Mauro Ferreira no G1

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sexta-feira, 16 de novembro de 2012

'O Fole Roncou' mapeia caminhos do forró ao historiar vozes do gênero

Resenha de livro
Título: O Fole Roncou! - Uma História do Forró
Autores: Carlos Marcelo e Rosualdo Rodrigues
Editora: Zahar
Cotação: * * * *

O nome do baiano Pedro Almeida e Silva quase nunca é associado à história da música nordestina nos registros oficiais sobre o forró. Mas Pedro Sertanejo - como passou a ser chamado desde que em 1956 gravou seus primeiros discos (de 78 rotações por minuto) para a extinta gravadora Copacabana - é figura importante na história do gênero. Não tanto como sanfoneiro, mas por ter aberto em São Paulo (SP), em 1961, o Forró do Pedro Sertanejo, casa de shows que reforçou o elo natural entre o povo e os artistas nordestinos  que migraram para o Sudeste em ônibus ou mesmo num já lendário pau-de-arara em busca de emprego, sorte e oportunidade. A real importância de Pedro Sertanejo na história da música nordestina está corretamente dimensionada no livro O Fole Roncou! - Uma História do Forró, escrito pelos jornalistas paraibanos Carlos Marcelo e Rosualdo Rodrigues. O livro mapeia os (des)caminhos do forró ao contar a trajetória de vozes que propagaram a música nordestina - sejam como cantores, produtores de discos ou empresários. O  eixo é a vida e obra de Luiz Gonzaga (1912 - 1989), pilar mais forte do gênero, personagem fundamental tanto como cantor - por ser a voz que lançava e avalizava compositores que chegavam do Nordeste sem saber que rumo tomar - quanto como conselheiro de colegas intérpretes ainda atordoados com o cotidiano e os códigos de metrópoles como Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP). Mas o livro - escrito em narrativa fluente e meio romanceada que peca somente por reproduzir diálogos que certamente não aconteceram tal como descritos pelos autores - dá voz a personagens pouco ou nada ouvidos nos registros oficiais. Casos do produtor fonográfico José Abdias de Farias - fundamental para o investimento da gravadora CBS em discos de forró nas décadas de  60 e 70 - e do cantor e compositor paraibano Sebastião Xavier de Souza, o Biliu, lançado como compositor por Abdias na década de 80, quando o produtor (já em fase de decadência profissional) trabalhava na extinta Copacabana, gravadora que propagou em escala nacional nos anos 70 a voz vivaz e os temas de duplos e maliciosos sentidos de Genival Lacerda, outro personagem recorrente nas 472 páginas do livro. Vem de Biliu, aliás, a definição que delimita na página 439 o significado do genérico termo forró. "Esse negócio de que a palavra forró veio de for all é frescura. Vem de forrobodó, forrobodança... Significa festa, fuzarca, pagode... Forró é um local onde se canta tudo. Forró é tudo. Não é ritmo, nunca foi", sentencia Biliu, com autoridade e razão. Escrito a partir da feitura de mais de 80 entrevistas, O Fole Roncou! - Uma História do Forró também relata os fatores sociais que impulsionaram a migração nordestina para o eixo Rio-SP e, por consequência, acabaram dando visibilidade ao forró além das fronteiras nordestinas. Os autores cruzam as histórias de personagens como os paraibanos Antonio Barros (compositor de numerosos sucessos do gênero) e Jackson do Pandeiro (1919 - 1982), outro pilar da musical Nação Nordestina. De alma paraibana, a pernambucana Marinês - nome artístico de Inês Caetano de Oliveira (1935 -2007), a eterna Rainha do Xaxado - também é personagem de grande presença na narrativa, dimensionada na medida de sua importância para a música nordestina. Já a paraibana Elba Ramalho - embora citada várias vezes quando o livro aborda a nova corrente migratória que deslocou artistas nordestinos (Alceu Valença, Fagner, Zé Ramalho) para o eixo Rio-SP nos anos 70 - poderia ter tido sua trajetória contada com mais detalhes por ter sido a grande propagadora da música nordestina em escala nacional nos anos 80. Em contrapartida, os autores acertam ao mostrar como se criou a indústria do forró eletrônico a partir da iniciativa do empresário cearense Emanoel Gurgel, cujo faro comercial detectou a demanda popular por um forró mais pop e mais diluído. Ao fabricar a banda Mastruz com Leite, Gurgel criou império que, mesmo sem ter hoje a solidez dos anos 90, gerou dezenas de bandas genéricas e redesenhou a história da música nordestina, mesmo sob os ataques (desferidos no livro por personagens como o cantor cearense Alcymar Monteiro) de vozes defensoras de um forró com pegada mais tradicional. Opiniões e interesses à parte, o livro O Fole Roncou! - Uma História do Forró é trabalho de fôlego. Livro arretado e crucial para entender a criação e a evolução de parte importante (e subestimada) da música brasileira.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

O nome do baiano Pedro Almeida e Silva quase nunca é associado à história da música nordestina nos registros oficiais sobre o forró. Mas Pedro Sertanejo - como passou a ser chamado desde que em 1956 gravou seus primeiros discos (de 78 rotações por minuto) para a extinta gravadora Copacabana - é figura importante na história do gênero. Não tanto como sanfoneiro, mas por ter aberto em São Paulo (SP), em 1961, o Forró do Pedro Sertanejo, casa de shows que reforçou o elo natural entre o povo e os artistas nordestinos que migraram para o Sudeste em ônibus ou mesmo num já lendário pau-de-arara em busca de emprego, sorte e oportunidade. A real importância de Pedro Sertanejo na história da música nordestina está corretamente dimensionada no livro O Fole Roncou! - Uma História do Forró, escrito pelos jornalistas paraibanos Carlos Marcelo e Rosualdo Rodrigues. O livro mapeia os (des)caminhos do forró ao contar a trajetória de vozes que propagaram a música nordestina - sejam como cantores, produtores de discos ou empresários. O eixo é a vida e obra de Luiz Gonzaga (1912 - 1989), pilar mais forte do gênero, personagem fundamental tanto como cantor - por ser a voz que lançava e avalizava compositores que chegavam do Nordeste sem saber que rumo tomar - quanto como conselheiro de colegas intérpretes ainda atordoados com o cotidiano e os códigos de metrópoles como Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP). Mas o livro - escrito em narrativa fluente e meio romanceada que peca somente por reproduzir diálogos que certamente não aconteceram tal como descritos pelos autores - dá voz a personagens pouco ou nada ouvidos nos registros oficiais. Casos do produtor fonográfico José Abdias de Farias - fundamental para o investimento da gravadora CBS em discos de forró nas décadas de 60 e 70 - e do cantor e compositor paraibano Sebastião Xavier de Souza, o Biliu, lançado como compositor por Abdias na década de 80, quando o produtor (já em fase de decadência profissional) trabalhava na extinta Copacabana, gravadora que propagou em escala nacional nos anos 70 a voz vivaz do paraibano João Gonçalves, conhecido como Genival Lacerda, outro personagem recorrente nas 472 páginas do livro. Vem de Biliu, aliás, a definição que delimita na página 439 o significado do genérico termo forró. "Esse negócio de que a palavra forró veio de for all é frescura. Vem de forrobodó, forrobodança... Significa festa, fuzarca, pagode... Forró é um local onde se canta tudo. Forró é tudo. Não é ritmo, nunca foi", sentencia Biliu, com autoridade e razão. Escrito a partir da feitura de mais de 80 entrevistas, O Fole Roncou! - Uma História do Forró também relata os fatores sociais que impulsionaram a migração nordestina para o eixo Rio-SP e, por consequência, acabaram dando visibilidade ao forró além das fronteiras nordestinas. Os autores cruzam as histórias de personagens como os paraibanos Antonio Barros (compositor de numerosos sucessos do gênero) e Jackson do Pandeiro (1919 - 1982), outro pilar da musical Nação Nordestina.

Mauro Ferreira disse...

De alma paraibana, a pernambucana Marinês - nome artístico de Inês Caetano de Oliveira (1935 -2007), a eterna Rainha do Xaxado - também é personagem de grande presença na narrativa, dimensionada na medida de sua importância para a música nordestina. Já a paraibana Elba Ramalho - embora citada várias vezes quando o livro aborda a nova corrente migratória que deslocou artistas nordestinos (Alceu Valença, Fagner, Zé Ramalho) para o eixo Rio-SP nos anos 70 - poderia ter tido sua trajetória contada com mais detalhes por ter sido a grande propagadora da música nordestina em escala nacional nos anos 80. Em contrapartida, os autores acertam ao mostrar como se criou a indústria do forró eletrônico a partir da iniciativa do empresário cearense Emanoel Gurgel, cujo faro comercial detectou a demanda popular por um forró mais pop e mais diluído. Ao fabricar a banda Mastruz com Leite, Gurgel criou império que, mesmo sem ter hoje a solidez dos anos 90, gerou dezenas de bandas genéricas e redesenhou a história da música nordestina, mesmo sob os ataques (desferidos no livro por personagens como o cantor cearense Alcymar Monteiro) de vozes defensoras de um forró com pegada mais tradicional. Opiniões e interesses à parte, o livro O Fole Roncou! - Uma História do Forró é trabalho de fôlego. Livro arretado e crucial para entender a criação e a evolução de parte importante (e subestimada) da música brasileira.

Marcelo Barbosa disse...

Mauro,

VocÊ não vai divulgar o resultado do Grammy Latino? Estou na espera! Muito feliz pela VITÓRIA do Nosso Samba tá na rua! Abs

Rafael disse...

Ao menos a capa do livro é bonita.

Érico Sátiro disse...

Mauro, só uma correção: embora sejam parceiros na música, João Gonçalves é uma pessoa, Genival Lacerda, outra. O primeiro, cantor e compositor, é o autor de várias canções que fizeram sucesso na voz de Genival Lacerda, a exemplo de "Severina Xique Xique", uma de suas músicas mais conhecidas.