Título: Bala na Agulha - Reflexões de Boteco, Pastéis de Memória e Outras Frituras
Autor: Zeca Baleiro
Editora: Ponto de Bala
Cotação: * * * *
Como compositor e cronista, Zeca Baleiro costuma ter o que dizer. E geralmente o diz com uso recorrente (e por vezes abusivo) de trocadilhos e jogos de palavras. Bala na Agulha - o livro ora lançado pelo artista maranhense por sua editora Ponto de Bala - reúne 42 textos publicados originalmente no site oficial do compositor de Lenha. São reflexões ácidas e lúcidas sobre o comportamento humano e sobre o universo musical, alocadas na seção virtual que empresta seu nome ao livro. Com texto invariavelmente fluente, Baleiro discorre tanto sobre um disco seresteiro do cantor Lúcio Alves (1927 - 1993) - Serestas, editado em 1957, um ano antes da revolução da Bossa Nova anunciada, entre outros sons, pelo canto macio de Alves - como sobre a importância de Hervé Cordovil (1914 - 1979), subestimado compositor mineiro, parceiro de Adoniran Barbosa (1910 - 1982) e Luiz Gonzaga (1912 - 1989) em Prova de Carinho e A Vida do Viajante, respectivamente. A fluência dá aos textos um saboroso tom coloquial de conversa de bar enquanto o ponto de vista do escritor se revela quase sempre original. Com sua visão crítica da música brasileira, Baleiro defende na crônica Tropicalismo ou Morte que a farra antropofágica de Caetano Veloso e Gilberto Gil já acontecia de algum modo desde os tempos imperiais das modinhas. Mas nada é dito ou defendido com sisudez ou com postura acadêmica. Ao contrário, os textos soam leves e, por isso mesmo, prendem a atenção. Uns são escritos com aguçada sensibilidade, caso de Dylan e Waldick, em que Baleiro relata sua emoção ao assistir em Fortaleza (CE), em novembro de 2006, ao show de Waldick Soriano (1933 - 2008) que gerou o primeiro e único DVD do cantor. A mesma emoção que teve ao ver Bob Dylan em cena, num vilarejo ao Norte de Portugal. Já em O Poeta João Baleiro discorre, comovido e comovente, sobre seu conterrâneo João do Vale (1934 - 1996), compositor que amargou dias difíceis - tal qual um carcará - até ser entronizado, já morto, na galeria dos nobres da música brasileira. Ora provocador, como quando defende com certa razão no texto Poesia Versus Canção que o verso "Em retalhos de cetim eu dormi o ano inteiro" (Benito di Paula em Retalhos de Cetim) poderia ser de Manuel Bandeira (1886 - 1968), ora lúcido, como quando discorre sobre o prazo de validade da MPB na crônica MPB e Rock, Baleiro se revela no livro um astuto observador da música e do mundo. Ao fim do livro, o cronista destila puro sarcasmo e dispara sua metralhadora cheia de balas em definições alocadas no apêndice intitulado Bestiário Pós-Moderno. Crítico, por exemplo, é alguém "capaz de resenhar discos de música sem que saiba assoviar Atirei o Pau no Gato afinadamente". É, Zeca Baleiro tem o que dizer...
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Como compositor e cronista, Zeca Baleiro costuma ter o que dizer. E geralmente o diz com uso recorrente (e por vezes abusivo) de trocadilhos e jogos de palavras. Bala na Agulha - o livro ora lançado pelo artista maranhense por sua editora Ponto de Bala - reúne 42 textos publicados originalmente no site oficial do compositor de Lenha. São reflexões ácidas e lúcidas sobre o comportamento humano e sobre o universo musical, alocadas na seção virtual que empresta seu nome ao livro. Com texto invariavelmente fluente, Baleiro discorre tanto sobre um disco seresteiro do cantor Lúcio Alves (1927 - 1993) - Serestas, editado em 1957, um ano antes da revolução da Bossa Nova anunciada, entre outros sons, pelo canto macio de Alves - como sobre a importância de Hervé Cordovil (1914 - 1979), subestimado compositor mineiro, parceiro de Adoniran Barbosa (1910 - 1982) e Luiz Gonzaga (1912 - 1989) em Prova de Carinho e A Vida do Viajante, respectivamente. A fluência dá aos textos um saboroso tom coloquial de conversa de bar enquanto o ponto de vista do escritor se revela quase sempre original. Com sua visão crítica da música brasileira, Baleiro defende na crônica Tropicalismo ou Morte que a farra antropofágica de Caetano Veloso e Gilberto Gil já acontecia de algum modo desde os tempos imperiais das modinhas. Mas nada é dito ou defendido com sisudez ou com postura acadêmica. Ao contrário, os textos soam leves e, por isso mesmo, prendem a atenção. Uns são escritos com aguçada sensibilidade, caso de Dylan e Waldick, em que Baleiro relata sua emoção ao assistir em Fortaleza (CE), em novembro de 2006, ao show de Waldick Soriano (1933 - 2008) que gerou o primeiro e único DVD do cantor. A mesma emoção que teve ao ver Bob Dylan em cena, num vilarejo ao Norte de Portugal. Já em O Poeta João Baleiro discorre, comovido e comovente, sobre seu conterrâneo João do Vale (1934 - 1996), compositor que amargou dias difíceis - tal qual um carcará - até ser entronizado, já morto, na galeria dos nobres da música brasileira. Ora provocador, como quando defende com certa razão no texto Poesia Versus Canção que o verso "Em retalhos de cetim eu dormi o ano inteiro" (Benito di Paula em Retalhos de Cetim) poderia ser de Manuel Bandeira (1886 - 1968), ora lúcido, como quando discorre sobre o prazo de validade da MPB na crônica MPB e Rock, Baleiro se revela no livro um astuto observador da música e do mundo. Ao fim do livro, o cronista destila puro sarcasmo e dispara sua metralhadora cheia de balas em definições alocadas no apêndice intitulado Bestiário Pós-Moderno. Crítico, por exemplo, é alguém "capaz de resenhar discos de música sem que saiba assoviar Atirei o Pau no Gato afinadamente". É, Zeca Baleiro tem o que dizer...
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