças (Polygram, 1995), que devolveu o sucesso a Zeca. Os dois rappers também fazem bonito. Marcelo D2 encontra a batida perfeita de Quem é ela? (Dudu Nobre e Zeca Pagodinho, 2005). Menos reverente, Emicida improvisa rap e explora bem Bagaço da laranja (Arlindo Cruz, Jovelina Pérola Negra e Zeca Pagodinho, 1985), tirando partido do samba propagado na voz de Jovelina Pérola Negra (1944 - 1998). Já os bambas do samba - Martinho da Vila (Faixa amarela - Jessé Pai, Luiz Carlos, Beto Gago e Zeca Pagodinho, 1997), Jorge Aragão (Termina aqui - Arlindo Cruz, Ratinho e Zeca Pagodinho, 1987) e Dudu Nobre (SPC - Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho, 1986), entre outros - confirmam sua intimidade com o gênero neste Sambabook que tem o mérito de reunir a produção autoral de Zeca Pagodinho, cantor que generosamente costuma pôr suas composições em segundo plano para dar voz a sambas alheios de autores sem projeção. Produzido sob a direção artística do empresário Afonso Carvalho, o Sambabook Zeca Pagodinho mostra que, no caso de Zeca, o compositor é tão importante quanto o cantor.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Projetado em 1983, Zeca Pagodinho vivenciou universo avassalador entre 1985 e 1987, período em que o pagode carioca colou nas rádios como coisa de pele, dominando o mercado fonográfico brasileiro da época. Contudo, ao migrar da extinta gravadora RGE para a BMG-Ariola em 1988, o cantor e compositor carioca amargou fase de menor visibilidade. Situação somente revertida em 1995, ano em que Zeca debutou na gravadora Polygram - encampada em 1999 pela Universal Music - e reconquistou o sucesso popular com o álbum Samba pras moças, produzido por Rildo Hora. Só que, ao longo desse período de menor projeção no mercado e na mídia, o artista lançou bons sambas em discos pouco ouvidos. Alguns desses sambas ganham segunda chance no Sambabook Zeca Pagodinho, projeto no qual podem ser ouvidos em gravações inéditas dispostas entre os 26 fonogramas do terceiro título da série da Musickeria, editado em CD duplo (desmembrado em dois volumes vendidos separadamente) e em DVD no qual são adicionadas histórias de Zeca sobre as músicas. Explorando os tons suaves de sua voz calorosa, a cantora baiana Mariene de Castro ilumina Lua de Ogum (Ratinho e Zeca Pagodinho, 1991) - exemplo de que ainda há frutos a serem colhidos e saboreados como novos no frondoso quintal de Zeca. Samba bonito, Lua de Ogum foi lançado por Zeca no álbum Pixote (BMG-Ariola, 1991), do qual o Sambabook também colhe Em nome da alegria (Almir Guineto, Carlos Senna e Zeca Pagodinho, 1991), bom samba que soaria mais sedutor se tivesse sido gravado com mais viço, sem o cansaço observado na voz de Almir Guineto, parceiro de Zeca Pagodinho na composição. Quem realmente canta em nome da alegria é Jorge Ben Jor, que cai bem no suingue de Depois do temporal (Beto sem Braço e Zeca Pagodinho, 1983), um dos sambas mais antigos da seleção. Foi lançado pelo conjunto Os Originais do Samba em álbum de 1983 e regravado por Zeca em 1995 sem grande repercussão. Como Ben Jor, os cantores em sua maioria ficam à vontade no quintal de Zeca, acomodados pela tradicionalista direção musical de Paulão Sete Cordas. Beth Carvalho confirma que entende tudo de samba com interpretação certeira de Lama nas ruas (Almir Guineto e Zeca Pagodinho, 1986). Partido alto lançado por Beth, Dor de amor (Arlindo Cruz, Acyr Marques e Zeca Pagodinho, 1986) continua grande no registro de Lenine em excelente interpretação que vai surpreender somente quem desconhece que - ao vir para o Rio de Janeiro no início da década de 1980 Rio tentar o sucesso - o artista pernambucano frequentou muito a quadra do bloco Cacique de Ramos, celeiros dos bambas que renovaram o samba carioca ao longo dos anos 1980, após terem sido revelados pela sempre antenada Beth.

Mauro Ferreira disse...

Bamba de outra esfera, Gilberto Gil é prejudicado pela falta de brilho na voz quando canta Não sou mais disso (Jorge Aragão e Zeca Pagodinho, 1996) com a mesma reverência rítmica à turma do Cacique com que Djavan encara Judia de mim (Wilson Moreira e Zeca Pagodinho, 1986) em raro registro em que o artista alagoano abre mão do balanço e do universo particular de sua música. Na seara das cantoras, Roberta Sá dá voz a Mutirão de amor (Sombrinha, Jorge Aragão e Zeca Pagodinho, 1983) sem dar ao samba - um dos mais belos do cancioneiro autoral de Zeca - a dimensão alcançada por Alcione, intérprete original do samba. Com a voz que Deus lhe deu, a Marrom, a propósito, valoriza o dolente Ter compaixão (Arlindo Cruz, Marquinho China e Zeca Pagodinho, 1989), outro fruto desconhecido do quintal no qual Maria Rita se ambienta com desenvoltura ao cantar Alto lá (Arlindo Cruz, Sombrinha e Zeca Pagodinho, 2000). Já Nilze Carvalho podia ter posto um pouquinho mais de tempero em Já mandei botar dendê (Arlindo Cruz, Maurição e Zeca Pagodinho, 1995), mas está bem ao cantar este saboroso tema do álbum, Samba pras moças (Polygram, 1995), que devolveu o sucesso a Zeca. Os dois rappers também fazem bonito. Marcelo D2 encontra a batida perfeita de Quem é ela? (Dudu Nobre e Zeca Pagodinho, 2005). Menos reverente, Emicida improvisa rap e explora bem Bagaço da laranja (Arlindo Cruz, Jovelina Pérola Negra e Zeca Pagodinho, 1985), tirando partido do samba propagado na voz de Jovelina Pérola Negra (1944 - 1998). Já os bambas do samba - Martinho da Vila (Faixa amarela - Jessé Pai, Luiz Carlos, Beto Gago e Zeca Pagodinho, 1997), Jorge Aragão (Termina aqui - Arlindo Cruz, Ratinho e Zeca Pagodinho, 1987) e Dudu Nobre (SPC - Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho, 1986), entre outros - confirmam sua intimidade com o gênero neste Sambabook que tem o mérito de reunir a produção autoral de Zeca Pagodinho, cantor que generosamente costuma pôr suas composições em segundo plano para dar voz a sambas alheios de autores sem projeção. Produzido sob a direção artística do empresário Afonso Carvalho, o Sambabook Zeca Pagodinho mostra que, no caso de Zeca, o compositor é tão importante quanto o cantor.

Marcelo disse...

Que falta faz o Almir Chediak e seus songbooks. Muita falta....

Luca disse...

Mauro falando mal de sua querida Robertinha Sá, o que houve? brigaram?