Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 27 de novembro de 2012

Caixa 'Festivais da Canção 2' reaviva passos iniciais de Alceu e Tornado

O álbum dividido com Geraldo Azevedo - gravado e lançado em 1972 pela extinta gravadora Copacabana - é tido como o marco zero da discografia de Alceu Valença. De fato, tal disco delimita o início da expressiva caminhada fonográfica do cantor e compositor pernambucano. Contudo, em 1969, Alceu - então um ilustre desconhecido no Rio de Janeiro (RJ) - tentou a sorte no mundo da música ao defender Acalanto Para Isabela, tema de sua própria autoria, no IV Festival Internacional da Canção, o popular FIC. A gravação do acalanto foi incluída no segundo dos três álbuns editados com músicas do quarto FIC. Até então inédito em disco, o registro de Acalanto Para Isabela ao vivo vem à tona na caixa Festivais da Canção Vol. 2 - 1969 - 1972, editada pelo selo carioca Discobertas (clique aqui para saber alguns detalhes da caixa Festivais da Canção Vol. 1 - 1966 - 1968). A segunda caixa embala sete álbuns com gravações das quatro últimas edições do FIC, sendo que o segundo e o terceiro volumes do FIC de 1969 são títulos inéditos que trazem registros ao vivo das músicas do festival daquele ano, garimpadas pelo pesquisador Marcelo Fróes. Raros ou inéditos, os sete discos da caixa já assinalam o progressivo esvaziamento da era dos festivais. Ainda assim, o valor documental e musical é bem alto, não somente pela raridade da maioria dos fonogramas, mas também pela alta qualidade dos arranjos, assinados por maestros como Erlon Chaves (1933 - 1974), Julio Medaglia e Luiz Eça (1936 - 1992). Tal como o primeiro volume, a caixa Festivais da Canção Vol. 2 1969 - 1972 resgata muita composição datada, feita dentro dos padrões do subgênero definido como "música de festival", mas também belas canções compostas dentro desse mesmo padrão. E o fato é que, para colecionadores, as caixas são valiosas por pescarem pérolas raras da inflamada era dos festivais. Nos dois álbuns do V Festival Internacional da Canção (1970), por exemplo, há relíquias como o hilário Hino do Festival Internacional da Canção na voz esperta de Wilson Simonal (1938 - 2000) entre gravações que atravessaram gerações como BR-3 (Antônio Adolfo e Tibério Gaspar) - com o cantor Toni Tornado, voz  do funk e soul brasileiro que começava a ganhar visibilidade e admiradores no mercado nacional - e Universo no Teu Corpo, (grande) música de Taiguara (1945 - 1996), defendida pelo próprio cantor e compositor uruguaio radicado no Brasil. No único álbum do VI Festival Internacional da Canção Popular,  editado em 1971, Marlene - cantora egressa da era do rádio, então em fase de renascimento artístico - deu voz à composição de Silvio César, Você Não Tá Com Nada. A mesma Marlene interpreta Carangola - bissexta composição do diretor de teatro Fauzi Arap, assinada com Fototi - no disco que reuniu gravações das 12 músicas finalistas da sétima e última edição do FIC, veiculada pela TV Globo em 1972. Neste disco, os intérpretes - em sua maioria - já não são os originais por impedimentos contratuais, com honrosa exceção de Maria Alcina, defensora de seu Fio Maravilha (Jorge Ben Jor). Era o fim da era dos festivais, época efervescente reavivada nas duas (oportunas) caixas lançadas pelo importante selo Discobertas.

12 comentários:

Mauro Ferreira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fabio disse...

Noite Luzidia da Bethânia está disponível no iTunes como CD virtual!

Rafael disse...

Eu sempre tive um pé atrás com a Discobertas em relação a qualidade dos áudios da maioria dos discos da gravadora não serem remasterizados das masters originais, ou sobre erros grotescos de informações técnicas nos discos. Alguns exemplos de erros de informações técnicas: o box do Moreira da Silva, onde o sobrenome Silva foi grafado errado e lançado no mercado como "Siva". Outro erro de informação técnica: no disco "Mar de Rosas", da Celly Campello, a faixa 2, "Só Existe Um Lugar" (You Only Live Twice), foi grafada como "Viver Por Viver (Vivre Pour Vivre). Estes são só dos alguns exemplos dos constantes erros da gravadora em relação aos discos que são lançados. Mas realmente esse box com muitas das raras canções de festivais é realmente espetacular. Há uns 3 meses sabia da intenção do Fróes de lançar isso em CD. Espero sinceramente que não haja nenhum erro de informação técnica nesse box e que os áudios estejam em excelente qualidade sonora. Aí sim esse box valerá a pena de ser comprado. No mais, acho admirável essa disposição dele em lançar raridades no mercado, porém vamos fazer as coisas com mais capricho, né? Não custa nada, e os bolsos dos fãs de música agradecem.

KL disse...

Ficaria mais legal (e mais justo) inverter os termos da frase: traz à tona muita composição datada, mas também belas canções. E o conceito de 'datada' é discutível: 'Travessia', por exemplo, é música tipicamente 'de festival', e continua sendo um clássico. Outros exemplos não faltam: 'Disparada', 'Domingo no Parque', 'Ponteio', 'Saveiros', 'Br-3', 'Alegria, Alegria', 'Fio Maravilha', Não interessa se foram feitas para participar dos concursos, mas se resultaram em boas canções.

bottini disse...

estranho não incluírem "cabeça" com o próprio walter franco, versão longa que está num dos lp's do 7º fic e também no compacto da continental fatiada em "parte 1" e "parte 2". a versão do eustáquio sena incluída no box é um placebo.

Mauro Ferreira disse...

Tem razão, KL. Seu comentário me fez refletir sobre o valor do gênero 'música de festival'. abs, MauroF

André Queiroz disse...

KL,

Concordo com você e uma coisa que sempre me incomodou por parte da imprensa é o uso da palavra "datada" em relação à musicas, álbuns,temas e sonoridades ultra-especificas de uma época sempre no sentido de menosprezo,como se não pudesse hoje aprecia-las nos dias atuais.

Anônimo disse...

A palavra datada em relação a música(mais em relação a letra) tem sua pertinência, sim!
O próprio Chico Buarque já falou que algumas músicas dele, as do período da ditadura, estam datadas.
As mais panfletárias; Apesar de Você, Cálice...

KL disse...

Mauro,

Fiquei feliz com sua resposta. Já ouvi/li mais de uma vez a expressão 'datado/a' e, num dado momento, eu mesmo (que também a utilizava) pensei no erro que é o uso dessa expressão. A música 'easy listening', por exemplo, permaneceria para sempre na categoria de 'datada', mas, com a redescoberta do gênero na onda lounge, o que era 'datado' ou ultrapassado passou a soar brilhante, orgânico e chique. A 'música de festival', como muitos ainda teimam em rotular, foi uma extensão da canção engajada bossanovista - também mal vista e não-compreendida-, ampliada pelo rádio e sobretudo pela televisão, notadamente a TV Record e, no caso do FIC, a TV Globo. E o que dizer, por exemplo, dos filmes de Almodóvar, que sempre nos surpreende com canções 'datadas', que automaticamente deixam de ser 'datadas' somente pelo fato do rico contexto em que são inseridas?

Abraço!

KL disse...

André Queiroz,

Só acrescentando um pouco mais à resposta dirita a Mauro, especificamente a dita 'música de festival' tem canções do mais alto nível. Só para citar uma menos conhecida, temos 'Plenilúnio', obra-prima de Johnny Alf; nesses állbuns do FIC há duas versões, uma com Luiza (cantora maravilhosa que só gravou um álbum arranjado por Moacir Santos) e outra com Agostinho dos Santos. Na minha opinião, só essas duas faixas já valem adquirir os boxes.

Abraço!

noca disse...

Musicas que primam pelo lirismo seja romântico ou evocativo,tem mais chances de serem atemporais,mesmo quando os arranjos ou as interpretações soam datadas é mais fácil absorver e digerir esse conflito.

Anônimo disse...

O interessante quanto a música datada é que não tem nada a ver com a cronologia dos fatos.
Por exemplo: a Jovem Guarda é pra lá de datada. Já Noel Rosa não.
Outro: O RPM é datado e os Novos Baianos não.
E por aí vai.
Agora, com outra roupagem não é a mesma música - mesmo que tenha a mesma letra.
Ela ganha uma nova vida.