Mauro Ferreira no G1

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domingo, 14 de agosto de 2011

Caixa de Marcos Valle com discos da Odeon traz tudo de bom do artista

Resenha de caixa de CDs
Título: Marcos Valle Tudo
Artista: Marcos Valle
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * * *

A carreira fonográfica de Marcos Valle ganhou novo fôlego em meados dos anos 90 quando o suingue de sua música foi descoberto por alguns DJs europeus. Desde então, o compositor tem gravados (bons) discos com regularidade tanto no Brasil quanto no exterior. Mas é inegável que o supra-sumo dessa obra fonográfica está concentrado na recém-lançada caixa Marcos Valle Tudo, que embala os 10 álbuns editados pelo artista na extinta Odeon entre 1963 e 1974 sob produção de Charles Gavin e supervisão do próprio Valle. Nestes dez títulos, aos quais foi adicionado o inédito The Lost Sessions (1996), há toda a base dessa música que encanta o Brasil e o Mundo há 50 verões, já que Valle iniciou sua carreira em 1961. Todos os álbuns foram remasterizados a partir das fitas originais - fato comprovado pelo som límpido - e a maioria ganha faixas-bônus. Os dois primeiros álbuns - Samba "Demais" (1963) e O Compositor e o Cantor (1965) - flagram o artista tragado pela onda modernista da Bossa Nova. Samba "Demais" é pontuado pela leveza e por um romantismo da linha sal, céu, sol e Sul. Disco que traz dois clássicos atemporais da lavra de Marcos Valle com seu irmão Paulo Sérgio Valle, Samba de Verão e Preciso Aprender a Ser Só, O Compositor e o Cantor já antecipa em temas como Gente o engajamento social que daria o tom da obra da dupla no posterior Viola Enluarada (1968), terceiro álbum gravado por Valle para o Brasil, já que o instrumental Braziliance! - A Música de Marcos Valle (1967), embora editado no mercado nacional, foi idealizado para os Estados Unidos, onde foi lançado pela Warner Music. Viola Enluarada, a música, foi gravada com a participação de Milton Nascimento, convidado também de Réquiem, tema assinado por Milton com Valle, Ruy Guerra e Ronaldo Bastos. Da lavra dos irmãos Valle, Terra de Ninguém e Maria da Favela denunciam já em seus títulos o tom politizado das letras deste disco. A colaboração com Milton Nascimento seria repetida em Diálogo, faixa que encerra Mustang Cor de Sangue (1969), disco de virada na obra de Valle. É neste álbum que a obra de Valle começa a ganhar contorno pop e a explicitar a influência dos ritmos nordestinos, latente desde o primeiro disco do artista. É em Mustang Cor de Sangue que aparece Os Dentes Brancos do Mundo, bela música que Zélia Duncan reviveu de forma ainda mais bela em seu álbum Pelo Sabor do Gesto (2009). Na sequência, Marcos Valle (1970) enfatiza a virada pop - efeito do impacto da Tropicália na música brasileira - com as adesões do grupo Som Imaginário e dos mineiros Nelson Ângelo e Novelli. Garra (1971) aprimora a fórmula pop e representa pico de criatividade na obra do compositor. É o disco que traz Black Is Beautiful e Com Mais de 30. Na sequência, Vento Sul (1972) rompe com essa estética bem-sucedida e parte para o experimentalismo radical em viagem feita com doses de psicodelia e sons progressivos. O grupo O Terço participa deste álbum influenciado pelo jeito hippie de ser. Já em Previsão do Tempo (1973) a viagem musical, menos experimental, é feito com o grupo Azymuth. Pontuado por arranjos vocais, feitos por Valle em colaboração com Tavito, Marcos Valle (1974) encerra o ciclo do artista na Odeon. Marcos Valle, a partir daí, iria seguir outras trilhas e voltaria às paradas na primeira metade dos anos 80 com uma música menos original que seguia a cartilha pop daquela década. O renascimento artístico aconteceria somente nos anos 90. Contudo, em essência, a caixa produzida com zelo por Charles Gavin embala tudo de bom que o talentoso artista produziu em seus primeiros verões.

9 comentários:

Mauro Ferreira disse...

A carreira fonográfica de Marcos Valle ganhou novo fôlego em meados dos anos 90 quando o suingue de sua música foi descoberto por alguns DJs europeus. Desde então, o compositor tem gravados (bons) discos com regularidade tanto no Brasil quanto no exterior. Mas é inegável que o supra-sumo dessa obra fonográfica está concentrado na recém-lançada caixa Marcos Valle Tudo, que embala os 10 álbuns editados pelo artista na extinta Odeon entre 1963 e 1974 sob produção de Charles Gavin e supervisão do próprio Valle. Nestes dez títulos, aos quais foi adicionado o inédito The Lost Sessions (1996), há toda a base dessa música que encanta o Brasil e o Mundo há 50 verões, já que Valle iniciou sua carreira em 1961. Todos os álbuns foram remasterizados a partir das fitas originais - fato comprovado pelo som límpido - e a maioria ganha faixas-bônus. Os dois primeiros álbuns - Samba "Demais" (1963) e O Compositor e o Cantor (1965) - flagram o artista tragado pela onda modernista da Bossa Nova. Samba "Demais" é pontuado pela leveza e por um romantismo da linha sal, céu, sol e Sul. Disco que traz dois clássicos atemporais da lavra de Marcos Valle com seu irmão Paulo Sérgio Valle, Samba de Verão e Preciso Aprender a Ser Só, O Compositor e o Cantor já antecipa em temas como Gente o engajamento social que daria o tom da obra da dupla no posterior Viola Enluarada (1968), terceiro álbum gravado por Valle para o Brasil, já que o instrumental Braziliance! - A Música de Marcos Valle (1967), embora editado no mercado nacional, foi idealizado para os Estados Unidos, onde foi lançado pela Warner Music. Viola Enluarada, a música, foi gravada com a participação de Milton Nascimento, convidado também de Réquiem, tema assinado por Milton com Valle, Ruy Guerra e Ronaldo Bastos. Da lavra dos irmãos Valle, Terra de Ninguém e Maria da Favela denunciam já em seus títulos o tom politizado das letras deste disco. A colaboração com Milton Nascimento seria repetida em Diálogo, faixa que encerra Mustang Cor de Sangue (1969), disco de virada na obra de Valle. É neste álbum que a obra de Valle começa a ganhar contorno pop e a explicitar a influência dos ritmos nordestinos, latente desde o primeiro disco do artista. É em Mustang Cor de Sangue que aparece Os Dentes Brancos do Mundo, bela música que Zélia Duncan reviveu de forma ainda mais bela em seu álbum Pelo Sabor do Gesto (2009). Na sequência, Marcos Valle (1970) enfatiza a virada pop - efeito do impacto da Tropicália na música brasileira - com as adesões do grupo Som Imaginário e dos mineiros Nelson Ângelo e Novelli. Garra (1971) aprimora a fórmula pop e representa pico de criatividade na obra do compositor. É o disco que traz Black Is Beautiful e Com Mais de 30. Na sequência, Vento Sul (1972) rompe com essa estética bem-sucedida e parte para o experimentalismo radical em viagem feita com doses de psicodelia e sons progressivos. O grupo O Terço participa deste álbum influenciado pelo jeito hippie de ser. Já em Previsão do Tempo (1973) a viagem musical, menos experimental, é feito com o grupo Azymuth. Pontuado por arranjos vocais, feitos por Valle em colaboração com Tavito, Marcos Valle (1974) encerra o ciclo do artista na Odeon. Marcos Valle, a partir daí, iria seguir outras trilhas e voltaria às paradas na primeira metade dos anos 80 com uma música menos original que seguia a cartilha pop daquela década. O renascimento artístico aconteceria somente nos anos 90. Contudo, em essência, a caixa produzida com zelo por Charles Gavin embala tudo de bom que o talentoso artista produziu em seus primeiros verões.

Luca disse...

Zélia sabe mesmo escolher repertório, alias você não vai escrever sobre o dvd Pelo sabor do gesto?

KL disse...

A melhor versão de "Os Dentes Brancos do Mundo", depois da de Marcos Valle, é a de Cyro Aguiar, lançada também em 1969.

lurian disse...

Além dos citados foi gravada em 1969 por Claudette Soares, lembrada geralmente por sua incursão na bossa-nova, mas tem discos moderníssimos, com muito samba- funk e soul e até tropicalismos.
Marcos Valle foi um daqueles a quem o Brasil ainda não reconheceu completamente e se um dia o fizer será a partir de fora.

KL disse...

Iurian,

Essa gravação de Claudette também é muito boa, melhor ainda do que a de Evinha na minha opinião. E a discografia da cantora (Phillips e Odeon), que somam cabalísticos 12 álbuns, é essencial. Como você bem falou, trafega entre a bossa e a psicodelia. Já buzinei várias vezes no ouvido de Rodrigo Faour para ele fazer isso, mas parece que ele só teria interesse na fase Phillips; porém outro conhecido produtor me disse que os da Odeon já estão em negociação. Ou seja, vamos torcer para que esse milagre aconteça.
Em relação a Marcos Valle na Odeon, trata-se de uma obra de alcance internacional, ousada, moderna e - estranhamente - desconhecida no Brasil até hoje.

KL disse...

E, com todo o respeito à opinião de Mauro sobre essa regravação de "Os Dentes Brancos do Mundo" por Zélia Duncan, para mim é exatamente igual a tudo o que ela faz: sem graça nenhuma.

André Queiroz disse...

Um dos melhores relançamentos de 2011 ao lado dos boxes do Ed Lincoln e Zimbo Trio.NOTA 10!!!!

André Queiroz disse...

Torço para que a EMI lance outros boxes de artistas de seu catalogo como João Nogueira,Roberto Ribeiro, Sueli Costa, Paulo Cesar Pinheiro, Zé Rodrix, Taiguara, Milton Banana, Pery Ribeiro e que tambem fizesse uma série nos mesmos moldes da Odeon 100 anos com titulos do Som 3,Victor Assis Brasil Quinteto, Tania Maria, Lyrio Panicalli, Maestro Nelsinho, Maestro Gaya, Cipó, Formula 7,Os Tincoãs, Conjunto Nosso Samba, Dory Caymmi, Fatima Guedes,etc...

Abs
André Queiroz

André Queiroz disse...

Espero que a EMI lance outros boxes de artistas de seu catalogo como João Nogueira, Roberto Ribeiro, Taiguara, Zé Rodrix, Sueli Costa, Paulo Cesar Pinheiro,Milton Banana, Pery Ribeiro e uma série nos moldes da Odeon 100 anos com titulos de Som Três,Victor Assis Brasil Quinteto, Maestro Nelsinho, Lyrio Panicalli, Maestro Gaya, Dory Caymmi, Fatima Guedes, Claudia, Raul de Barros e outras jóias.