Mauro Ferreira no G1

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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

De tom roqueiro, mas até com fado na trilha, 'Jacinta' é musical farsesco

Resenha de musical de teatro
Título: Jacinta
Texto: Newton Moreno
Direção: Aderbal Freire-Filho
Direção musical: Branco Mello
Músicas: Branco Mello e Emerson Villani  / Letras: Newton Moreno e Aderbal Freire-Filho
Elenco: Andrea Beltrão, Augusto Madeira, Gillray Coutinho, José Mauro Brant,
           Isio Ghelman e Rodrigo França
Foto: Nil Caniné
Cotação: * * * 1/2
Espetáculo em cartaz no Teatro Poeira, no Rio de Janeiro (RJ), de quinta-feira a domingo

Definido no programa como comédia-rock, o musical Jacinta se utiliza de elementos de farsa para narrar a saga da personagem-título - atriz lusitana desprovida de talento - na busca por aplauso e reconhecimento. A direção musical do titã Branco Mello confere natural tom roqueiro à trilha sonora formada por 13 músicas compostas por Mello com Emerson Villani e letradas por Newton Moreno (autor do texto original, ponto de partida para a criação do musical) e / ou Aderbal Freire-Filho. Executada em cena por um quarteto denominado Os Jacintas, a trilha sonora serve bem ao espetáculo sem apresentar músicas com cacife para sobreviver fora do palco do carioca Teatro Poeira, onde o espetáculo estreou em 15 de novembro de 2012. Na travessia Portugal-Brasil, feita por Jacinta na incansável procura do aplauso, até um fado - o Fado Escatológico (Branco Mello, Emerson Villani e Newton Moreno) - se faz ouvir em cena na interpretação do entrosado elenco. Na pele de Jacinta, Andrea Beltrão entra nessa cena sem impressionar no papel de cantora de parte destas músicas, mas com interpretações eficientes que se afinam com o tom lúdico do espetáculo, um poema musicado sobre o ator, na definição de Newton Moreno. O quinteto coadjuvante - formado pelos atores Augusto Madeira, Gillray Coutinho, José Mauro Brant, Isio Ghelman e Rodrigo França - se alterna com evidentes prazer, vivacidade e talento na construção de várias personagens que vão se sucedendo neste road-musical que celebra a arte de mambembar e o jogo de cena que constitui a própria alma do teatro. A habitual brasilidade brejeira dos textos de Newton Moreno cede lugar na cena para o tom marcante da encenação de Aderbal Freire-Filho, cuja direção evidencia o parentesco de Jacinta com a linguagem cênica de outro espetáculo assinado pelo diretor no mesmo Teatro Poeira, O Púcaro Búlgaro, destaque da temporada carioca de 2006. Mesmo que resulte longo (a cena folhetinesca que marca o encontro de Jacinta com sua mãe é totalmente dispensável, até porque destoante do tom farsesco do espetáculo), Jacinta é musical quase sempre cativante que se desvia do padrão Broadway e serve de veículo para o exercício do talento versátil de Andréa Beltrão, grande atriz que põe seu canto a serviço do teatro. Se "A Arte é o que existe / O aplauso não existe", como sentencia Aderbal Freire-Filho em versos do tema O Antiaplauso, a simples existência de Jacinta já ratifica o teatro como (nobre) forma de Arte.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

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